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Crônicas da Surdez / Relatos de Pessoas com Deficiência Auditiva

Casal SURDO e OUVINTE: o que magoa a pessoa surda

Ser um casal significa estar sujeito a erros e acertos. A gente sabe que certas atitudes do nosso parceiro ou parceira podem magoar muito.

Quando temos deficiência auditiva, atitudes e frases específicas têm o poder de magoar muito mais. Às vezes, a pessoa não teve a intenção de ser cruel: ela pode ter falado ou feito algo por pura ignorância sobre o assunto; em outras, as atitudes são claramente insultantes; e em outras ainda, o insulto é bem sutil, mas está ali, presente.

Como você já deve estar cansado de saber, e mesmo assim eu não me canso de repetir, tudo é comunicação.

Se alguém o magoa ou ofende, você precisa ser capaz de explicar isso no momento em que o insulto ou a atitude desnecessária acontece.

Tanto casais em que os dois são surdos como casais em que um é surdo e o outro, ouvinte, vivenciam esses desafios todos os dias.

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As ofensas clássicas

Algumas atitudes são percebidas pelas pessoas com deficiência auditiva como ofensas clássicas.

Por exemplo, quando a gente não escuta o que o parceiro diz, pede para ele repetir e recebe como resposta a frase: “Não é nada, deixa pra lá”.

Quando nosso parceiro ouvinte diz isso, sentimos que não merecemos que ele faça o esforço de repetir uma mísera frase, e isso dói, e dói bastante.

Quando alguém diz que temos audição seletiva, isso também é ofensivo.

Nenhuma pessoa surda escolhe o que ou quando vai ouvir. Pelo contrário, nós ficamos felizes quando ouvimos, e ainda mais quando conseguimos entender o que ouvimos. 

Piadinhas indicadas pela frase “Ah, você só ouve o que quer” podem até ser comuns entre certos casais, e alguns surdos brincam dizendo que desligam os aparelhos e escutam só o que querem mesmo.

Mas essa frase pode soar ofensiva dependendo da intimidade do casal e do contexto em que for proferida. Ela pode ser aceita como brincadeira em determinado momento, mas não o ser quando dita em forma de reclamação durante uma discussão, por exemplo, se o outro não ouviu ou não entendeu o que foi dito. 

Além disso, não diga que seu parceiro ou parceira é distraído porque não escutou algo.

Não ignoramos as pessoas por vontade própria. Esse tipo de comentário magoa porque o objetivo é nos fazer sentir uma culpa que não é nossa. Não escolhemos a surdez. Não escolhemos não ouvir e não entender.

É claro que temos que fazer a nossa parte para manter a comunicação, mas, mesmo assim, não merecemos tratamentos como esses, que constrangem e magoam. É altamente ofensivo e desnecessário fazer comentários repetitivos a respeito do que nossa deficiência nos causa de prejuízo quando não temos meios de mudá-la.

Não grite ou fale de modo grosseiro quando precisar repetir algo

Preste atenção: para repetir algo que não entendemos, basta falar mais alto e articular melhor os lábios enquanto fala virado de frente para nós. Não há necessidade de berrar.

Não fique perguntando se seu parceiro está usando os aparelhos auditivos quando você sabe que ele está, ou questionando se os aparelhos estão ligados, com pilha, ou funcionando bem. Essas perguntas corroem a relação.

Quando pessoas desconhecidas falam coisas como essas, o impacto é diferente porque elas não sabem nada sobre nós. Porém, quando isso parte de pessoas próximas, como nossos cônjuges, é diferente.

Se você divide a vida com alguém que ouve mal ou que não ouve, caso estejam juntos há algum tempo, você já sabe o que magoa e que não o magoa o outro. Se você sabe que magoa, não faça.

Pergunte ao seu parceiro se ele está usando aparelhos somente quando essa informação for importante e necessária, como, por exemplo, antes de entrar no mar ou na piscina; antes de ligar uma furadeira ou fazer algum barulho muito alto; antes de dormir, caso ele vá ficar sozinho em casa com as crianças etc.

Não se esqueça

Sempre converse com seu parceiro sobre o que o agrada, desagrada ou ofende no que diz respeito à sua deficiência auditiva. 

Aparência e vergonha

A surdez mexe muito com nossa confiança e autoestima. Começar a usar aparelhos auditivos não é tão simples quanto começar a usar óculos.

Comentários negativos sobre a nossa voz e seu volume, ou sobre a aparência e o tamanho dos nossos aparelhos auditivos, podem em segundos destruir a confiança que lutamos meses ou até anos para conseguir. Logo, não os faça. 

Se você não tem nada de construtivo a acrescentar, é melhor não falar.

Seu parceiro surdo pode estar ainda na batalha contra a vergonha e precisando de incentivo e de elogios, de alguém que lhe transmita segurança e apoio. Críticas e deboches nesse momento tão frágil definitivamente não são bem-vindos.

Por isso, não jogue um balde de água fria nele dizendo que sua voz soa estranha ou feia. Não peça para ele tentar falar “direito” ou “melhor” quando forem sair com outras pessoas.

Ajude com a pronúncia das palavras, elogie seus avanços e o acompanhe na fonoterapia se tiver a oportunidade. Para quem estava acostumado ao silêncio, voltar a ouvir melhor a própria voz pode ser estranho, e uma pessoa com deficiência auditiva não tem controle total sobre a própria voz como uma pessoa ouvinte tem.

Seja um fator de incentivo, não um fator de estresse

É devastador quando estamos conversando em meio a um grupo de pessoas e nosso parceiro nos interrompe, dizendo na frente de todos: “Fale baixo, você está gritando!”.

Vocês podem combinar entre si um sinal ou gesto, uma espécie de código, para esse tipo de situação. Pode ser uma piscadela ou um sinal discreto com a mão apontando para baixo. Dessa forma, você consegue avisar seu parceiro sem constrangê-lo na frente de outras pessoas.

Quaisquer críticas construtivas que queira fazer, saiba que você tem todo o direito de fazê-las. Só lembre de fazê-las em um momento a sós, nunca na frente de estranhos, amigos ou familiares. 

Subestimar e fazer suposições

Subestimar e fazer suposições sobre o que uma pessoa surda consegue ou não fazer é uma forma de capacitismo.

Ao dizer “Deixa que eu faço, você não vai conseguir”, você sequer está dando uma chance para que a pessoa tente. Ao dizer coisas que muitas vezes têm o objetivo de ajudar, como “É só você superar isso, podia ser muito pior, você podia ser cego”, você menospreza os esforços, dores e desafios do outro.

Ninguém supera uma deficiência, mas se adapta a ela da melhor forma possível.

O relacionamento de vocês precisa ser um refúgio

Seu parceiro surdo precisa sentir que você leva a sério o cuidado com as frases clichês e capacitistas sobre deficiência e superação.

Substitua falas como as elencadas por apoio verdadeiro, seja elogiando o esforço dele pelo uso constante dos aparelhos, seja elogiando-o por outras coisas que nada têm a ver com a surdez.

Faça o exercício constante de enxergar a pessoa antes de qualquer coisa. A deficiência não pode e não deve vir primeiro.

Comparações

Evite comparações com outras pessoas e outras deficiências em tom de cobrança. Dizer “Uso óculos e superei, me adaptei às minhas dificuldades” pode não só magoar como parecer uma chacota da nossa condição.

Cada um tem suas dificuldades, mas amenizar a deficiência do outro em nada ajuda, pelo contrário: faz a pessoa sentir como se estivesse exagerando sua surdez ou sendo tratada como coitada. 

Levando tudo isso em conta, seu relacionamento será muito mais tranquilo. Quando estiver em dúvida se algo poderá magoar ou ofender o seu parceiro, converse com ele, pergunte e não tenha medo de pedir desculpas.

Pedir perdão e perdoar é crescer, abandonar mágoas e dores e se fortalecer. Isso aproxima o casal e incrementa a confiança. Vamos refletir mais antes de falar? 🙂

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About Author

Paula Pfeifer é uma surda que ouve com dois implantes cocleares. Ela é autora dos livros Crônicas da Surdez, Novas Crônicas da Surdez e Saia do Armário da Surdez e lidera a maior comunidade digital do Brasil de pessoas com perda auditiva que são usuárias de próteses auditivas.

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