Zumbido no ouvido: o que pode ser? (E por que você não deve entrar em pânico)

Por Paula Pfeifer

Se você chegou até este post, eu consigo imaginar exatamente onde você está. Talvez deitado na cama, no silêncio da madrugada, encarando o teto enquanto um apito fino, um chiado de TV fora do ar ou uma panela de pressão imaginária faz uma festa dentro da sua cabeça. Ou quem sabe você esteja no meio de uma reunião de trabalho, tentando se concentrar, mas aquele “grilo nervoso” insiste em competir com a voz do seu chefe.

O susto é real. O pânico de “meu Deus, isso vai ficar aqui para sempre?” é paralisante. E a primeira coisa que fazemos é correr para o Google e digitar: zumbido no ouvido: o que pode ser?

Eu sei disso porque eu sou você. Meu nome é Paula Pfeifer, convivo com a surdez e com o zumbido desde a minha infância. Ele é a trilha sonora mais antiga das minhas memórias. E hoje, com dois ouvidos biônicos (implantes cocleares) e décadas de convivência com esse som fantasma, eu tenho uma missão: te tirar do escuro, te proteger dos golpes e te mostrar o caminho real — e científico — para o alívio.

Então, respire fundo. Vamos desligar o “modo pânico” e ligar o “modo investigação”.

Grupo de apoio para quem tem zumbido no ouvido causado por perda auditiva no CLUBE dos Surdos Que Ouvem

O que é esse zumbido no ouvido, afinal?

Antes de falarmos das causas, você precisa entender o mecanismo. O zumbido (ou tinnitus, para os íntimos da medicina) não é uma doença. Ele é um sintoma. Ele é a luz vermelha piscando no painel do seu carro avisando que algo no motor precisa de atenção.

Na grande maioria das vezes, o zumbido é o seu cérebro tentando compensar o silêncio causado pela falta de estímulos auditivos corretos (alô, perda auditiva). É um fenômeno de neuroplasticidade. Imagine que o seu nervo auditivo é um cabo que leva som para o cérebro. Se esse cabo para de enviar sinais (por causa de uma perda auditiva, por exemplo), o cérebro “aumenta o volume” interno para tentar encontrar algum som. Esse barulho de fundo neural amplificado é o que você escuta.

Mas o que desencadeou isso? Vamos às causas reais.

As 8 causas mais prováveis do Zumbido

Esqueça as teorias da conspiração. A ciência auditiva, corroborada por estudos de 2024 e 2025, aponta que as causas geralmente recaem nestes grupos. Vamos ver em qual você se encaixa:

1. Perda Auditiva: o campeão com 90% dos casos de zumbido

Aqui está a verdade nua e crua que ninguém gosta de contar: cerca de 90% das pessoas com zumbido têm algum grau de perda auditiva.

Pode ser aquela perda leve, causada pelo envelhecimento natural das células (presbiacusia), ou o resultado de anos ouvindo música no volume máximo com fones de ouvido. Quando as células ciliadas da cóclea morrem — e atenção: elas não se regeneram —, o cérebro cria o zumbido para preencher o vazio. Se você ouve zumbido, a chance de você ter uma surdez não diagnosticada é enorme. Corra para consultar com um médico otorrino especialista em surdez e fazer uma audiometria.

2. Excesso de cera

Às vezes, a resposta é simples e nojenta. Um tampão de cera encostado no tímpano bloqueia o som externo. O que acontece? O cérebro aumenta o ganho central e… voilà: zumbido. Um otorrinolaringologista resolve isso em 5 minutos com uma lavagem. (Por favor, nada de cotonetes, ou você vai empurrar a cera para o tímpano e acabar com uma perfuração!)

3. A disfunção da ATM

Você acorda com dor de cabeça ou no maxilar? Range os dentes (bruxismo)? A Articulação Temporomandibular (ATM) fica coladinha no ouvido. A inflamação ali pode “viajar” pelos nervos e ser interpretada como zumbido. Se o seu zumbido muda quando você abre a boca ou mexe o pescoço (zumbido somatossensorial), seu melhor amigo pode ser um dentista, não só um otorrino.

4. Problemas vasculares: o Zumbido pulsátil

Atenção aqui: Se o seu zumbido segue o ritmo do seu coração (tum-tum-tum no ouvido), isso é chamado de zumbido pulsátil. Isso pode indicar hipertensão, placas de gordura nas artérias ou questões vasculares mais sérias. Diferente do zumbido contínuo, esse tipo exige investigação médica imediata.

5. Medicamentos ototóxicos

Você sabia que mais de 200 remédios podem causar zumbido? Alguns antibióticos, diuréticos, quimioterápicos e até o ácido acetilsalicílico (Aspirina) em altas doses podem ser tóxicos para o ouvido. Se o zumbido começou logo após iniciar um remédio novo, corra para ler a bula e converse com seu médico.

6. Trauma acústico

Foi naquele show de rock e ficou do lado da caixa de som? Ou trabalhou com furadeira sem proteção? Esse é o zumbido do trauma. As células do seu ouvido gritaram por socorro e morreram. Às vezes o zumbido passa em alguns dias; às vezes, ele fica para sempre. Corra para o médico otorrino.

7. Infecções de ouvido (Otites)

Gripes, Covid-19 ou sinusites podem deixar líquido preso atrás do tímpano (otite serosa). Isso altera a pressão e gera zumbido e sensação de ouvido tapado. Tratando a infecção, o som geralmente vai embora.

8. Estresse e ansiedade

O estresse não cria o zumbido do nada, mas ele é o gasolina na fogueira. O nosso sistema límbico (a parte emocional do cérebro) se conecta com o sistema auditivo. Quando você está ansioso, seu cérebro entende o zumbido como uma ameaça e foca 100% nele. É um ciclo vicioso: o zumbido gera ansiedade, que aumenta o zumbido.

Zumbido no ouvido “do nada”: Devo correr para o hospital?

O fenômeno do “zumbido do nada” — aquele apito súbito que dura 10 segundos e some — é normal. É uma falha temporária na transmissão nervosa. Acontece com todo mundo.

Porém, existem os Sinais de Alerta. Procure um médico urgentemente se o zumbido vier acompanhado de:

• Perda súbita de audição (o mundo ficou mudo de repente em um lado).

• Tontura ou vertigem intensa.

• Zumbido em apenas um ouvido (unilateral e constante).

• Fraqueza facial ou dor intensa.

Perda auditiva súbita é emergência médica e tem prazo de validade para tratar (geralmente até 48h para iniciar corticoides). Não espere “passar sozinho”.

O alerta da “amiga chata”: cuidado com os golpes!

Estamos em 2025, e a internet virou terra de ninguém. Você vai ver anúncios do “Dr. Zumbido”, vídeos de médicos famosos (feitos com Inteligência Artificial/Deepfake) jurando que um “suplemento militar” ou uma “gota milagrosa” cura o zumbido.

Isso é MENTIRA. É golpe.

Não existe pílula mágica que regenere células ciliadas mortas. Não existe “protocolo de desintoxicação cerebral” com ervas que cure surdez. Esses estelionatários do zumbido se aproveitam do seu desespero para vender farinha a preço de ouro. A FDA e a ANVISA não aprovaram nenhum medicamento que cure o zumbido definitivamente. O que existe é tratamento e reabilitação auditiva, não pílula mágica.

O que realmente funciona? (Baseado em Ciência)

Se não tem cura mágica, tem o quê? Tem vida normal! Eu sou a prova viva disso.

1. Investigação médica séria: Procure um otorrino especializado e experiente em surdez

2. Audiometria: Você precisa mapear sua audição. Lembra dos 90%?

3. Aparelhos auditivos: Se houver perda auditiva, o aparelho é o tratamento padrão-ouro. Ele devolve o som ambiente (“enriquece” o ambiente sonoro), e o cérebro para de prestar atenção no zumbido. É física simples: ocupando o cérebro com som real, o som fantasma perde força.

4. Terapias de som e TCC: A Terapia Cognitivo-Comportamental ajuda seu cérebro a se habituar (acostumar) com o som, tirando o peso emocional dele.

Você não está sozinho nessa

O zumbido pode ser solitário, mas você não precisa passar por isso sozinho. O pior inimigo do zumbido é o silêncio e a desinformação. O melhor remédio é o som e o apoio.

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