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Comunicação não violenta para casais

A prática da Comunicação Não Violenta, também conhecida como CNV, pode transformar seu relacionamento amoroso, como também as relações no trabalho e com amigos e familiares. Além disso, nos fornece um enorme ganho emocional a partir da análise dos nossos sentimentos e dos sentimentos dos outros.

Quem já não passou por uma situação na qual se expressou mal e acabou magoando alguém e impedindo a resolução de um problema? Isso acontece muito! Situações como essa podem evoluir para discussões piores e até mesmo causar o término de um relacionamento. Mas existem estratégias para trabalharmos a nossa comunicação.

Cada pessoa adquiriu um modo de se comunicar conforme o meio no qual foi criada. Você pode ter absorvido maneiras mais agressivas de se expressar, embora tais maneiras não sejam as melhores para facilitar a vida ou atingir objetivos em relacionamentos.

Lendo sobre Comunicação Não Violenta, pensei várias vezes em como eu ainda não havia aprendido sobre o assunto antes!

Os 4 elementos da Comunicação Não Violenta

Para começar, a teoria da CNV tem como base 4 elementos: a observação, o sentimento, a necessidade e o pedido.

O psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg foi quem desenvolveu o método e, em um dos seus livros, dá um exemplo simples de memorizar: a mãe fala para o filho que, quando vê meias sujas espalhadas pela casa, se sente irritada.

Note nessa primeira parte os elementos observação (ela vê as meias) e sentimento (se sente irritada). Ela continua sua fala dizendo que precisa de mais organização e limpeza nos espaços comuns de convivência. Então, pede que o filho coloque as meias na máquina de lavar roupas.

Na segunda parte da fala dela, notem os outros dois elementos: a necessidade – ela precisa de organização – e o pedido – que o filho faça algo.

A partir desse exemplo, fica fácil compreender como os 4 elementos – observação, sentimento, necessidade e pedido – podem aparecer nas nossas interações do dia a dia.

A observação sem julgamentos

À primeira vista, a CNV parece bem simples. Mas, na prática, não é nada fácil. Para praticá-la de modo eficiente, precisamos nos policiar o tempo todo e ter empatia.

Falemos do primeiro elemento, a observação. A diferença entre ela e um julgamento é muito sutil, e estamos mais do que acostumados a julgar, pois a maioria de nós foi criada convivendo de perto com julgamentos diversos. Fazer uma observação sem embutir nela uma avaliação é difícil.

Por exemplo, notem a diferença entre as frases “Você nunca se preocupa em facilitar a leitura labial pra mim quando saímos” e “Nas últimas cinco vezes em que saímos, tive dificuldades para fazer leitura labial porque você não falou de frente pra mim”.

Embora a diferença nas palavras usadas seja pequena, ela pode ser muito significativa nos resultados e reações. Notem que, a partir da vivência de certas situações, a primeira frase julga o outro, dizendo que ele nunca se preocupou com o auxílio à leitura labial.

Já a segunda frase apenas coloca uma observação, sem julgamentos. As palavras “nunca” ou “sempre” têm grandes chances de causar uma reação defensiva na outra pessoa, ao invés de compaixão e atenção pela necessidade expressada.

Vejamos outro exemplo. Note a diferença entre falar para o parceiro surdo “Você nunca faz nada para me ouvir melhor!” e “Você não compareceu ao fonoaudiólogo para acompanhamento e ajustes nos últimos dois anos”. A primeira frase pode magoar e causar uma reação defensiva no outro, pois soa como uma crítica; já a segunda frase aparece apenas como uma observação.

Sem julgar, você pode ainda complementar essa segunda frase expressando opiniões como: “Acho que, por isso, deve ser difícil pra você usar os aparelhos auditivos em casa”, sem indicar se a atitude do parceiro surdo é certa ou errada, boa ou ruim.

Continuemos então com os outros três elementos da CNV, o sentimento, a necessidade e o pedido: “Eu me sinto sozinho e triste quando não conversamos (sentimento). Preciso me comunicar melhor com você, conversar e me sentir mais conectado e junto (necessidade).

Por favor, tente uma adaptação aos aparelhos auditivos em casa, faça um novo ajuste ou molde, ou quantos forem necessários, até que fique confortável (pedido)”. Notaram como, dessa forma, há muito mais chances de termos uma boa receptividade da outra pessoa? Isso ocorre porque o que foi comunicado não guarda crítica nem julgamento.

A comunicação não violenta tem aplicação em todas as áreas da vida e pode se tornar uma prática maravilhosa, salvando muitos relacionamentos.

Exigências

Quando expressamos desejos ou pedidos como exigências, essa forma de linguagem pode criar um bloqueio na compaixão do outro, conforme explica a teoria da CNV. Isso se dá porque uma exigência cobra uma atitude, ou seja, uma obediência sem brechas para alternativas.

É como se o não cumprimento dela fosse passível de punição, além parecer um exercício de poder sobre o outro. Ao ouvir a demanda, a outra pessoa vai focar mais no fato de você estar exigindo algo, mandando nela, do que dar atenção ao que você realmente quer que seja feito.

Quando queremos algo, é recomendável que manifestemos nosso desejo por meio de um pedido. Assim, usando uma forma positiva, peça exatamente o que você quer que a pessoa faça, e não o que ela não deve fazer.

Outro exemplo do autor Marshall Rosenberg é o de uma esposa que pediu ao marido para que ele não ficasse mais tanto tempo no trabalho. Ela usou o pedido na modalidade negativa: “não passe tanto tempo no trabalho”, não expressando exatamente o que ela queria. Ele acatou o pedido da esposa, e aproveitou o tempo livre para se inscrever em um torneio de golfe. O que a esposa realmente queria pedir era que ele passasse mais tempo com ela, e não em outras atividades, mas o pedido feito por ela não foi exato.

Sentimentos e necessidades

É desconcertante notar que, em muitos anos de escola, convivência familiar e trabalho, pouco aprendemos ou pouco somos ensinados sobre expressar o que sentimos.

Muitas vezes, fazemos reclamações sem saber indicar o seu real motivo, o sentimento que as envolve e a raiz do mesmo. Normalmente, criticamos algo que a pessoa faz ou deixa de fazer em vez de dizer como nos sentimos com a situação, ou, nos casos em que expressamos sentimentos, geralmente jogamos toda a culpa no outro.

Comunicação não violenta não é simplesmente transformar a frase “Você sempre concorda sem nem entender o que eu falei” em “Sinto muito ódio porque você sempre só concorda sem entender o que eu falei”. Neste último caso, um sentimento está inserido na fala, mas transferindo toda a responsabilidade desse sentimento para a atitude da outra pessoa – é uma frase que continua agressiva. Que tal refletir sobre o que você realmente está sentindo, e comunicar isso usando outra abordagem, como, por exemplo: “Eu me sinto sozinho/sem importância/ignorado nas vezes em que falo com você e não sou ouvido e respondido”.

Quando um esposo reclama da esposa surda dizendo algo como “Você nunca faz nada para melhorar essa voz. Todos dizem que você fala de um jeito estranho e enrolado”, o que corresponde a uma fala impactante e crítica, com altas chances de um contra-ataque, ele está usando uma comunicação violenta e não expressa seus sentimentos. O que ele sente que o leva a falar isso? E por que se sente assim?

Usando uma linguagem mais pacífica, ele poderia falar algo como “Tenho notado que muitas pessoas têm dificuldade de entender sua fala. Eu também, às vezes. Fico apreensivo que alguém possa zombar de você por causa da sua dicção, pois quero seu bem, e porque é importante pra mim que as pessoas te respeitem. Quer minha companhia para tentar fazer terapia de fala?”.

Vejam como todo o cenário mudou: há a expressão de sentimentos reais e o motivo deles, há observações sem julgamentos sobre a fala da pessoa e existe um estímulo para melhorias, afinal, é inegável que ouvir melhor, falar melhor e se comunicar bem faz diferença na carreira, nos estudos e, principalmente, nas relações pessoais com amigos, namorado, esposa e familiares. Portanto, precisamos de parceiros que nos façam querer crescer e melhorar, e não de parceiros que nos “coloquem pra baixo”!

Exercício

Quero deixar para você um exercício muito interessante: faça uma lista das coisas que você tem para dizer para seu parceiro, ou, se for solteiro, pense em situações que já causaram discussões no passado com namorados ou familiares.

Levante especificamente coisas que você já pensou em dizer a eles, mas desistiu porque achou que viraria uma briga ou que seria interpretado como uma crítica.

Primeiro, escreva essas lembranças da forma como elas vierem à mente; depois, faça o exercício de transformá-las em falas com uma linguagem não violenta, nas quais estejam presentes os 4 elementos – observação, sentimento, necessidade e pedido (ação esperada). Repita essas frases na frente do espelho, para notar como fica sua expressão facial e corporal, já que nem toda comunicação é verbal e muito pode ser dito com um simples levantar de sobrancelha.

Grande parte dos conflitos poderia ser evitada ou resolvida com menos mágoas se todos soubessem se expressar de modo menos agressivo. Seu namoro ou casamento só tem a ganhar com a comunicação não violenta, tanto no momento de falar como no de recepcionar a fala do outro, no saber ouvir e tentar criar uma compaixão pelo sentimento alheio e no mostrar que você se conectou à necessidade da pessoa. Como disse Dalai Lama, “a arte de escutar é como uma luz que dissipa a escuridão da ignorância!”.

Por fim, pesquise e procure ler mais sobre comunicação não violenta, pois sempre há algo novo a se aprender e colocar em prática, e não só nos relacionamentos amorosos.

CNV

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About Author

Paula Pfeifer é uma surda que ouve com dois implantes cocleares. Ela é autora dos livros Crônicas da Surdez, Novas Crônicas da Surdez e Saia do Armário da Surdez e lidera a maior comunidade digital do Brasil de pessoas com perda auditiva que são usuárias de próteses auditivas.

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