A surdez neurosensorial é irreversível e não tem cura, e se você não usa PROTETOR AUDITIVO quando deve e precisa, está correndo sério risco de desenvolver uma perda auditiva. Falo muito sobre prevenção da surdez nas redes sociais, e percebo que poucas pessoas têm noção do perigo que correm em determinadas situações. É muito comum que shows ultrapassem os 100dB (e quase ninguém protege os ouvidos), que adolescentes e crianças usem fones de ouvido do jeito errado e uma série de outras coisas que deixam qualquer pessoa que já tem algum grau de surdez de cabelos em pé.
Para explicar tudo sobre protetor auditivo – e porque você deve começar a usá-lo – convidei uma fonoaudióloga expert no assunto, que trabalha com músicos e prevenção da surdez!
PROTETOR AUDITIVO: qual é o melhor, onde e como usar para proteger sua AUDIÇÃO?
“Olá leitores do Crônicas da Surdez, sou Aline Morais, fonoaudióloga especialista em audiologia. Além de trabalhar com reabilitação auditiva, tenho me dedicado há alguns anos à prevenção de perdas auditivas. Minha atuação nessa área é voltada principalmente aos profissionais da música e entretenimento, mas como em todo trabalho de prevenção e promoção de saúde, o objetivo maior é conscientizar a população no geral a respeito da saúde auditiva.
Bom, para se proteger de um som potencialmente perigoso para sua audição, você precisa saber reconhecê-lo. Sons acima de 85dB podem causar perda auditiva irreversível e/ou zumbido permanente, a depender do tempo de exposição e fatores pessoais. Isso sem falar nos danos não auditivos como insônia, aumento da pressão arterial, entre outros.
Não é possível saber qual indivíduo é mais ou menos suscetível aos danos do som forte, por isso, as normas regulamentadoras, como as da NR-15 do Ministério do Trabalho no Brasil, definem que um trabalhador exposto à ruídos acima de 85dB por 8h ao dia deverá utilizar equipamento de proteção individual (EPI) para a audição.
Para uma empresa medir o nível de pressão sonora que seus colaboradores estão expostos, geralmente é utilizado um decibelímetro. Mas calma, isso não significa que para você saber se o som está muito alto em uma festa, num show, ou mesmo na rua você vai precisar andar por aí com um equipamento desses!
Hoje em dia existem aplicativos muito confiáveis que fazem essa mensuração de forma precisa. Inclusive os iPhones e Apple Whatches (iOS superior ao 14) possuem essa função de fábrica. O próprio celular ou relógio emite uma mensagem de alerta ao detectar um som muito alto! Alguns aplicativos de AASIs também já possuem essa função.
Figura 1: tela do Apple Watch avisando sobre o som alto.
Como PROTEGER A AUDIÇÃO?
Muito bem, a partir do momento que você sabe que o som está alto demais, o que pode ser feito para se proteger?
A primeira alternativa, é abaixar o som! Claro que para quem tem perda de audição essa tarefa é ainda mais difícil, pois se o som estiver mais baixo, talvez não seja possível escutar ou entender. Se essa situação for recorrente, o ideal é conversar com o fonoaudiólogo para verificar se há algo que possa ser feito na programação e no ajuste dos seus aparelhos ou se há alternativas mais seguras como por exemplo o uso de streaming de áudio direto, microfone remoto, etc.
A segunda alternativa para se proteger do som alto é se afastar da fonte sonora. Supondo que você está num show, se você ficar bem perto das caixas de som, com certeza o som estará mais forte ali e, conforme se afastar, a intensidade do som que chegará nas suas orelhas irá diminuir! Então se possível, procure se afastar um pouco. Dependendo da intensidade do som, afastar-se 10 metros da fonte sonora pode diminuir até 20dB que chegariam na sua orelha. Você pode usar um daqueles Apps de mensuração de decibéis (ou decibels, as duas formas de falar estão corretas) que eu mencionei acima e testar.
Agora, suponha que você está em um show, percebe que o som está bem alto (a média desse tipo de evento é de 100dB) e você não conseguiu se afastar muito das caixas de som, pois o ambiente está lotado, o que fazer? Você pode lançar mão da terceira alternativa de proteção da audição: usar protetores auditivos!
E quem usa APARELHO AUDITIVO?
Mas Aline, eu uso aparelho auditivo! Como vou usar um protetor auditivo junto? Bom, realmente nesse caso é preciso olhar com ainda mais cuidado o tipo de protetor auditivo e como ele será usado. Mesmo para pessoas sem perda auditiva, dependendo da situação e preferências pode existir um tipo de protetor mais adequado e confortável, o ideal é consultar um especialista ou pesquisar bem antes de comprar.
No caso de pessoas usuárias de Aparelhos Auditivos, na situação de show que exemplifiquei acima, há três possibilidades:
- Mais indicado para perda auditiva leve e moderada: tirar os AASIs e usar um protetor moldado com filtro acústico*. Como esse da foto abaixo. Essa opção garante a atenuação média de 20dB (chegaria na orelha em 80dB) e a pessoa ainda estaria ouvindo bem a música.
Figura 2: Protetor moldado com filtro acústico na orelha do paciente. Acervo pessoal
*obs.: o protetor com filtro acústico abaixa o som sem abafar muito, sem mudar a qualidade sonora, por isso é mais indicado para situações de música, conversa e pessoas com perda auditiva. Mas existem sem filtros, com filtro ativo de ruído, além de outros modelos e formatos.
- Mais indicado para perda auditiva severa e profunda: usar o aparelho auditivo com molde fechado (caso a pessoa já não use fazer um para esse tipo de situação) e programação especial para exposição à som forte (corte de saída). Nesse caso o ideal é o fonoaudiólogo testar a atenuação do molde e a saída máxima na programação específica através da verificação com microfone sonda (mesmo equipamento usado no mapeamento de fala).
Figura 3: tela de ajuste de aparelho da Phonak, aba de ajuste de ganho e da saída máxima (MPO – maximum power output)
- Independente da perda: usar o aparelho auditivo + o protetor tipo abafador. Essa opção pode causar microfonia, pode ser desconfortável fisicamente e alguns podem achar estranho esteticamente. Porém, pode ser uma solução mais barata, não precisa de moldagem e garante uma boa atenuação do som. Nesse caso os aparelhos são mantidos na orelha e ligados para a pessoa poder conversar tirando um pouco o abafador ou para se comunicar via rádio/microfone (se for uma opção do protetor).
Mas Aline, se eu tenho perda auditiva, se já não escuto bem mesmo, por que eu preciso usar protetor auditivo? Porque você não quer perder o seu resíduo de audição, ou quer?!
Parece estranho, mas é compreensível que muitas pessoas pensem assim, pois dependendo do tipo de perda auditiva, a pessoa pode não ter a sensação de que o som está alto, para ela o som pode parecer “normal” ou até “baixo”. Mas, independentemente da sensação, o que importa é o nível de pressão sonora que está chegando ali na cóclea e “devastando” as células ciliadas auditivas.
A figura abaixo mostra a diferença de uma cóclea de um indivíduo antes e depois de 3 meses de exposição a sons de forte intensidade.
Figura 4: Estudo mostra células ciliadas da base da cóclea antes (B) após exposição ao ruído (D).
Viram só? O som forte “varre” uma região das células ciliadas, especificamente as células da base da cóclea, responsáveis pelos sons agudos. E não para por aí, aliás as pesquisas indicam que na verdade não começa por aí! A exposição a sons de forte intensidade ou mesmo à ruídos contínuos (mesmo não tão altos) mudam a representação do som no cérebro antes mesmo de aparecer uma perda auditiva no audiograma. Essa é uma das causas da chamada perda auditiva oculta (hidden hearing loss), mas isso é assunto para outro dia!
Mas, Aline, então quer dizer se eu ouço todo dia as minhas músicas preferidas no fone (ou no AASI) um pouco mais alto na academia (que é barulhenta) eu já estaria em risco? Depende! O risco depende do volume x tempo! A figura abaixo mostra qual é essa relação. Então, considerando que se você fica na academia por 1 hora, seu fone não pode exceder 94dBA, acredite, é muito fácil chegar nessa intensidade usando fones em um ambiente ruidoso.
Tempo limite de exposição ao RUÍDO
Figura 5: Escala de tempo seguro de exposição ao som forte conforme a intensidade – NIOSH
E, não posso deixar de destacar que o ruído ambiental é considerado um problema de saúde pública. Sendo assim, além de medidas de fiscalização e de punição aos infratores, o Estado deveria investir mais nas campanhas de saúde auditiva e de conscientização sobre os efeitos do ruído na saúde humana e no meio ambiente. Assim como é indicado que as empresas realizem mudanças coletivas que visem diminuir o som das máquinas, tornando o ambiente mais salubre para todos, a produção de shows, eventos, os próprios artistas, deveriam ter consciência e o cuidado de não expor seu público à sons tão fortes, além de priorizar locais que tenham uma acústica boa que não incomodem os vizinhos e a natureza. Inclusive há uma recomendação da Organização Mundial da Saúde para os eventos, veja aqui.
PROTETOR AUDITIVO: conclusão sobre as explicações da Fonoaudióloga
Vamos resumir então o que foi apresentado hoje sobre o tema PROTETOR AUDITIVO:
- Som acima de 85dB pode ser prejudicial à saúde no geral. Pode causar perda auditiva irreversível e zumbido permanente.
- Há três formas de se proteger do som alto: abaixar o som, se afastar da fonte sonora e usar protetor auditivo.
- Protetores auditivos podem e devem ser indicados de maneira personalizada.
- Pessoas com perda auditiva podem e devem usar protetores auditivos se forem ficar expostas à sons de forte intensidade.
- Para pessoas com perda auditiva e usuárias de AASI é possível fazer mudanças na programação dos aparelhos auditivos para a exposição ser mais segura ou usar protetores auditivos específicos.
- Devemos cobrar ações de conscientização do nosso governo sobre os cuidados com a saúde auditiva, assim como exigir que os produtores de shows e eventos tenham esse cuidado com o público.
É isso pessoal, espero que tenham gostado e aprendido o porquê é importante e como usar protetores auditivos! Caso tenham dúvidas, podem entram em conato através do Instagram da FOPI!
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