“Olá Paula!!
Meu nome é Renata Elis Schneider, tenho 16 anos, sou de Santo Cristo-RS. Nasci no dia 11/03/1999 com 24 semanas de gestação pesando 850g e medindo 33cm. Quando internada na UTI cheguei a pesar 650 gramas (última pesagem autorizada) ou talvez até menos, mas pela gravidade de minha situação, o pediatra não permitia minha retirada da incubadora para saber o peso real. Tive insuficiência respiratória, displasia pulmonar, infecção generalizada, refluxo no estômago e sopro no coração.Também tive queimadura de 2º e 3º grau na coxa esquerda, devido a colocação de uma bolsa de água quente no local, e na barriga referente a um pedaço de algodão com álcool.
Fiquei na UTI por 72 dias, onde minha mãe cuidou de mim. Depois fui para casa mas, retornei devido a complicações respiratórias. Devido a esse episódio permaneci na UTI por mais 22 dias, totalizando 94 dias de permanência na UTI. Os médicos achavam que eu não resistiria. Até os 2 anos de idade, minha alimentação era a base de alimentos triturados no liquidificador.
Minha mãe percebeu que tinha algum problema de audição aos 2 anos de idade. Ela me levou aos médicos e eles falavam que não era nada, que cuidariam da minha saúde e depois resolveriam esse problema. Minha mãe continuou a me testar e eu não respondia aos comandos. Colocava o volume da televisão no máximo para poder escutar e ainda colocava minha orelha direita no local onde saía o som. Tinha uma professora da 1º série primária ao saber do meu pequeno problema, começou a falar um pouco mais alto, para que eu pudesse compreender o que estava sendo comunicado. Ela fez muito esforço e quase ficou sem voz.
Aos 7 anos, minha mãe levou-me a um especialista e foi constatado que tinha perda auditiva neuro sensorial bilateral – grau moderado na orelha direta e severo na esquerda. Com 8 anos de idade, recebi meus aparelhos auditivos, além de acompanhamento fonoaudiólogo. Foi uma alegria quando ouvi o canto dos pássaros pela primeira vez. Quando recebi os aparelhos usava eles seguidamente, não respeitava os horários para que meus ouvidos pudessem descansar. Às vezes esquecia de tirá-los e usava eles no banho de tão bem que me sentia – claro que essa é a parte trágica da história, eu não deveria tê-los molhado!
Assim como você e muitas leitoras, cresci sendo tratada como uma criança normal que tinha um probleminha de audição. Frequentei escola pública onde os professores precisavam falar num tom mais alto que o normal e mais pausado para que pudesse fazer a leitura labial – meu modo de comunicação. Sentava nas primeiras classes, ficando frente a frente com o professor. Quando os professores caminhavam pela sala, não compreendia o conteúdo, pois o meu foco de atenção estava sendo desviado do lugar. Mas isso não impedia que tirasse notas boas nas provas. Em novembro de 2014, recebi do Sistema Único de Saúde (SUS), o Sistema FM que consiste em um aparelho, sendo este acoplado aos meus aparelhos auditivos. Entrego aos professores uma espécie de microfone onde a voz captada vai direto aos meus aparelhos, o que permite ao professor caminhar pela sala.
Minha dicção está um pouco prejudicada, mas estou sendo acompanhada por fonoaudiólogos porque pronuncio as palavras do modo que as entendo – mas fico com preguiça para fazer o tema da fono! As fonoaudiólogas falam que escuto o que está sendo dito – mas tem vezes que peço para repetirem, pois estou acostumada com isso. Consegui superar todas as barreiras que a vida me impôs. Hoje sou feliz porque entendo que problemas existem na vida de todos e que com muita garra e persistência somos capazes de mover o mundo, mas às vezes me pergunto: “Porque as pessoas tem tanto preconceito em relação as pessoas com deficiência auditiva?”
Talvez porque seja novidade para elas. Quando me cumprimentam, as pessoas logo perguntam o que eu tenho ou olham diretamente aos meus parelhos auditivos. Mas, isso não me incomoda. Conheço pessoas que têm vergonha de usar os aparelhos auditivos, ou se usam colocam o cabelo para disfarçar. Aprendi a lidar com essas situações.”
6 Comments
Andrea Gavinhos
14/08/2015 at 18:21Oi Renata.
Dia desses fui à uma lanchonete e passei uma raiva danada. Depois vi que foi em vão, que eu poderia ter poupado a mim e ao atendente.
Não tenho vergonha dos meus AASI, aliás, vivo customizando-os. Agora eu os enchi de pérolas. Está chic! Mas ainda assim, são discretos e o discreto, não é bom. Nem todo mundo nota e quando você não consegue entender as pessoas, parece que você está de piada.
Na lanchonete, ao perguntar o preço do café, o atendente falou e logo abaixou o rosto, em direção à caixa registradora. Perguntei novamente, ele olhou pra mim e ao falar, abaixou novamente a cabeça. Isso se repetiu pela terceira vez. Como eu, acredito que ele também tenha ficado com raiva. Eu queria compreender e ele só queria vender seu café. Eu podia ter evitado tudo isso, pedindo que ele olhasse para mim e o informasse de que sou surda, mas não foi o que aconteceu. Dei uma nota de cinquenta e esperei o troco.
Não é porque uso AASI que consigo compreender tudo. Se houver barulhos ao redor, fica difícil o aparelho decidir o que EU quero ouvir. É mecânico, não é milagre, não é humano.
Há ambientes em que preciso informar às pessoas que preciso de ajuda, devido à surdez. Feito isso, tudo certo.
Bjs
Renata Elis
10/05/2015 at 10:55Queria sobrinha Renata!
Acompanhei de perto sua luta pela vida nos primeiros dias, pois sua mãe ficou hospedada em minha casa durante a sua permanência na UTI. Eu era uma espécie de motorista, amiga, tia, mãe, psicóloga…e não perdia a esperança e a fé. Não foi uma nem duas vezes que sua mãe chegou em minha casa chorando e dizendo o seguinte: o médico falou que não pode fazer mais nada “agora é com ela (Renata) e Deus”, aí você lutava e vencia. Fui visitar você na UTI, você era um pedacinho de gente, muito frágil e com poucas chances de vida. Mas quem disse que não tem chances quando existe alguém como você com tanta vontade de viver, viver e viver…
Bom o seu próprio nome significa RENASCIDA.
Fico muito feliz e agradecida a Deus por ter conseguido ajudar sua família neste período de sua vida. Talvez creio que seja por isto que me sinto também um pouco mãe de você, minha guerreira.
Quem vê você hoje tão linda e sorridente, cheia de carinho e cuidado com os outros nem de perto consegue imaginar o que foi o começo de sua vida.
Quero deixar aqui o meu imenso carinho e admiração por você ter se tornado esta pessoa maravilhosa. Que Deus ilume seus passos e lhe dê força e coragem para enfrentar todos os preconceitos que poderá ter que enfrentar.
Sabe sobrinha querida, dizem que quando não somos iguais aos outros somos DEFICIENTES, pois é eu sempre costumo dizer que as pessoas precisam tirar a LETRA “D” da palavra aí sim será verdade pois somos EFICIENTES por que conseguimos muitas vezes fazer mais e melhor do que eles que nos rotularam como deficientes.
Um beijão de sua tia que lhe ama muito.
Alice Maria
Bernardete
09/05/2015 at 17:33Filha Renata! Tenho muito orgulho de você. Sei todas as dificuldades por que passou. Tenho certeza que a deficiência auditiva não será um empecilho para você vencer na vida. Te amo muito.
Beijos.
liria
09/05/2015 at 11:28Essa história é sem dúvida emocionante. Para quem viu e conheceu quando ela chegou ao mundo. Muitas vezes nos queixamos de coisas mínimas, e achamos que somos infelizes. Esta menina surprendeu a todos, pois mesmo nascendo muito fragil, mostra que podemos vencer. Eu me orgulho da minha sobrinha que continua dando exemplo para muitas pessoas.Viu! Rê… você é uma vencedora de exemplo de vida .Vou continuar a torcer po voce, pois você merece…
Carol
08/05/2015 at 20:38Renata …me emocionei!Isso ai…todos temos problemas,e o importante é saber lidar com eles e ser feliz!
Beatriz
01/05/2015 at 13:31Que linda sua história, Renata! Espero um dia ver a Gabi falando assim, com tanta simplicidade e clareza da deficiência auditiva e das formas que encontrou para se adaptar e enfrentar todas as dificuldades da DA e da vida! Beijos e sucesso!