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Crônicas da Surdez

Surdez versus Paciência

wcdi

Esses dias minha mãe me perguntou porque eu era tão impaciente e irritada. Como boa mãe taurina, toda vez que vai contar uma história, ela conta mil e um detalhes. Em vez de dizer: “Encontrei a tua amiga no shopping e ela perguntou de ti“, ela diz “Hoje, tipo 15:30, enquanto eu passeava no shopping porque fui trocar um sapato naquela loja dobrando ao lado da escada rolante, encontrei aquela tua amiga do cabelo encaracolado e olhos verdes, ela estava com um vestido azul lindo, me cutucou, perguntou de ti, disse que está com saudades, e aí ficamos um tempão conversando, de repente chegou também a fulana, blablablabla”. Tenho uma mania que muitos do meu círculo de amigos e família dizem na cara dura que é horrivelmente mal educada. Se a pessoa não for 100% objetiva no que me diz, tipo 2+ 2 = 4, eu olho e digo: RESUME! Ainda vou levar um tabefe por causa disso…

A idéia desse post foi porque respondi para a minha mãe que talvez eu seja assim, impaciente e irritada, porque a sensação que tenho é de que direciono toda a minha energia para a deficiência auditiva (não por querer, mas por necessidade) durante oito horas diárias (enquanto estou trabalhando), no mínimo. Tenho que prestar atenção, tenho que ler lábios, tenho que ser rápida, tenho que cuidar meu tom de voz, tenho que ficar ajeitando os aparelhos, enfim, quando não estou num ambiente no qual eu precise de todo esse foco, a última coisa que quero é lero lero. Então, pra quem não me conhece, fica a dica: RESUME! Hahahaha!!

Vocês não se sentem assim também? Em ambientes ‘controlados’, como trabalho e na casa de amigos, sou um anjo, um poço de paciência, a pessoa mais calma do mundo. Em ambientes relax, tudo o que mais quero é poder relaxar, sem precisar ativar minha visão de raio X, sem precisar de concentração total, sem precisar de leitura labial avançada. Acho que, por direcionar tanto a minha energia para isso, em muitas ocasiões me falte a paciência necessária para ser uma pessoa atenciosa, sensível e querida com os que estão ao meu redor.

About Author

Paula Pfeifer é uma surda que ouve com dois implantes cocleares. Ela é autora dos livros Crônicas da Surdez, Novas Crônicas da Surdez e Saia do Armário da Surdez e lidera a maior comunidade digital do Brasil de pessoas com perda auditiva que são usuárias de próteses auditivas.

19 Comments

  • Mariana Solano
    01/09/2014 at 20:54

    Ps: sou surda de nascença, nao parece né? Huhuhu
    pss: leio muito, por isso estou um pouco mais avançada do que os outros surdos da minha idade, ha, mais uma coisa, escrevi esses posts sozinha!

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  • Mariana Solano
    01/09/2014 at 20:49

    Ha, Paula… Te amo, te amooo! Você é uma luz da minha vida! Queria muito que vc fosse minha mae, a minha nao me entende porque nao teve experiencias de ser surda… Por favor Paula, que me ajude num problema… Tenho uma amiga, a pessoa que sou mais próxima na escola, ela é boa de papo e conversa muito, com OUVINTES, nao comigo… Perguntei se ela se sentia muito intimidada comigo, e ela disse que sim. Sou uma pessoa normal como todos, nao sou emo tipo insociavel, a minha conclusao é que é por eu ser “diferente”. SOS! Ass: mari, 13 anos e um mês.

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  • Lilian Ross Silva
    23/09/2013 at 16:36

    Ola Paula,identifiquei profundamente nesse post,depois da perda auditiva, fiquei mais irritada e impaciente, mas infelizmente são poucas as pessoas que compreende essa nossa rotina.

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  • Felipe
    12/09/2013 at 15:50

    Olá Paula!
    Eu me identifiquei com o seu texto, e gostaria de contar um pouco da minha experiência também.
    Eu tenho perda severa-profunda nos dois lados, e utilizo próteses.
    Eu percebo que eu sempre concentro a maior parte da minha atenção na minha audição quando estou em lugares ruidosos, ou com muitas pessoas. Isso parece que acontece de forma automática. Fico preocupado em entender o que estão falando comigo, preocupado em deixar os AASI no volume correto, preocupado em manter a menor distância possível da pessoa que está falando, preocupado se a minha voz está boa, enfim, é tanta preocupação que não consigo em pensar em algo pra falar. E quando aparece uma oportunidade para eu falar algo, eu simplesmente fico mudo.
    Por outro lado, quando estou em lugares silenciosos ou conversando com apenas uma pessoa, toda essa preocupação com a audição some e eu me solto mais, fico mais extrovertido e interessado pelo assunto.

    Eu acho que se passarmos a ter consciência de que estamos nos concentrando demais na audição quando não é preciso tanto, talvez a gente consiga ter mais paciência.

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  • erika
    08/08/2013 at 16:06

    Concordo contigo Paula. Também não tenho paciência para aquelas pessoas que floreiam as histórias. Penso que não tenha nada a ver com a surdez, é personalidade mesmo. Tenho uma tia que quando vai contar uma história, aff, fico aflita porque ela não termina nuncaaaaaaa.

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  • Natalia
    23/07/2013 at 15:21

    Paula, sou taurina, filha de mãe taurina e com leve perda auditiva, imagina como eu sou rodeada de detalhes e mais detalhes. Embora eu ainda consiga entender o que as pessoas falam sem precisar usar aparelho auditivo, eu dependo muito de leitura labial pra me sentir segura. Acho que a impaciência nasce dai, de estar sempre se esforçando ao máximo pra entender a tudo e a todos e ainda ter que lidar com a falta de tato que as pessoas tem com deficientes auditivos.

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  • Viviane
    18/07/2013 at 14:22

    Oi, Paula.
    Engraçado, depois que me descobri surda, que a situação piorou notei que estou com menos paciencia de ouvira as pessoas…
    Deve ser por causa disso mesmo. Não preciso ler os lábios, mas faço de tudo para não perder o pique tendo q prestar atençao nas vozes de pessoas diferentes, fora o telefone. Chega em casa cansada e um pouco impaciente. Acho que isso não é bom porque eu gostava de ouvir os outros antes…
    Abraços e boa sorte.

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  • Greize
    15/07/2013 at 19:19

    Acho que tem super a ver com o Temperamento da pessoa.Quatro Temperamentos:
    Colérico, sanguíneo, melancólico, fleumático.
    Isso independe de ser surdo ou não.

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  • Camila
    15/07/2013 at 17:52

    Nossa, eu também sou impaciente… Odeio ladainhas, histórias longas ou, pior ainda, histórias que eu já conheço e aquela mesma pessoa já me contou outras vezes.
    E quando tentam conversar ou perguntar muitas coisas logo no inicio da manhã??? Cara, meu cérebro nem acordou direito e já sou bombardeada no café-da-manhã com muita informação… Aff… Não que eu acorde de mau humor, acordo é com preguiça de pensar e falar…
    Quando mordo os lábios (tipo “não xingue”, “não xingue”) ou começo a “cantar” uma melodia sem falar/cantar/abrir a boca, todos já sabem que estou irritada rsrs

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  • juliana
    12/07/2013 at 21:49

    Paula, eu passo pela mesmíssima situação, o texto poderia até ser meu, só que no caso que fala até pelos cotovelos quando eu mais preciso de descanso é meu pai, rsrs.

    E no trabalho as vezes eu estresso…é muita falação! Sempre digo que não precisam contar a MISSA INTEIRA, aí passo de chatona, mas fzr o q?

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  • Maria
    12/07/2013 at 12:11

    Meu pai é igualzinho a sua mãe hahaha fico impressionada de como que ele consegue fazer um discurso enorme, cheio de detalhes sobre um assunto banal como “encontrei minha amiga e falamos de você”. E eu não tenho um pingo de paciência com os discursos do meu pai (tadinho!!), mas te digo que não tem nada a ver com a surdez! Isso porque todo mundo de casa não tem paciência com os discursos do meu pai e a gente implora para ele resumir tudo e ir direto ao ponto do assunto. Eu fico doida para saber o que aconteceu no momento x que meu pai conta, mas demora para explicar o que aconteceu. A sensação que tenho é como uma novela sendo arrastada, com enrolação e nós ficamos ansiosos para saber o que vai vir pela frente, mas também ficamos cansados com a enrolação. Até a minha mãe que é ouvinte fala: anda logo! Fala logo o que quer falar!

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  • Luana
    12/07/2013 at 00:00

    Oi Paula!
    Não sou deficiente auditiva, sou fã dos teus blogs e acompanho faz um certo tempo.

    Fiquei muito feliz de saber que eu não sou a única!! Eu sempre falo: “TÁ” pra pessoa parar de enrolar asiosjosaposa ou eu digo “FALA”
    hahahahaha

    Beijão e bom finde!!

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  • Bárbara
    11/07/2013 at 11:54

    Pensei q fosse só cmg! hahaha Tbm fico impaciente e irritada, quando to em situação de conforto, tipo em casa ou com amigos. Mas em situações fora de casa, tenho q ficar atenta a tudo e a todos. Ligo o alerta na minha cabeça e a tal da paciência vem automaticamente. É impressionante isso!

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  • Samira
    11/07/2013 at 11:24

    Acredito que tem a ver com personalidade da pessoa também.
    Existem pessoas melancólicas, dominantes, seguras… tudo isto influencia…
    Existem pessoas:
    objetivas X subjetivas;
    assertivas X “lero-lero”.
    Além disso, tem os fatores externos do dia que se somatizam com nossas condições internas: dia de TPM, dia de notícias estressantes, acredito que ninguém vai querer “lero-lero”. hahaha
    A paciência é uma virtude! Requer exercício…
    E que exercício!! hahahaha
    Bom dia, Paula! 😀
    Bom dia, leitores!

    Super paciência: ativar!

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  • Gê Santos
    11/07/2013 at 11:03

    Precisamos de compreensão, é super cansativo ter que se esforçar também para os blablabla. Me chama também de mal educada, mas além disso odeio ser cutucada em excesso, as pessoas me cutucam de mais para que eu preste atenção.

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  • Camilla
    11/07/2013 at 11:02

    Paula, no trabalho eu tento ativar a audiç?o de gato e ouvido biônico de agente secreto da CIA hahahah. Quando estou em casa, às vezes fico sem aparelho, principalmente quando acordo. Aí peço para a pessoa repetir, ent?o a segunda versão fica mais resumida, pois quem fica sem paciência de repetir tudo que foi dito é ela rs… Enfim, te entendo. Bjos!

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  • Cáthia Schaeffer
    11/07/2013 at 10:58

    Sim, Paula, eu também sou taurina e “gosto de detalhes” rsrsr, mas vc tem toda a razão, é bem cansativo para um surdo prestar atenção o tempo todo. Adoro o teu blog, parabéns, tudo de bom pra ti!

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  • lucio aguiar
    11/07/2013 at 09:36

    Oi Paula. Tenho muita vontade de conhece-la pessoalmente.Ainda nao sou um fã, pois o que admiro é a sua pessoa.

    Quanto a este post, compreendo sua posiçäo perfeitamente.

    Sou surdo bilateral profundo desde os 07 anos de idade, possuo visäo de raios X (leitura labial em 03 línguas diferentes) e, ja ia me esquecendo: atuo como advogado há quase 20 anos. Tenho 44 anos de idade.
    Assim, sei bem das dificuldades e do cansaço (mental) que enfrentam as pessoas com nossas limitações sensoriais. Afinal prestamos uma atençäo maior a uma infinidade de detalhes e no fim do dia (principalmente) encontramo-nos exaustos (Tem dias que fico de olhos fechados na esteira da academia para.relaxar meus nervos ópticos).

    Mas, pergunto, o que vem 1o : o cansaço ou a impaciência?
    2o: e ja se perguntou se essa sua postura não é ou poderia ser definida como assertividade?

    No meu caso, por exemplo, quase não tenho oportunidade de ficar no lerolero… e como sinto que respostas claras e objetivas são as únicas, em certas circunstâncias, capazes de proporcionar uma resolução de conflitos, o término de alguma tarefa ou o deslinde/esclarecimento de dada situação.
    Exigir uma resposta concisa, clara e objetiva, em muitas profissões (juízes, promotores, pilotos de avião etc), é a única forma de produzir (bons) resultados.

    Vai aí o elogio: não te conheço (ainda), mas adoro como você escreve e vejo sempre muita assertividade no que faz. E isso é (muito) bom.

    Bj, Lucio

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  • Leandro Coelho
    10/07/2013 at 15:56

    Paula, eu sempre fui um cara muito paciente. Tenho, entretanto, percebido que o desgaste da nova rotina é realmente maior. Como minha perda é mais recente que a sua, ainda tenho tido calma e paciência para quase todas as situações do dia-a-dia. Antes eu não estava nem aí (com uma audição só ruim), hj percebo quanto perdi por não ter ficado atento E usado os AASI quando deveria (da perda parcial unilateral). Entendo o que diz, e prevejo-me pelo mesmo rumo. Precisamos de informação de qualidade, e precisa. Minha esposa fica chateada quando peço por isso, mas não é para ser antipático, isso dá mais segurança e me permite reagir corretamente para o que realmente precisamos (ou queremos dizer) e ao que é dito.

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