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Zumbido no ouvido

Usar LASER para ZUMBIDO causado por SURDEZ funciona?

A moda agora é o laser para zumbido, e a culpa desse bafafá é o tal estudo da USP, do qual participaram 107 voluntários que sofriam de zumbido idiopático e refratário (tradução: zumbido de CAUSA DESCONHECIDA e que não responde a tratamentos convencionais que, no caso, não existem, portanto, se você tem zumbido causado por PERDA AUDITIVA, o estudo não tem utilidade para você). Segundo a American Tinnitus Association, até 90% das pessoas com zumbido apresentam algum grau de perda auditiva.

Se você tem zumbido no ouvido causado por perda auditiva (surdez), venha para o nosso Grupo de Apoio no WhatsApp e Facebook do CLUBE dos Surdos Que Ouvem. Lá, você vai conversar diretamente com milhares de pessoas que convivem com o zumbido causado pela surdez e usam aparelho auditivo e implante coclear. ALERTA: comece por um médico otorrino especialista em surdez.

 

Como as pessoas não leem as coisas com atenção, vou copiar aqui o que diz o resumo do estudo traduzido para o português: “o zumbido é um sintoma sem causa específica conhecida até o momento, e não existem farmacogenômicas associadas a distúrbios auditivos nem medicamentos aprovados pela FDA para o tratamento do zumbido. A eficácia dos tratamentos medicamentosos não é reprodutível em pacientes idiopáticos e é inexistente em pacientes refratários. Tratamentos personalizados para esses pacientes são uma grande necessidade clínica. Nosso estudo investigou os resultados de potenciais modalidades de tratamento alternativas e complementares para pacientes com zumbido idiopático e refratário.”

Estou assustada com a quantidade de pessoas que me manda mensagem pelas redes sociais contando sobre profissionais de saúde auditiva que recomendam sessões de laser para zumbido, como se ele tivesse o poder de aliviar ou diminuir o zumbido no ouvido de quem tem surdez. Detalhe: o menor preço cobrado até agora, segundo esses relatos, foi de R$12.000 por algumas sessões. Cabe a nós, pacientes com perda auditiva e zumbido, investigar o que a ciência tem a dizer sobre o laser para zumbido causado por perda auditiva, não é mesmo? Afinal, hoje e dia o gatilho é dizer que é “anti-inflamatório” e tem “efeito neuroprotetor”. O pessoal que vende encapsulados inúteis com nomes sugestivos para zumbido na internet também usa esses termos. Dica: copie e cole tudo o que está escrito na home dos sites que oferecem laser milagroso e peça para uma inteligência artificial analisar as promessas com base na ciência. Você vai cair da cadeira.

O zumbido no ouvido é um prato cheio para tratamentos sem comprovação científica robusta e tratamentos com eficácia pífia (caríssimos, claro). Outro gatilho é dizer que ele é “multifatorial”. No caso de alguém com perda auditiva, vamos fazer um paralelo. É o mesmo que você estar 30kg acima do peso, ir a um profissional de saúde e, em vez de sair de lá com recomendação de fechar a boca e malhar, ele decidir tratar outro ‘fator’ e te receitar cápsulas de fibra, por exemplo.

No post de hoje, tazemos novidades científicas recentes sobre laser para Zumbido causado por perda auditiva. A pesquisa foi feita com a ajuda do Deep Research Gemini (inteligência artificial do Google). Consulte o Guia Científico do Zumbido no Ouvido, no site do Dr. Luciano Moreira, médico otorrino com décadas de experiência em surdez e cirurgias da audição.

Pesquisas sobre Laser para Zumbido causado por de Perda Auditiva

O zumbido, definido como a percepção de sons na ausência de uma fonte sonora externa ou interna, é uma condição comum que se manifesta de diversas formas, como um toque, chiado ou zumbido.1 Sua prevalência é significativa em nível global, afetando uma parcela considerável da população mundial e impactando negativamente a qualidade de vida dos indivíduos acometidos.1 Dada a vasta ocorrência do zumbido, a investigação de tratamentos eficazes é de grande importância.

Uma causa frequente e bem estabelecida do zumbido é a perda auditiva.5 Embora o zumbido possa ter múltiplas etiologias, incluindo fatores como idade, sexo masculino e disfunções temporomandibulares 7, este relatório se concentrará especificamente nas pesquisas que avaliam a laserterapia para o tratamento do zumbido cuja causa primária e exclusiva é a perda auditiva. A forte ligação entre zumbido e deficiência auditiva direciona o foco desta análise para uma subpopulação específica de pacientes, permitindo uma avaliação mais precisa da eficácia da intervenção.

A laserterapia de baixa intensidade (LLLT), também conhecida como fotobiomodulação (PBM), emerge como uma modalidade terapêutica não invasiva que tem sido explorada para diversas condições médicas. O interesse nesta terapia reside em sua natureza não invasiva e na possibilidade de estimular processos biológicos que poderiam mitigar os sintomas do zumbido associado à perda auditiva.

Como diria uma amiga amiga, “pesquisa tem pra todo gosto”. E tem mesmo: você encontra o resultado que desejar na maioria dos casos. Por isso, preste atenção na diferença entre notícias sensacionalistas baseadas em pesquisas-estudos  e em meta-análises. A principal diferença entre meta-análises e estudos individuais reside no seu escopo e objetivo.

Estudos Individuais:

  • São pesquisas originais que investigam uma questão específica, utilizando métodos como experimentos, ensaios clínicos, questionários ou observações para coletar e analisar dados.
  • Focam em responder a uma pergunta de pesquisa particular em uma amostra específica de participantes ou em um contexto delimitado.
  • Apresentam resultados e conclusões baseados nos dados coletados para aquela pesquisa específica.

Meta-análises:

  • São estudos que combinam os resultados de múltiplos estudos individuais independentes sobre um mesmo tópico ou questão de pesquisa.
  • Utilizam métodos estatísticos para sintetizar os dados de diferentes estudos, com o objetivo de obter uma estimativa mais precisa e robusta do efeito de uma intervenção ou da relação entre variáveis.
  • Procuram identificar padrões, consistências ou inconsistências nos resultados de diferentes estudos, aumentando o poder estatístico e a generalização das conclusões.
  • São consideradas um tipo de revisão sistemática, mas com a característica adicional de realizar uma análise estatística quantitativa dos dados combinados.

Em resumo, um estudo individual conduz uma nova investigação, enquanto uma meta-análise analisa e sintetiza os resultados de pesquisas já existentes. A meta-análise oferece uma visão mais abrangente e estatisticamente mais poderosa sobre um determinado tema, ao agregar as evidências de diversos estudos.

Revisões sistemáticas e meta-análises sobre laser para zumbido CAUSADO POR SURDEZ

Várias revisões sistemáticas e meta-análises foram conduzidas para avaliar a eficácia da LLLT/PBM no tratamento do zumbido. Muitas dessas revisões apontam para uma falta de evidências fortes e consistentes para apoiar o uso rotineiro da laserterapia para essa condição.2

A influência do efeito placebo também deve ser considerada na avaliação dos resultados da laserterapia para zumbido. Alguns estudos observaram uma melhora significativa no grupo placebo, o que destaca a importância de estudos bem controlados com longos períodos de acompanhamento para determinar a eficácia real de qualquer tratamento para o zumbido.14

Uma revisão sistemática publicada no Journal of Speech, Language, and Hearing Research 10 analisou os efeitos da LLLT na gravidade do zumbido em comparação com nenhuma terapia ou outras modalidades. A revisão incluiu sete ensaios clínicos randomizados e constatou que, embora todos os estudos selecionados tenham encontrado diferentes graus de resultados significativos em relação à gravidade do zumbido, não houve consenso entre os resultados. Os autores concluíram que, apesar dos efeitos positivos da LLLT na gravidade do zumbido em alguns estudos, ainda não é possível fazer qualquer recomendação sobre seu uso para o tratamento da gravidade do zumbido.10

Uma meta-análise publicada no Brain Sciences 5 avaliou a eficácia da LLLT em pacientes adultos com queixas de zumbido. A análise incluiu 11 estudos envolvendo 670 pacientes e não demonstrou diferença significativa no efeito geral de acordo com o escore do Tinnitus Handicap Inventory (THI) e na taxa de melhora do escore da escala de avaliação entre os pacientes que receberam LLLT e aqueles que receberam placebo. Nenhuma das análises de subgrupo mostrou diferenças significativas, independentemente da perda auditiva neurossensorial subjacente, do número de sessões de irradiação ou do comprimento de onda utilizado. Os autores concluíram que a meta-análise sugere que o valor da LLLT no controle da gravidade do zumbido permanece incerto, em parte devido ao número relativamente pequeno de pacientes e à heterogeneidade subjacente.5

Outra revisão sistemática e meta-análise 16 avaliou a eficácia da LLLT para zumbido e não encontrou evidências suficientes para apoiar seu uso rotineiro. Da mesma forma, uma revisão publicada no International Tinnitus Journal 11 observou resultados controversos, com alguns estudos mostrando melhora e outros não encontrando efeito significativo da LLLT no zumbido. Uma revisão sistemática recente sobre os efeitos da fotobiomodulação no zumbido 2 analisou 28 estudos e concluiu que, embora os resultados do zumbido após a terapia de fotobiomodulação sejam geralmente positivos e superiores a nenhuma terapia de fotobiomodulação, a evidência de benefício terapêutico a longo prazo é deficiente.2

Essas revisões sistemáticas e meta-análises destacam a inconsistência dos resultados da pesquisa sobre a LLLT para zumbido, incluindo aqueles associados à perda auditiva. A falta de protocolos de aplicação padronizados, a natureza subjetiva do sintoma e a heterogeneidade das populações de estudo contribuem para a dificuldade em tirar conclusões definitivas sobre a eficácia desta terapia.10

As evidências gerais sobre a laserterapia para zumbido, incluindo aqueles associados à perda auditiva, ainda são inconsistentes. Algumas revisões sistemáticas e meta-análises apontam para uma falta de evidências fortes e conclusivas para apoiar o uso rotineiro da laserterapia para essa condição. A variabilidade nos protocolos de tratamento e nas características dos pacientes pode contribuir para esses resultados mistos. Portanto, embora existam estudos que investigam a laserterapia para zumbido causado por perda auditiva e alguns mostrem resultados promissores, o quadro geral ainda requer mais pesquisas para determinar a eficácia real e os protocolos ideais para essa aplicação específica.

5. Tabela Explicativa dos Resultados

Para melhor compreensão dos estudos individuais, a tabela a seguir resume as principais características e resultados de alguns dos estudos relevantes discutidos neste relatório.

Autor(es) e Ano Desenho do Estudo Amostra Protocolo de Laserterapia Medidas de Resultado Resultados Conclusões
Mollasadeghi et al. (2013) 9 ECR, duplo-cego, controlado por placebo 89 homens com PAIR e zumbido 20 sessões de LLLT, 650 nm, 5 mW, 20 min/sessão, via mastoide VAS, THI, intensidade do zumbido Melhora significativa no grupo LLLT em comparação com o placebo imediatamente e 3 meses após o tratamento LLLT eficaz para aliviar o zumbido em pacientes com PAIR, embora o efeito enfraqueça após 3 meses
Masry et al. (2021) 15 ECR, duplo-cego, controlado por placebo 30 pacientes com perda auditiva neurossensorial bilateral e zumbido bilateral 21 sessões de LLLT, 650 nm, 5 mW, 15 min/orelha/sessão, transmeatal (uma orelha tratada, outra placebo) THI, VAS Melhora significativa nos escores de THI e VAS no lado tratado com laser 3 meses após a intervenção, mas o efeito diminuiu após 6 meses LLLT para zumbido neurossensorial parece ser um método seguro para reduzir a gravidade do zumbido a curto prazo
Goodman et al. (2013) 26 ECR, duplo-cego, controlado por placebo Adultos com perda auditiva 3 sessões de LLLT, protocolo HearingMed, aproximadamente 5 min/sessão Audiometria tonal pura, Connected Speech Test, emissões otoacústicas evocadas transitórias Nenhuma diferença estatisticamente significativa entre os grupos LLLT não melhorou a audição, a compreensão da fala ou a função coclear em adultos com perda auditiva
Choi (2022) 12 Revisão narrativa de 10 ECRs 588 pacientes com zumbido Variável entre os estudos (650 nm, 810 nm, 830 nm; 5 mW a 100 mW; transmeatal e mastoide) Variável entre os estudos Resultados inconsistentes; 4 estudos relataram melhora, 6 não encontraram efeito significativo Eficácia da LLLT para zumbido permanece controversa; relatos são inconsistentes
Chen et al. (2020) 5 Meta-análise de 11 ECRs 670 pacientes com zumbido Variável entre os estudos THI, VAS, VRS, NRS Nenhuma diferença significativa entre LLLT e placebo no escore THI ou na taxa de melhora da escala de avaliação Valor da LLLT no controle da gravidade do zumbido permanece incerto devido ao pequeno número de pacientes e à heterogeneidade

A análise das pesquisas sobre a laserterapia para zumbido resultante exclusivamente de perda auditiva revela uma paisagem de evidências inconsistente e, em grande parte, inconclusiva.2 Embora alguns estudos individuais e uma revisão tenham indicado resultados positivos a curto prazo em pacientes com zumbido associado à perda auditiva, o corpo geral de evidências não fornece um suporte robusto para a laserterapia como um tratamento confiável para essa condição.

Várias razões podem explicar os resultados conflitantes observados nos estudos. Uma das principais é a variabilidade significativa nos protocolos de laserterapia empregados.3 Diferenças no comprimento de onda, potência, dosagem, duração das sessões, frequência do tratamento e métodos de administração (transmeatal versus mastoide) podem levar a diferentes resultados terapêuticos. A falta de protocolos padronizados dificulta a comparação direta dos resultados entre os estudos e a determinação dos parâmetros mais eficazes para o tratamento.

A heterogeneidade nas características dos pacientes incluídos nos estudos também contribui para a inconsistência dos achados.9 Variações no tipo e gravidade da perda auditiva, na duração do zumbido e em outros fatores individuais podem influenciar a resposta à terapia a laser. A eficácia da laserterapia pode depender de características específicas da perda auditiva e do zumbido do paciente, sugerindo que nem todos os indivíduos com zumbido resultante de perda auditiva se beneficiarão ou se beneficiarão da mesma forma. (Fica a seu critério PAGAR para ver).

As limitações metodológicas de muitos estudos também representam um desafio na interpretação das evidências.2 Tamanhos de amostra pequenos, falta de grupos de controle robustos, períodos de acompanhamento curtos e potenciais vieses podem limitar a certeza dos achados e a capacidade de tirar conclusões definitivas sobre a eficácia da laserterapia.

Além disso, a influência do efeito placebo é um fator importante a ser considerado na pesquisa sobre o tratamento do zumbido.4 A resposta placebo significativa observada em alguns estudos sobre zumbido destaca a necessidade de estudos bem controlados para avaliar com precisão o verdadeiro efeito da laserterapia. Melhorias observadas em grupos de controle podem ser atribuídas ao efeito placebo em vez do tratamento real.

As implicações clínicas dos achados atuais sugerem que, com base nas evidências disponíveis, a laserterapia não pode ser recomendada como um tratamento padrão ou de primeira linha para o zumbido causado exclusivamente por perda auditiva. Pacientes que consideram a laserterapia devem ser totalmente informados sobre as limitações das evidências e o potencial para variabilidade nos resultados.

Conclusão

Em resumo, as pesquisas sobre a laserterapia para o tratamento do zumbido resultante exclusivamente de perda auditiva apresentam resultados mistos e, em grande parte, inconclusivos.2 Embora alguns estudos sugiram benefícios potenciais a curto prazo, a falta de evidências fortes e consistentes, juntamente com a variabilidade nos protocolos de tratamento e nas características dos pacientes, impede uma recomendação definitiva para o uso da laserterapia nesta população específica.

Para abordar as limitações e incertezas atuais, futuras pesquisas devem se concentrar na realização de ensaios clínicos randomizados (ECRs) de alta qualidade, com amostras maiores, grupos de controle robustos e acompanhamento a longo prazo.2 É crucial investigar protocolos de laserterapia padronizados para determinar os parâmetros ideais (comprimento de onda, potência, duração, frequência e método de administração) para diferentes tipos e gravidades de zumbido relacionado à perda auditiva.3 Estudos futuros também devem se concentrar em subgrupos específicos de pacientes com zumbido causado por perda auditiva bem definidos para identificar aqueles que podem ter maior probabilidade de se beneficiar da terapia.9 Além disso, a avaliação dos resultados a longo prazo é essencial para determinar a durabilidade de quaisquer benefícios observados.2 Por fim, mais pesquisas são necessárias para entender melhor os mecanismos de ação da laserterapia no ouvido interno e nas vias auditivas no contexto do zumbido relacionado à perda auditiva, o que pode ajudar a otimizar os protocolos de tratamento e identificar potenciais respondedores.2

About Author

Paula Pfeifer é uma surda que ouve com dois implantes cocleares. Ela é autora dos livros Crônicas da Surdez, Novas Crônicas da Surdez e Saia do Armário da Surdez e lidera a maior comunidade digital do Brasil de pessoas com perda auditiva que são usuárias de próteses auditivas.

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