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Muitas pessoas com surdez acreditam que vão ingressar no mercado de trabalho apenas através de cotas para PCDs.

A surdez é um fator que nos causa preocupação no ambiente profissional. Afinal, quem já não ficou com receio de entender algo errado? Ou fingiu que escutou e sorriu? Ou solicitou algum recurso de acessibilidade e não foi atendido?Com certeza, muitos que estão lendo este post.

Como agir nestas situações? É claro que não vamos deixar de trabalhar por causa da surdez, afinal, ser surdo não é ser inválido para o trabalho. Trabalhamos sim, e muito! 🙂

*Post escrito por Danielle Kraus Machado

Entrevista de emprego, o que fazer?

O seu maior foco na entrevista tem que ser a vaga, a profissão que você almeja! A surdez é um detalhe nesse momento. Lembre-se de que é um emprego, e não uma consulta com seu otorrino. Caso você fique apenas falando sobre isso, pode causar uma impressão errada no recrutador.

Mostre-se para a empresa pela sua capacidade, e não como só uma pessoa para cumprir uma cota – precisamos mostrar nossas habilidades para quebrar esse estereótipo. Só tenha cuidado para não levar ao outro extremo, que é de esconder a surdez como se ela não interferisse em nada na sua vida, porque pode ser pior quando as dificuldades aparecerem.

Quem não sabe sobre a sua surdez não terá nenhum cuidado quanto à leitura labial, nem terá a preocupação de falar devagar ou de providenciar legendas.

Qualifique-se, pois o seu conhecimento é a sua melhor arma! Estude, faça cursos técnicos, faculdade, uma pós, o que desejar e conseguir! O mundo aí fora nos subestima as pessoas com deficiência, geralmente oferecendo vagas somente para cargos de baixa complexidade. Alguns até se espantam quando recebem uma pessoa com deficiência que possui mestrado ou doutorado.

As universidades públicas possuem políticas de vagas para pessoas com deficiência, e existem muitos cursos técnicos gratuitos.

Pesquise, e se morar onde não tem presencial ou a rotina for muito corrida, faça à distância! Mas não deixe de se qualificar. Não dá para querer fugir dessa parte: sem estudar ou adquirir experiência, cota nenhuma vai fazer milagre na sua carreira.

Use a tecnologia a seu favor

Procure as possibilidades de reabilitação auditiva. Afinal, quem se comunica e ouve melhor tem mais chances no mercado de trabalho. Em um mundo ideal, todos teriam oportunidades iguais. O mundo real é extremamente competitivo e temos que “rebolar” pra superar os outros candidatos.

Viver num mar de milhares de “Quê? Hãn? Como?” o tempo inteiro pode acabar te prejudicando nessa competição. Temos aparelhos auditivos pelo SUS e implante coclear pelo SUS à disposição. 

Em caso de videoconferências, inclusive para entrevistas, use e abuse dos aplicativos que transcrevem o que é falado, como o Transcriber (Android), Listen All (iOS) ou o WebCaptioner (Para computador). E o Skype já tem opção de legendas automáticas, em diversos idiomas!

Converse com seu fonoaudiólogo ou verifique o site da marca da sua prótese auditiva para conhecer os acessórios que facilitam fazer ligações telefônicas, e pesquise pelos telefones com bluetooth. 

Em vez de passar perrengue com um telefone fixo, talvez você possa usar um celular corporativo e um acessório que transmite o som da ligação para os seus dois aparelhos! Facilita demais a vida. E alguns destes acessórios também tem a função de microfone, em que você deixa o acessório com um palestrante, por exemplo, e tudo o que ele fala é transmitido direto para os aparelhos auditivos.

Tecnologia existe, temos é que conhecê-las, tentar adquirir e usá-las a nosso favor!

Quando você usa seus aparelhos, implantes e faz treinamento auditivo para melhorar cada vez mais os resultados auditivos, você abre muitas oportunidades na vida profissional.

Você não é obrigado a falar no telefone e nem a entender tudo o que falam (até porque nem ouvintes escutam 100%), mas uma boa reabilitação auditiva é sim um diferencial enorme para o seu dia a dia no seu emprego. 

Demonstre interesse em ouvir

Demonstre seu interesse em ouvir as pessoas, peça para repetir, peça para facilitar a leitura labial, e peça para escrever, se preciso for.

Só não ignore e finja que entendeu, tenha cuidado com essas situações! É melhor pedir para repetir 20 vezes, do que deixar de fazer algo importante que o chefe pediu, porque você não escutou e fingiu que escutou.

É péssimo no ambiente de trabalho ser uma pessoa com surdez que não faz esforço nenhum para entender quando estão conversando com ela. E sim, tem gente que adota essa postura e acha que está correto.

O preconceito de cada dia…

A discriminação no trabalho pode ocorrer de diversas formas: rejeitar o candidato só por causa da deficiência, colocar apelidos pejorativos, fazer brincadeiras com a surdez do empregado, e até duvidar da capacidade dele de realizar uma tarefa por causa da deficiência, mesmo que uma coisa não interfira em nada na outra.

Essas atitudes são capacitistas. Até mesmo o não fornecimento de acessibilidade no trabalho configura discriminação, pois a empresa não está oferecendo igualdade de oportunidades.

Não aceite essas situações no trabalho. Caso aconteça, deixe claro para a pessoa que você não se sente confortável e nem respeitado com essas atitudes. Se necessário, converse com o setor de RH e faça uma reclamação.

 A Lei Brasileira de Inclusão tem o capítulo VI dedicado só ao trabalho, vale a pena ler! 

“Art. 34 § 1º As pessoas jurídicas de direito público, privado ou de qualquer natureza são obrigadas a garantir ambientes de trabalho acessíveis e inclusivos.”. 

Então você deve conversar com seu empregador ou setor de RH se estiver necessitando de adaptações no trabalho, sejam elas legendas, telefone adaptado ou não falar no telefone. 

Como funcionam as cotas?

A história da legislação sobre invalidez, reabilitação e acidentes de trabalho começou lá nos anos 40, com a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho e o Decreto 7.036/1994.

A industrialização intensa do país resultou em vários acidentes, e as sequelas às vezes eram graves o bastante e resultavam em uma deficiência. Foi a semente para as políticas de inclusão das pessoas com deficiência no trabalho. Após a Constituição de 1988 veio a “Lei de Cotas”, que é a Lei 8213/1991, e vigora até hoje. 

As cotas são quantidades mínimas de pessoas com deficiência que as empresas precisam ter em seu quadro de empregados. Considerando que no mundo em que vivemos existem milhões de pessoas com deficiência, nada mais esperado do que essas pessoas serem vistas também no trabalho, não é?

Infelizmente ainda precisamos de uma lei para algo tão básico. Mas lembre-se de que nenhuma pessoa com deficiência é obrigada a procurar somente vagas em cotas!

Você pode se candidatar a qualquer vaga, se for o que deseja e tiver a qualificação necessária! 

A quantidade prevista é de acordo com a quantidade de empregados:

Lei 8.213/1991 – Lei de Cotas:

“Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção:

I – até 200 empregados……………………………………………………………………………….2%;

II – de 201 a 500…………………………………………………………………………………………3%;

III – de 501 a 1.000……………………………………………………………………………………..4%;

IV – de 1.001 em diante. ……………………………………………………………………………..5%.” 

Para este cálculo se considera o número total de empregados da empresa (todos os estabelecimentos). Pode ser que em alguma área operacional ou de risco não tenha nenhuma pessoa com deficiência, mas essa falta é compensada no setor financeiro, por exemplo. Em caso de o resultado da porcentagem ser fração, deve-se arredondar para cima. (Instrução Normativa MTE nº 98/2012).

Para ser considerado como pessoa com deficiência auditiva por lei é necessária perda auditiva bilateral de 41 dB ou mais, veja aqui os detalhes. Infelizmente em algumas empresas não consideram a média das frequências, e sim a interpretação literal de 41 dB em todas as frequências, mas em concursos públicos as cotas são pela média.

Quem está na cota pode ser demitido?

Sim, pode ser demitido! A cota não é certificado de estabilidade.

Para que a pessoa com deficiência que esteja na cota seja demitida, só é necessário que a empresa contrate outra pessoa, assim, mantendo a cota mínima. Mas se a empresa tem empregados com deficiência além da cota, não há impedimento nenhum para demissões. 

“§ 1o  A dispensa de pessoa com deficiência ou de beneficiário reabilitado da Previdência Social ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias e a dispensa imotivada em contrato por prazo indeterminado somente poderão ocorrer após a contratação de outro trabalhador com deficiência ou beneficiário reabilitado da Previdência Social. “

Portanto, procure vagas que sejam do seu interesse e qualificação, se por acaso a empresa estiver precisando preencher a cota, então vão unir o útil ao agradável. 

Seu comportamento influencia como os outros te tratam

Você se trata como um coitado por causa da surdez? É assim que os outros também aprenderão a te tratar. 

Se você vive usando a surdez como desculpas para não fazer as coisas, os outros vão achar você cada vez menos capaz. Muitas pessoas nunca conviveram com um surdo no trabalho, então, elas não sabem o que fazer e vão aprender a lidar com a surdez vendo o modo como você lida. Vão se espelhar em você! 

Por isso, trabalhe a sua postura perante a sua surdez. Evite comentários como “Não posso fazer isso porque sou surdo”, e pense mais em “Vamos fazer umas adaptações? Que tal usar esse site para fazer as legendas nesta videoconferência? Assim tento participar!”.

Com certeza isso fará a diferença na sua vida profissional, em vez de uma pessoa que dá desculpas, você será visto como a pessoa que acha soluções! Mesmo que não consiga fazer tudo, afinal temos sim os nossos limites, pelo menos demonstre interesse em procurar uma solução e tentar. 

A surdez não deve ser um entrave na sua carreira, não fique pensando só em quais profissões são mais fáceis para surdos, e sim procure meios de conciliar a surdez com a sua vida no trabalho que deseja.

No nosso grupo do Facebook tem gente de todas as profissões, tem médico cirurgião surdo, tem dançarino surdo, atriz surda, e muito mais! 

LEIA MAIS:

Grupo SURDOS QUE OUVEM

Você se sente sozinho? Solitário? Não tem com quem conversar sobre a sua surdez? Gostaria de tirar mil dúvidas sobre os seus aparelhos auditivos? Gostaria de conversar com pessoas que já usam implante coclear há bastante tempo? Precisa de indicação de otorrino especializado em surdez e fonoaudiólogo de confiança?

Somos 22.000 pessoas com algum grau de deficiência auditiva no Grupo SURDOS QUE OUVEM. Para ganhar acesso a ele, basta se tornar Apoiador Mensal do Crônicas da Surdez a partir de R$5.







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Neste link você encontra os seguintes livros:

  1. Crônicas da Surdez: Aparelhos Auditivos
  2. Crônicas da Surdez: Implante Coclear
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About Author

Paula Pfeifer é uma surda que ouve com dois implantes cocleares. Ela é autora dos livros Crônicas da Surdez, Novas Crônicas da Surdez e Saia do Armário da Surdez e lidera a maior comunidade digital do Brasil de pessoas com perda auditiva que são usuárias de próteses auditivas.

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