Dia 11/04/2014, sexta-feira, completei 5 meses de IC. Passei a tarde sendo atendida pela fono Márcia Cavadas. Foi a Márcia que me salvou quando a parte externa do meu implante enlouqueceu antes do Carnaval – achei que fosse ficar louca naquelas duas semanas. E aí nosso santo bateu bem batido! Quem estiver procurando fonoaudióloga no Rio de Janeiro, fica a dica, ela é fera.
Primeira coisa que fizemos foi uma audiometria, isso com a programação que estava no IC. Depois, reprogramamos e ele ficou muito melhor e mais alto. Publiquei essa áudio na FanPage do Crônicas no Facebook e me pediram para mostrar audiometrias antigas, então, aí vai. A primeira é de quando eu tinha 20 anos. A segunda, de quanto tinha 30 anos. A terceira, de 2013. Por último, a audiometria mais linda que já tive nessa vida, de 11/04/2014.
Com a programação pós-Carnaval, eu percebia que tinha voltado a não entender as coisas, como TV, por exemplo. Voltei a depender de leitura labial. Em casa começaram a reclamar que eu não estava ouvindo do mesmo jeito. Sentia o som baixo e abafado. Me sentia irritada a maior parte do dia em função disso porque, quando você se acostuma a ouvir bem de novo, ouvir mal é bem desesperador. No trabalho, pedi para sair do atendimento ao público. Parei de conseguir ler um livro e entender a novela sem olhar para a televisão. O IC pode dar problema como qualquer equipamento eletrônico, ou seja, quem usa precisa aprender a lidar com a frustração quando ele estraga ou fica ruim. Acho que a gente tende a ficar um pouco ‘petulante’ ao voltar a escutar bem, parece que nunca mais teremos algum tipo de problema com isso…
Com a programação que fizemos sexta-feira, foi um alívio. Voltei a ouvir claro e limpo, voltei a entender TV sem olhar e inclusive fiquei muito feliz por entender tudo o que o piloto disse no vôo de volta para casa. São coisas pequenas que fazem toda a diferença, e te dão segurança. Como viajo e pego muitos vôos sozinha, acho fundamental conseguir entender o que o piloto diz. Se não entendo fico imaginando mil coisas (ruins) e o coração salta pela boca. Aliás, amo viajar de avião usando o IC só para ficar testando se vou ouvir e entender tudo o que é dito durante o vôo. Já no ônibus, assim que entro, tiro. No aeroporto, percebi que entendi tudo o que diziam pelo alto-falante, salvo uma ou outra palavra.
5 meses de Ic ativado = 92% de compreensão de monossílabos a 50dB. Para quem não ouvia nenhum som até 110dB, que lucro, hein?
Estou na fase de decidir se faço o IC no ouvido esquerdo. Querer fazer, quero. Tenho certeza que teria benefícios muito bons. Adoraria acabar de vez com o zumbido no OE assim como aconteceu no OD algum tempo após a ativação. Adoraria ter uma melhor localização sonora. Adoraria entender melhor tudo o que me é dito e esquecer que existe leitura labial. Adoraria ter um IC ‘reserva’ no caso de um deles pifar ou dar problema. Adoraria melhorar 100% minha compreensão de outros idiomas. Adoraria melhorar ainda mais a minha voz. Adoraria ter a sensação de ter dois ouvidos ‘ativos e operantes’. Contras? Fazer outra cirurgia. Perder de vez o paladar – o paladar do lado direito não voltou até hoje. Passar por toda a chatice da recuperação – especialmente a parte de tontura e equilíbrio. Me acostumar a dormir do lado esquerdo, que é o que uso para dormir desde que me operei – me dá uma ânsia terrível dormir em cima da parte interna do IC, fico tensa e não consigo. Bate um medo de estar abusando da sorte, já que tive um resultado surpreendente com o primeiro IC.
Tenho lido muitos livros em inglês sobre implante coclear e cada um deles me surpreende com uma visão diferente sobre a experiência. Todos os autores passam pelos mesmos perrengues, o caminho é bem longo até se chegar numa programação ‘perfeita’. O legal é perceber que outras pessoas passam pelas mesmas coisas e têm as mesmas dúvidas. Me sinto bem menos ‘premiada’ com essa experiência de vida única – sim, quando é com a gente temos a sensação de que só nós passamos por isso em todo o planeta!!
A cada dia que passa fico mais feliz por ter feito o IC e todos os dias acontece algo que me faz ter clareza para entender como essa foi a decisão mais importante e certa que já tomei na vida. Tudo mudou para mim depois dele. O mundo é outro. Eu sou uma pessoa nova – tanto para o bem quanto para o mal, rsrsrs.
Outra coisa bonita é ter alguém que não só participa como gosta de participar de tudo isso comigo. Vai junto nas consultas, vai junto nos mapeamentos e sempre me lembra de algo que esqueci de perguntar ou nota algo que deixei de notar. Se preocupa com detalhes mínimos relacionados ao meu bem-estar X deficiência auditiva – como, por exemplo, descobrir a existência de um despertador vibratório de pulso e comprar pra testar e ver se facilita a vida. Acho que tive muita sorte de passar por isso tendo uma pessoa tão compreensiva e generosa ao meu lado. Aturar o meu mau humor/depressão/irritação/histeria nas semanas de IC pifado foi punk, admito. Nem eu mesma me suportava mais. Portanto, Lu, obrigada por tornar tudo mais leve e por segurar a barra a quatro mãos comigo.
Ah, uma história engraçada! A Márcia Cavadas e o Luciano Moreira fazem parte da mesma equipe de implante coclear no Rio, e como ele foi junto sexta-feira, comentou com ela sobre a minha saga. Saí de Santa Maria às 00:30, cheguei em Porto Alegre quase às 05:00, vôo às 06:11, chegada no Rio às 08:35, duas horas de congestionamento pós-Galeão e, claro, perdi a hora marcada na fono e remarquei. Parecia um zumbi e podia dormir umas horas antes de ir para lá à tarde. Só que não consegui porque me deitei com o IC e fiquei ouvindo os martelos da obra do apartamento ao lado e o ar condicionado armando e desarmando a cada 15 minutos. Quando ele contou isso pra Márcia, a reação dela foi: “Isso não tem cabimento! Era só desligar o IC! Dormir sem barulho nenhum não é para quem quer, é para quem pode, aproveita!”. E todos caímos na risada.
Dia 02/05 tenho consulta com o Dr. Lavinsky em Porto Alegre para falar sobre o segundo IC. Assim que tiver notícias, conto aqui! 🙂
7 Comments
eliane
30/07/2014 at 20:45Paula, me tira uma dúvida por favor, o som com o IC é platinado? Me disseram que sim mas foi uma pessoa q atua em hospital na área de neurologia. Portanto nada melhor do que saber de alguém que usa o IC.
Nara Esteves Lobato Melo
24/04/2014 at 15:31Oi Paula, meu IC está marcado para 11 de junho com o Luciano e o mapeamento será com a Márcia Cavadas. Ler seu depoimento me deu uma certa tranquilidade. Rezo para que eu consiga superar as dificuldades do início e tenha um bom entendimento das palavras depois. Beijos.
Valéria
16/04/2014 at 00:05É muito bom quando vc sabe identificar que o IC não está legal, mudou o som, etc…. O meu filho tem 06 anos, implantou com quase dois anos de idade. O mapeamento dele é de dois em dois anos em Bauru, acho muito tempo, principalmente para criança que está ainda aprendendo a oralizar. Ele não sabe diferenciar quando o IC não está legal, nunca reclama, embora às vezes vejo ele meio desligado, isso me preocupa demais! Bem, boa sorte para você, sempre leio seus posts e adoro!!!!
Bjsssss
Janise
15/04/2014 at 15:35Olá, Paula! Se o Otorrinolaringologista do HCFMUSP me fizesse esta pergunta: se eu quero fazer o implante coclear do outro lado, ah, sem dúvida, eu ACEITARIA! Não tenho medo de cirurgia, não. Tenho certeza que ouviria bem melhor. Às vezes, Paula, me vejo obrigada a ter o aparelho desligado, por causa dos ruídos, além dos latidos de cachorros, barulho de helicóptero, avião, enfim, atualmente qualquer barulho tem me deixado atordoada. Enfim, adoro ouvir, mas barulho não é o meu forte, não, rs. Vá em frente, Paula! Um beijo.
Karen
07/05/2014 at 03:46Janise, boa noite!
Eu prefiro parte de meu tempo em silêncio, principalmente na hora de dormir. Eu escuto muito bem com aparelho e qualquer barulho me acorda! Ou seja, tenho sono super leve!
Essa é a vantagem dos DA’s em não ouvir sons, principalmente para quem mora em cidades metrópoles e EXTREMAMENTE barulhentas! Eu, hein?
Não quero escutar 24h, não sei como os ouvintes aguentam…nem consigo imaginar como!
Outra coisa: o silêncio é muito importante, numa civilização que vivemos, deste modo podermos nos conhecer melhor, descobrir nossos potenciais e o nosso eu verdadeiro. Muitos tem medo, que impressionante!
Latidos de cachorro não me incomoda e sim, donos de cães que não sabem educar seus animais a conviver pacificamente com a sociedade e outros cães. Os outros barulhos não me incomodam, por uma questão simples: eles estão ai para sabermos identificar e estar de prontidão para emergências ou não.
Falando em emergência, que já ouviu sirene de ambulância? Com certeza que muitos e a meu ver parece um porquinho gritando e pior: a cabeça gira! É como se fosse uma tontura temporária. Aff…Ninguém merece!
Pior são os motores barulhentos de ônibus, de carros, motos e caminhões! Já me informei da possibilidade de fabricar motores silenciosos! kkkk… Só eu mesma! Existe sim essa tal possibilidade, porém o custo é muito alto e encarece muito no valor final da venda desses transportes rodoviários mencionados acima. Sabe o que eu faço? Fecho a janela ou desligo aparelho. Solução simples.
Beijos!
LUCIMARA CARNEVALLI ESTEVES
14/04/2014 at 17:17Anjo, parabéns e sucesso na decisão do outro implante.
Quanto Marcia disse que desligar não é pra qualquer um, ela está coberta de razão; lembrei de uma amiga que reclamava muito porque não conseguia dormir por conta de cachorros latirem a noite toda… sou feliz…realmente não sei o que é isso, durmo com o som dos anjos…DESLIGADA.
obs. Sou principiante em informática,nunca gostei,mas o golpe do destino fez com que eu pensasse melhor – gosto muito de um bom bate papo e por conta de vários anos sem os aparelhos inconscientemente fui me afastando de tudo e todos. Se mandei algo errado, gostaria de ser orientada. Adorei esta pagina(é assim que fala?), Ja mandei depoimento com foto, só não sei se foi pro endereço certo rrr. EU APRENDO!
Grande beijo,Lucimara
Renata Meirelles Maia
14/04/2014 at 16:59Oi!! Sempre fico feliz ao ler suas novas experiências auditivas. Infelizmente não posso nunca nem tentar o IC. Muitas vezes fico temerosa em pensar no meu futuro… Será que vou ter que viver no silêncio? Será que algum médico terá coragem de tentar me operar de novo? Será… será… Peço muito a Deus que preserve a minha pouca audição, pois eu sei o quanto ela é preciosa.