A primeira vez que entrei numa loja de aparelhos auditivos foi inesquecível. Abri a porta e me deparei com vários quadros com fotos de idosos nas propagandas da marca. Aquilo me incomodou. Eu tinha 16 anos e esperava me sentir minimamente representada na história que aqueles produtos contavam. Imagens falam mais do que mil palavras, e aqueles quadros passavam uma mensagem bem clara: “pois é, parece que você é a única jovenzinha surda do planeta”.
Fiquei sentada na sala de espera folheando uma revista velha até que a fonoaudióloga aparecesse. Quando ela surgiu, me olhava com uma cara de pena insuportável. A mulher passou a mão no meu cabelo e segurou a minha mão como se eu fosse um bebê prestes a ser entregue para adoção dentro de uma caixa de sapato. Juro! Senti um desconforto horroroso enquanto caminhava até a sala de atendimento, mas não soube dar um nome a ele.
– Coitadinha! Tão jovem e surda desse jeito. Mas olha, fica tranquila. Eu tenho um aparelhinho aqui discretíssimo, que vai dentro do ouvido. Você penteia o cabelo para a frente e ninguém vai saber que você… usa aparelho auditivo. Vai ser o seu segredinho.
Olhei para a minha mãe, que já estava, obviamente, chorando. Ouvir que a filha é uma coitada numa situação de deficiência sensorial recém descoberta não deve ter sido muito agradável. Os diminuitivos em série me deixaram fula da vida: coitadinha, aparelhinho, segredinho. Ninguém merece ser tratado como um idiota num momento de total vulnerabilidade.
Quando achei que as pérolas tinham acabado, veio a pancada final.
– Cada um custa R$5.500.
Faça as contas. Cinco-mil-e-quinhentos-reais por UM aparelho auditivo nos anos 90. Ele não fazia nada além de amplificar os sons. Tecnologia quase zero se comparado aos AASIs atuais. Sem conectividade. Nécas. Um pedaço de plástico superfaturado, e só. Minha mãe arregalou os olhos e disse que não tinha como pagar aquele valor.
– É só fazer uma vaquinha na família, meninas. Liguem para o pai dela, os avós, as tias, liguem para os parentes que tiverem dinheiro. Vai ser fácil de conseguir! Ela não pode ficar sem esse aparelho. É o melhor que existe para a surdez que ela tem.
Oi? Naquele momento eu percebi como é fácil manipular uma mãe desesperada. A minha teria até assaltado alguém se fosse preciso para que eu tivesse “o melhor aparelho do mundo”. Afe!
Acredite se quiser, mas cometi o erro mais básico de todos no mundo dos novatos na indústria da audição: eu quis resolver o meu problema a jato na primeira loja que apareceu sem ter feito NENHUMA pesquisa prévia sobre o assunto. Fui o protótipo do cliente dos sonhos: não sabia nada, não fiz perguntas, não negociei preço, não busquei outras lojas, paguei à vista (minha avó tirou um empréstimo e pagou o dobro ao banco em ‘suaves prestações’) e, a cereja do bolo para qualquer vendedor, nunca mais apareci lá para fazer um ajuste sequer.
Isso tudo foi em 1997. Ou 1996. Faz tanto tempo que não tenho certeza do ano. O chocante nessa história é que quase nada mudou na indústria da audição. Justiça seja feita: a tecnologia deu um salto quântico, mas as técnicas de venda e o modelo de negócio continuam exatamente os mesmos…
Dez anos depois, voltei à mesma loja. É isso mesmo que você acabou de ler: tem gente que comete o mesmo erro DUAS vezes. Que vergonha, mas saiba que conto essa história por uma boa causa: salvar os desavisados.
Eu não queria comprar um aparelho auditivo novo, só queria ajustar o meu antes de viajar para fora do país sozinha pela primeira vez. A mesma fonoaudióloga que me chamou de coitadinha e me catapultou para o armário da surdez disse qualquer coisa que eu não entendi de primeira. Detalhe: ela estava caminhando na minha frente, de costas para mim. Qual a chance de uma pessoa com surdez severa entender a fala humana assim?
– Ah, esse aparelho não dá mais. Você precisa de um novo. Não está ouvindo nada do que eu digo.
Me senti uma palhaça. Eu sequer havia feito uma audiometria ou sentado na cadeira de atendimento do consultório, e a técnica de vendas mais batida da indústria já estava sendo usada. Meu sangue ferveu. Fiz a audiometria, aguentei mais meia hora de blablabla sobre como o meu aparelho não prestava e eu precisava de um novo (“se pagar à vista até amanhã às 18h, dou um ótimo desconto”) e me mandei daquele lugar.
Ontem, caminhando pelas ruas de Copacabana, parei em frente a 4 lojas de aparelhos auditivos e observei as paredes dentro de cada uma delas. Todas tinham fotos de pessoas de cabelos brancos ou grisalhos com um sorriso falso ao ar livre, e suas TVs estavam ligadas SEM LEGENDAS. Triste, mas real. E se é assim na zona sul do Rio de Janeiro meu povo, imagina no resto do país.
Os profissionais e lojas éticos e corretos existem SIM – não é à toa que trocamos tantas indicações valiosas sobre eles no Clube dos Surdos Que Ouvem. Mas eles são a ínfima minoria do que vemos nesse mercado. Desde que o Crônicas da Surdez nasceu, em 2010, coleciono milhares de relatos de pessoas que passam todos os dias por essas situações desrespeitosas. Pessoas com deficiência auditiva que são tratadas como idiotas por quem só pensa em vender o mais caro o mais rápido possível. A saúde do paciente não é prioridade, bater a meta de vendas da empresa, sim.
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