‘Olá amigos do Crônicas da Surdez,
Vou contar a vocês a minha história porque talvez ela toque o coração de alguém que precise de inspiração neste momento. Meu nome é Ana Carolina Claro e eu sou mãe de 2 crianças: Pedro Joaquim de (12 anos) e Sophia de (7 anos). Fui mãe com 26 anos de idade, nesta época, eu estava formada em Arquitetura (FAAP) e trabalhava em uma grande construtora,quando comecei a namorar com o meu atual marido. Ele nesta época já era um médico bem sucedido e nos apaixonamos. Casamos rapidamente e eu já estava grávida do Pedro.
Minha gestação transcorreu tranquilamente e o Pedro nasceu no dia 25 de setembro, com 3,250gr , uma fofura. Ainda do hospital, me informaram que o Pedro falhou teste da orelhinha, mas que isso era comum e eu deveria voltar e fazer o reteste em 15 dias. Eu estava anestesiada de tanta felicidade e acabei não voltando para refazer o exame. Quando o Pedro estava com 1 ano e 7 meses, achei que ele estava falando pouco, apesar de balbuciar bastante, não falava nada… Lembrei do teste da orelhinha e levei para avaliação Otorrinolaringológica.
Infelizmente, por motivos que só Deus conhece, o teste BERA (PEATE) deu um “falso negativo” e com o teste confirmando, perdi um tempo preciso de reabilitação achando que meu filho escutava. A vida seguiu naturalmente e Pedro fazia fono 2 vezes por semana. Quando ele estava com 2 anos e 7 meses, a Fonoaudióloga solicitou o teste novamente e foi aí que meu mundo caiu…Descobri que meu filho tinha uma perda auditiva bilateral moderada e precisaria usar o AASI.
Realmente não sei descrever o que aquela notícia foi para mim….Viví quase 3 anos achando e agradecendo a Deus por meu filho ser perfeito e criei como todas as mães, expectativas e sonhos. Queria que ele fizesse uma universidade fora do Brasil, que fosse um esportista, enfim…desejava o melhor e aí recebí essa notícia. Chorei muito. Muito, por uma semana inteira, então disse a mim mesma:” Eu vou chorar tudo que eu tiver que chorar agora, depois vou me refazer e lutar por ele com unhas e dentes até quando eu puder!!! Vou pegar essas expectativas todas, jogar-las no lixo e ser feliz com o que ele conseguir realizar. “
Foi exatamente o que eu fiz, o Pedro fazia Fono 3 vezes na semana, eu parei de trabalhar e me dediquei integralmente a ele. O Pedro constantemente perdia mais e mais a audição pois a sua perda foi progressiva até que aos 5 anos e 7 meses perdeu bilateralmente tudo, praticamente. Nesta época ele não falava nada, e eu havia acabado de ser mãe pela segunda vez. A Sophia nasceu bem, com saúde, sem nenhuma intercorrência, mas até sair o resultado do teste da orelhinha eu não consegui dormir ou ter paz. Finalmente soube que a Sophia ouvia bem e consegui me concentrar no próximo passo com a recuperação do Pedro.
O médico que acompanha o Pedro é excelente, extremamente competente e quando levei os resultados dos exames de imagem ele prudentemente achou melhor reencaminhar para um outro cirurgião, fora do país, porque ele tinha uma síndrome de má formação coclear, difícil para a implantação dos eletrodos. Como nos foi sugerido, viajamos para Miami com os exames e agendamos a cirurgia. Essa para mim, foi a pior parte da história, entreguei meu filho nas mãos de Deus…Foi muito difícil, ele estava sendo operado por uma pessoa que havia visto uma vez na vida, mas minha fé é imensa. A cirurgia demorou mais de 6 horas, mas foi realizada com sucesso. Depois de 1 mês, o implante foi ativado e 3 meses depois o Pedro estava imitando o som dos passarinhos em uma praça que eu o levava sempre para brincar. As lágrimas escorriam no meu rosto e a felicidade foi imensa.
A partir daí, fui a mãe mais feliz do mundo. Cada palavra nova me emocionava, vibrava com cada conquista, por menor que fosse. Essa experiência foi ÚNICA. As pessoas não entendiam, me olhavam com pena, pois viam um menininho lindo com aparelho e falando errado. Por dentro eu queria explodir de felicidade, um sonho se realizando, eu estava conhecendo a voz do meu filho. Havia sonhado muito com isso, era o meu desejo mais profundo. Fiquei muito grata por ter alcançado essa graça e ter tido oportunidade e realizar essa cirurgia no exterior, por ter recursos financeiros e ter o privilégio de poder ter me dedicado integralmente a ele.
Me senti em dívida com o universo e ao mesmo tempo senti a necessidade de retribuir. Então resolvi estudar Fonoaudiologia e poder ajudar outras pessoas. Em junho de 2014 me formei na FMU e fiz um curso de programação de implante coclear na USP, no Hospital das Clínicas, onde estou realizando o processo seletivo de aperfeiçoamento em implante coclear que tem duração de um ano. Meu filho está muito bem, falando muito bem ( por incrível que pareça), estuda no Colégio Dante Alighieri e está no 7º ano.
Vencemos uma dificuldade e crescemos muito com o aprendizado!! Isso tudo me fez acreditar que o sofrimento nunca pode ser em vão, ele deve servir para alguma coisa, seja para crescimento pessoal, ou a mudança de um ponto de vista, ou para o bem de terceiros – porque ainda desconhecemos os motivos de termos que passar por essas situações dolorosas. Quem diria que uma experiência tão dolorida como essa iria resignificar toda a minha vida e os meus valores?’
24 Comments
Beatriz Perez
13/06/2019 at 13:37Amei a história do seu filho, Paula . Parabéns! Sei bem tudo que passou, tivemos todos esses medos , anseios e lutas ?? Tenho um neto com surdez profunda bilateral, que fez implante coclear em novembro (com 2 anos e 10 meses). Está aos poucos aprendendo a identificar os sons e tentando reproduzir os sons. Muito pouco ainda, está bem no início… mas estamos incentivando e trabalhando muito esta questão. Moram em Londres. Eu em São Paulo.
Sou avó, pedagoga aposentada e também estou querendo estudar fonoaudiologia na FMU. Pra depois me especializar em reabilitar em especial as crianças com implantes cocleares, Quero entender melhor e poder ajudar cada vez mais tanto meu neto, assim como outras crianças . Gostaria (se pudesse) que me orientasse quais os caminhos que devo seguir. Aguardo ansiosamente seu retorno. Beijos
Pryscilla Cricio
17/08/2020 at 18:01Olá Beatriz,
Tudo bem?
Venha para o nosso grupo fechado no Facebook com mais de 15.300 pessoas com deficiência auditiva que usam aparelhos ou implantes. Para se tornar membro, é OBRIGATÓRIO responder às 3 perguntas de entrada.
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Abraços,
Equipe Surdos Que Ouvem
Juliana Malafaia
01/09/2016 at 20:14Ai, depois que perdi um pouco da minha audição fiquei com uma vontade danada de fazer Fonoaudiologia. Imagina só que incrível você entender 100% o que seu paciente está sentindo, gente, incrível!!! Fora os truques que vc pode ensinar. Quero muuuuito, já estou a procura.
.ana cecilia
28/02/2016 at 19:15Olá, meu nome é Ana tenho 35 anos mae de tres filhos.Perdi a audiçao há 8 meses ouvia normal tive perda profunda dos dois ouvidos surdez subita sem motivo aparente fiz 24/2 implante no ouvido direito e agora no pós operatório ativarei dia 31/3 estou lendo e conhecendo um pouco mais a cada dia…Muito importante as trocas de experiências..gostei muito de encontrar tantas historias…
Janaina Alves
26/02/2016 at 13:38Ressignificar valores, acho que essa é a palavra ideal para quem vivencia uma experiência como a nossa. 😉
Karime Bouchabki
19/02/2016 at 20:16Olá! Sou Fonoaudióloga, Audiologista. Tenho dois filhos Lucas 17 anos e Lais 5 anos. Me formei em 2000, já tinha o Lucas , mas Lais foi meu desafio, justamente na minha área, nasceu essa menina linda, surda profunda bilateral, hoje implantada à direita, está com 4 anos de implante, já escuta muito bem e fala bastante, mas ainda está em aperfeiçoamento de fala. Faz terapia, está cursando o primeiro ano, sendo alfabetizada, a ansiedade de mãe-Fono e grande, mas tento controlar. E isso!!! Adoraria ter contato com vocês fonos para podermor trocar idéias, sobre nossos filhos. Ah! já ia esquecendo, ela foi implantada em Natal no RN. Bjos a todos, vou deixar aqui meu emai.
Bia Rocha
18/02/2016 at 18:44Carol querida, você conseguiu unir dois gêneros em um só texto: o literário, que faz com que tenhamos prazer em acompanhar sua experiência de vida e o informativo/científico, que oferece dados importantes que certamente ajudarão muitas pessoas a buscarem novos caminhos. Parabéns Carol!!!
Iracema Vitória
18/02/2016 at 00:37Depoimento lindoo e edificante..tenho uma filha que escuta, mas ainda não fala, e sinda não tem diagnóstico.. ja levri em vários neurologistas e nada de fechar um diagnóstico.
me emociono com depoimentos assim.. sei o qto é difícil qdo sabemos que o nosso filho tem uma certa limitação.
Ana Carolina Claro
19/02/2016 at 10:47Parabéns,
tudo de bom!!
Beijos.
Vanessa Dantas
17/02/2016 at 18:10Sou mãe de uma deficiente auditiva e também me tornei fonoaudiologa. A intenção de entrar nesse universo em que minha filha fazia parte e eu desconhecia e por sede de informações…. também estudei e hoje posso ajudar e compartilhar dessa mistura de sentimentos com outras mães. Fico feliz com a evolução dos tratamentos e com a humanização, através de nós que sentimos na pele o que é estar do outro lado!!! Bjsss e parabéns!!!
Ravenna Kern
17/02/2016 at 16:51Oi Paula, linda historia dessa mãe!
Uma dúvida que tenho é? Você conhece alguns fone de Ouvido pra quem usa aparelho auditivo? Nossa porque me dá raiva de carregar fone e ficar segurando em cima do microfone do aparelho pra ouvir!
Queria um fone bonito e pra usar no aparelho!
Obrigada!
Gisele
17/02/2016 at 09:54Bom dia, Ana Carolina!
Parabéns pela trajetória vitoriosa e inspiradora! Seus pacientes serão abençoados em tê-la como fono deles!
Estou noiva de um surdo bilateral e usuário de IC. Já me questionei: “porque coisas difíceis acontecem com pessoas boas?”. O fato é que conviver com meu noivo me trouxe muito aprendizado. Aprendi a me adaptar a ele. Aprendi a valorizar e agradecer por coisas pequenas.
Felicidades para vc e toda sua família!
Elenice
17/02/2016 at 08:38Parabéns, Ana Carolina. Sou deficiente auditiva bilateral neurossensorial e uso aparelho auditivo. Constantemente nos deparamos com 0 preconceito mas na verdade o ser humano perdeu os valores básicos. Ser solidário e amar o próximo. Felicidades para todos nós.
Samira
16/02/2016 at 18:32Hj resumo meu comentário num grande e animado:
UHRUUUUUUUUU!
😉
Ana Carolina Claro
19/02/2016 at 10:44Oi Ana, meu email: iacuzio@hotmail.com
Me coloco à disposição, bjs
ana martins
16/02/2016 at 13:29Nossa lindo depoimento e superação … Adoraria conhecer mais sua história .
Sou estudante de fonoaudiologia e cada vez me apaixonei por essa área de implantado ..
Dá esperança a quem não vê !!! Meu email ..
anamariacultural@ gmail.com
Se possível adoraria conhecer mais sua experiência .bjs e fique com deus
Daniela Francescutti
16/02/2016 at 12:46Ana Carolina,
É por aí mesmo… vamos em frente que a vida continua. E nesse caminhar, caímos e nos levantamos sempre de cabeça erguida.
Parabéns!
Ana Carolina Claro
17/02/2016 at 18:24Obrigada Daniela, bjs.
Tatiana
16/02/2016 at 12:06Ana Carolina,
muito bacana seu depoimento!
Gostaria de entrar em contato contigo, pois também tenho má-formação coclear (displasia de Mondini, em decorrência de síndrome de Pendred) e estou começando a ir atrás de implante para mim.
Abs,
Tatiana
Ana Carolina Claro
17/02/2016 at 18:23Tatiana, por favor entre em contato pelo meu face. Ana Carolina Claro, lá podemos conversar in box. Bjs
Ana Carolina Claro
19/02/2016 at 10:43Oi Tatiana, procure o grupo de implante do Hospital das Clínicas em São Paulo.
Boa sorte, bjs
Ana Cláudia
16/02/2016 at 10:47Que emoção!! Sou Ana Cláudia e também sou mãe de um Pedro, implantado bilateral e também sou fonoaudióloga, mas me formei antes dele nascer. Na época que o Pedro Henrique nasceu eu trabalhava numa empresa de AASI!! Essas histórias sempre me emocionam!!!
CLARICE D.G. STOCHERO
16/02/2016 at 15:49Oi também sou implantada ouvido direito,e uso aparelho no esquerdo,quando tiro os dois nada mais escuto,por isso compartilhoa a vcs.
Ana Carolina Claro
22/02/2016 at 21:16Oi Ana Claudia, sem dúvida temos uma missão para cumprir aqui!!! Que Deus ilumine o seu caminho para que vc possa ajudar muita gente também!! Beijos