Como lidar com a deficiência auditiva? Só quem já enfrentou esse diagnóstico sabe o quanto é difícil e como o aspecto emocional tem um peso imenso na experiência toda.
Quando paro para pensar em como consegui me manter de cabeça erguida e seguir em frente ao longo de 31 anos perdendo toda a minha audição, o papel do emocional fica ainda maior para mim.
Conselhos para lidar com os perrengues da surdez
O aspecto emocional
No início, meu emocional me derrubou. Passei a me enxergar como uma coitada, uma vítima – não bastassem todas as mazelas e complicações que enfrentava na minha vida familiar, agora mais essa.
Fiz o que pude para fugir do assunto, para esconder minha surdez, para odiar meus aparelhos auditivos, para fingir para mim mesma e para todos ao meu redor que estava tudo bem.
Na época, foi o jeito que encontrei de me proteger, me poupar e quem sabe juntar os meus cacos para ver onde aquilo tudo me levaria.
Não há escapatória
Só que não há escapatória: o amadurecimento chega, mais cedo ou mais tarde. No meu caso, ele chegou com sucessivos acontecimentos que me levaram a pensar a respeito do implante coclear.
Afinal, o que eu ainda tinha para perder? Vivia no fundo do poço da surdez aos 31 anos, presa no silêncio, presa dentro de mim mesma, tendo como companhia apenas o zumbido constante e minha capacidade de ler os lábios das pessoas.
Ao constatar isso, meu emocional fez o “shift” (a mudança) que tanto precisava, e que teria talvez feito a diferença na minha vida caso tivesse acontecido muitos anos antes. No fim das contas, só me resta acreditar que as coisas acontecem exatamente quando precisam acontecer, e foi por isso que enfrentei 31 anos de deficiência auditiva com toda a minha teimosia e de mãos atadas por livre e espontânea vontade.
Conselhos para lidar com a deficiência auditiva
Hoje, dedico minha vida a tentar acelerar esse processo para cada um de vocês que chega aqui no Crônicas da Surdez procurando ajuda, porque a vida passa rápido demais e não temos tempo a perder.
Leiam os depoimentos incríveis de membros do nosso grupo a respeito disso! 🙂
Eliane
Todos nós sabemos que não é fácil. Tive no decorrer da minha vida muitas vezes que fazer terapia para curar depressão. Me achava sempre a pior de todas. Tinha vergonha, tinha medo que fizessem “gozações” a meu respeito, eu não sabia lidar. Após o implante coclear bilateral melhorei em todos estes aspectos. Amadureci….
Juliana
É uma luta diária que requer resiliência. Mas não desisto de nada. Temos que superar nossos limites.
Maria
Eu preferi buscar alternativas para o equilíbrio emocional. Fiz yogaterapia pra sair da depressão, agora pratico Yoga, Tai chi Chuan e corrida. São verdadeiros remédios para o bem estar. Aprendi a ter mais controle quando o emocional balança, e ganhei mais equilíbrio físico também, adeus vertigens e tonturas. Hoje me sinto muito melhor!
Andrea
Tentando me superar dos medos que me cercaram e hoje esse medo ficou pra trás. A luta é constante requer esforço e determinação pois hoje eu revivo e vivo pois a luta não é fácil. Mas chegamos lá.
Fernanda
Passei a focar nas coisas as quais a deficiência não me limita. Parece clichê. Mas é muito mais eficaz encarar os fatos do que ignorá-los. Sou surda. Como posso lidar com isso? Bom, Deus me fez surda. Mas, tenho inteligência. Procurei meios para superar e não para ficar me vitimizando pelos cantos. Fui atrás da reabilitação auditiva. Estudei e passei num concurso público. Hoje tenho casa própria e estou numa universidade federal. Se consegui chegar até aqui, posso muito mais. E vou além, sim!
Deus foi bondoso para comigo. Deu-me tudo o que precisava para acreditar de que sou capaz. Quando bate a bad eu lembro de tudo o que já consegui e jamais me permito estagnar. Se bate o cansaço no meio do caminho – porque às vezes, cansa – desacelero nas minhas exigências pessoais, apenas. Reflito. Respiro fundo e sigo o fluxo. Outra coisa importante: nunca espere nada de ninguém. Tome a iniciativa. Sobretudo, profissionalmente. Andei um tempo desanimada no trabalho.
Nem sempre é o trabalho em si que desgasta. Algumas vezes, é a falta de Fé em si mesma. A deficiência mesmo com os AASI’S duplica o stress. Era um esforço demasiado para mim no atendimento ao público. Tratei de explorar outras atividades que me trouxessem aprendizado e produtividade, ao invés de ficar reclamando.
Deu super certo e hoje em dia sou muito elogiada no trabalho. Aprendi mais com a minha deficiência sobre amor-próprio do que qualquer livro de autoajuda ou terapeuta. Tudo muda quando muda dentro da gente. Se o pensamento muda, as atitudes idem. Descobri que o único obstáculo que eu encontrava no caminho era eu mesma. Então, tomei a decisão de pensar mais positivo e sair da zona de conforto.
Adelaide
No meu caso, agradecendo a Deus por mais um dia! Por minha deficiência ter acontecido por um atropelamento, e ter ficado com outras sequelas, e ter lutado também com uma depressão, oro todos dias agradecendo por estar viva, e por ter uma família que me ajuda muito emocionalmente. Não é fácil, mas poderia ter sido pior! Isto me consola!!!
Viviane
Como todos sabemos,não é fácil, mexe profundamente com a gente,com nossos relacionamentos, a autoestima, a tendência é ser uma pessoa tímida. Sei lá,mexe com a gente e o nosso lado financeiro também, mexe ou muda porque estamos sempre precisando de algo: AASI no conserto, as pilhas,os moldes, os acessórios, o dinheiro ajuda a amenizar a nossa deficiência. Mas acho que o lance é não deixar a tristeza ficar por muito tempo, é viver um momento triste mas não permanecer o tempo todo triste. E tendo fé em Deus e seguindo em frente. Esse grupo tem sido o meu psicólogo, eu choro,eu fico feliz com as histórias,com os progressos de cada um. To aprendendo muito!
Rute
Quando recebi o diagnóstico pelo Otorrino há sete anos, entrei em crise de pânico, chorei muito, fiquei muito abalada emocionalmente, pratiquei o vitimismo, culpei outras pessoas e enfim, percebi que o problema é meu e a responsabilidade para resolvê-lo também é minha. Ao pensar dessa maneira atraí pessoas que se dispuseram a me ajudar.
Cássia
Demorei para aceitar. Pensava que conseguiria viver bem como sempre vivia. Até que começaram as desavenças em casa e as piadas no trabalho pelo fato de eu não ouvir o que me falavam. Ficava muito magoada com a falta de paciência das pessoas. Não fazia ideia de como os aparelhos auditivos seriam essenciais. Ando meio constrangida no trabalho. Está sendo muito difícil ficar na sala de aula com 40 adolescentes. Eu não tenho mais aquela atenção de antes. Inúmeras situações desagradáveis acontecem na sala de aula e me sinto mal.
Silvane
Meu emocional melhorou muito, desde o dia que meu filho me falou: “Mãe, te aceita , aceita tua deficiência, vai facilitar tua vida!” Desde então passei a aceitar e assumir . Hoje está bem melhor minha vida, já chego nos lugares dizendo: “sou surda, fale olhando pra mim e bem devagar” . A maior parte das pessoas fazem exatamente o que pedi !
Maria Esther
Aceitação e resilêincia. E tocar em frente.
Clarice
Sou Psicóloga e usuária de aparelhos auditivos. Resolvi estudar o assunto, fazer atividades para ajudar as pessoas a falar sobre o luto da perda auditiva e enfrentar. Basicamente, temos coisas comuns e outras específicas
Tatiane
Tempo tempo e tempo
Cristiane
Para os pais, acho que é uma tarefa pra vida toda.
Catiane
Nada fácil. Ter uma filha que não me escuta se eu não falar de frente, que não adianta gritar quando esqueço de levar a toalha pro banheiro, de ver a filha desistir de alguma conversa quando há um grupinho porque não dá pra manter um diálogo com muitas pessoas falando, já que a atenção deve ser de um por vez, ter a casa silenciosa porque a opção legenda é 100% utilizada, reverter a impressão equivocada de que sua filha é metida (porque, assim, não é que ela ignora, ela só não ouviu mesmo), e por último e o pior de todos, é seu filho estar na adolescência, e como todo adolescente, ela quer ser aceita no grupo dela, mas tem vergonha de ser deficiente e por usar aparelho.
Não adianta as pessoas tentarem minimizar a sua dor ou o fardo que você carrega, só quem passa é quem sabe o quanto isso aflige. O trabalho para empoderar minha pequena é constante, o diálogo e o discurso positivo para situações que não podemos contornar, está sempre presente.
Mas, não é fácil. Porém, seguiremos juntas para tentar fazer desse país um lugar melhor para todos e que todos sejam respeitados igualmente, independentemente de limitações.
Virginia
Até certo ponto, encarei com naturalidade, mas com o passar da vida, com experiencias não muito exitosas, com pessoas sem sentimentos, com a perda progressiva… confesso que acabei passando por uma fase muito difícil. Dentro da realidade em que sempre vivi, não era admissível deprimir-me e assim, “fazer-me” forte influenciou muito em minha personalidade. Lá no cantinho do meu ser ainda sofro por isso. Confesso… Nunca disse isso para ninguém.
Samira
Não é fácil, tira autonomia. Mas necessário superar as dificuldades sem se fazer de vítima. Passei algum tempo sem enfrentar o problema, sou combativa e fazendo o que é possível para ter melhor qualidade de vida. Avante sempre e sem ser a coitadinha … Minha atitude faz com que as pessoas das minhas relações me respeitem e acolham as minhas necessidades específicas por conta da perda .
Raquel
Descobri bem cedo que teria perda progressiva. Sinceramente eu nunca vi como um problema, só tinha uma certeza que não ia permitir passar por situações constrangedoras por vergonha em aceitar minha condição. Justamente por ver minha mãe que por muita vergonha, acabava por entrar em situações muito constrangedoras.
Mesmo quando minha perda era leve, sempre quando não compreendia pedia para repetir e explicava que tinha uma perda auditiva. Com o passar do tempo, estou com perda severa e continuo a não ter vergonha e sempre que não compreendo algo, explico que sou surda e preciso que falem olhando para mim.
Penso que quando aceitamos nossas limitações, sejam quais forem, elas não vão sumir, mas ficará muito melhor o próximo entender. E tem mais, meu trabalho causa espanto nas pessoas eu ser usuária de aparelho auditivo. Por isso resolvi deixar o cabelo crescer e prender para que ficasse mais ainda em evidência. Acredito que assim quebro barreiras e preconceitos, prova disso são parentes e mesmo surdos que vem perguntar sobre o AASI e como usar.
Mima
Ufa, a pior parte é quando a ficha cai, nossa eu estou ficando surda!! É tristeza, angústia, um misto de sentimentos que nos leva ao isolamento, mas também chega o momento de aceitação e passamos a entender que o tempo não volta e os nossos ouvidos serão desse jeito sempre, temos que aprender a lidar com isso. A palavra certa é aceitação.
Grupo SURDOS QUE OUVEM
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5 Comments
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05/05/2022 at 5:45 pm[…] Deficiência Auditiva e Processamento Auditivo […]
Aparelho auditivo discreto e invisível: minha opinião
23/09/2021 at 3:38 pm[…] conhece minha história sabe que fui uma adolescente que escondeu a própria deficiência auditiva até onde pôde. Que não quis usar aparelho auditivo porque sentia vergonha; que perdia tempo e […]
Márcia
17/07/2018 at 2:30 pmTenho 51 anos e uso AASI desde 15 anos, onde descobri os sons (vento, chuva, canto dos pássaros, etc) enfim, foram etapas e que fui vencendo aos poucos, na época já morava no interior de Mato Grosso, não tinha acesso à terapia fonoaudiológica, utilizei a leitura da expressão labial para compreender as falas e assim fui me desafiando e hoje levo uma vida normal dentro dos meus limites.
celia
04/07/2018 at 9:36 amAos 50 anos depois de relutar em aceitar minha surdez finalmente assumi, procuro agir de forma natural usando aparelhos pois meu caso é bilateral, único incomodo e que as pessoas nem todas é claro não agem naturalmente quando percebem que usamaos aparelho falam alto, não e preciso pois o aparelho ja regula o volume da voz.
Mas do restante eu só agradeço por Deus ter me dado condições de saúde em sobreviver e vou procurando viver naturalmente todos os dias de minha vida. Ja faz 9 anos que uso e não sei viver sem eles. Obrigada Deus acima de tudo e a ciencia que a cada dias procura ajudar nós seres humanos pobres mortais, com grandes defeitos de qualidade.Viver e ser feliz principalmnte ajudando ao proximo .
Ana Lucia Santiago
02/07/2018 at 11:00 pmCada experiência citada uma história !!!@