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Crônicas da Surdez / Deficiência Auditiva / Implante Coclear

Ouvir me dá prazer e me faz me apaixonar pela vida

 

Foto: Shutterstock

Levo cada susto ouvindo! Ontem, ao voltar do Rio de Janeiro, fui ao banheiro no aeroporto de Porto Alegre. Estava bem desavisada e morta de sono quando, de repente, o alto falante diz: “Atenção senhora Paula, dirija-se ao guichê da TAM“. Na hora foi como se tivessem me dado um cutucão bem forte, e então prestei bem atenção na chamada de novo e aí me liguei que não era meu sobrenome e eu nem tinha voado TAM.

No vôo, um bebezinho chorava copiosamente – som irritante, irritante, irritante. Mas não me passou pela cabeça nem por um segundo tirar o Implante Coclear e voltar para o silêncio por causa disso. Tenho feito um bom esforço para tolerar esses sons chatos do dia-a-dia de alguém que ouve normalmente. Não é tão difícil quanto parecia no começo.

Ainda prefiro estar em ambientes calmos, quietos e tranquilos, sem barulheira nonsense, sem muita gente falando ao mesmo tempo, sem berros e gritos. Pena que a vida real não me presenteie com isso tanto quanto eu gostaria.

A tranquilidade de viajar e voar ouvindo não tem preço. Entendo 90% do que pilotos e comissárias de bordo dizem no avião, e quando penso nisso recordo a angústia inominável que eu sentia quando não entendia uma palavra do que eles diziam e quando minha companhia num vôo era o tremor da turbina. Foi engraçado estar sentada no Galeão, com uma barulheira matadora ao redor, e atender o celular e conseguir falar e entender o que o Luciano dizia.

Nesses momentos percebo a estranheza que é voltar a poder fazer coisas tão corriqueiras que durante muiiitos anos sequer fizeram parte da minha vida – e sequer achei que um celular um dia teria essa serventia para mim de novo. Mesmo após cinco meses de IC ativado, ainda estou no – longo – caminho de voltar a me sentir normal e voltar a me sentir capaz de fazer certas coisas. Sigo dizendo que a parte mais difícil do implante coclear é a bagunça completa que ele faz com o nosso emocional. Tsunami define.

Por último, o motivo da imagem desse post é porque é assim que me sinto: posso me apaixonar pelo som das palavras. Ouvir me faz sentir um prazer muito grande que gostaria de ser capaz de expressar com as palavras corretas. Mas é muito difícil. Toda vez que ouço e entendo algo de costas, sem olhar para a pessoa, sem olhar para a TV, me sinto TÃO viva. Impossível não se apaixonar pela pronúncia das palavras em inglês, francês, espanhol. Cada mísera palavra tem uma boniteza sem precedentes. E isso supera e enterra todos os sons chatos do mundo.

About Author

Paula Pfeifer é uma surda que ouve com dois implantes cocleares. Ela é autora dos livros Crônicas da Surdez, Novas Crônicas da Surdez e Saia do Armário da Surdez e lidera a maior comunidade digital do Brasil de pessoas com perda auditiva que são usuárias de próteses auditivas.

3 Comments

  • eliane
    23/04/2014 at 22:50

    Paula, sinta-se feliz e realizada por poder entender até as pessoas que estão atrás de você……e o pior é o problema de otosclerose que não há como fazer IC, este é o meu caso. Imagine como estou me sentindo…não há esperanças!!!

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  • Janete Toigo
    23/04/2014 at 11:53

    Parabéns Paula pelo seu sucesso com o implante, eu tb estou deslumbrada com tudo o que estou ouvindo. Vibro interiormente quando alguém me chama e eu estou de costas e ouço meu nome…acho estranho usar o telefone, me delicio com o som do “s” nas palavras ditas e não acredito que estou entendendo o que falam na rádio do carro pela manhã quando me dirijo ao meu trabalho…”Implante coclear” meu amor eterno.

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  • Renata
    22/04/2014 at 13:01

    Mal posso esperar…este vai-e-vem emocional já estou sentindo!
    Muito ansiosa para minha cirurgia , dia 25 sexta-feira !!
    Espero redescobrir a alegria do canto dos passarinhos ????

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