Já passei por uma infinidade de perrengues em hotéis pelo mundo inteiro quando viajava sozinha – e na época em que não escutava bem mesmo com aparelhos auditivos. Acho que o que mais me estressava era a questão do serviço de quarto, porque muitas vezes eu já estava debaixo das cobertas e queria pedir algo, aí olhava para o telefone, lembrava que não ia rolar e então descia até a recepção de pijama mesmo. Chato, hein? 🙁
O episódio que mais me traumatizou foi após a minha primeira cirurgia, quando minha mãe foi tomar banho e eu fiquei vendo TV na cama; ela caiu e se esborrachou toda no banheiro e ficou gritando e pedindo socorro. Eu, obviamente, não ouvi. Só vi ela saindo do banheiro no melhor estilo soldado rastejando pelo chão depois e me senti muito mal por isso…
Há pouco tempo atrás me hospedei num hotel maravilhoso no Rio de Janeiro e fiquei boquiaberta quando percebi que o sistema de TV tinha, literalmente, bloqueado a opção de legendas. Como assim??
Minha única surpresa boa até hoje foi em Nova York (post sobre isso aqui) mas, ainda assim, longe do ideal. O engraçado é que são centenas de milhões de pessoas no mundo inteiro com deficiência auditiva que precisam de acessibilidade em qualquer hotel. Surdos oralizados e sinalizados viajam, ué! Não ficamos presos em gaiolas longe da civilização…
Existem recursos de acessibilidade para surdos que são universais – legendas e aro magnético, por exemplo, são capazes de ajudar a grande maioria das pessoas que não ouvem ou ouvem mal. Acho utópico ter um intérprete de Libras de plantão num hotel, basta que o hotel tenha o contato de um que possa ir até lá quando for necessário – e isso vai refletir no valor da estadia, porque alguém precisa pagar essa conta. Não existe almoço grátis, e é por isso que acessibilidade precisa ser – com o perdão da obviedade – acessível e estar disponível 24hs.
O TripAdvisor e o Booking mostram apenas hotéis acessíveis a cadeirantes – os caras têm o poder de mudar o mundo nesse sentido, pois todos os hotéis hoje dependem deles. Eles precisam nos dar a opção de procurar hotéis acessíveis a surdos oralizados. Ops, foi mal! Para isso, esses hotéis precisam EXISTIR. Melhor dizendo, os hotéis precisam se adequar a esse público que, infelizmente, só cresce, e que possui poder aquisitivo e viaja pelo mundo. Não tem mistério, falta só boa vontade. Não é possível que hotéis precisem ser obrigados por lei a se adequar aos hóspedes que não escutam/escutam mal. Somos todos seres humanos e podemos todos precisar de acessibilidade um dia. Tão simples…
Quero ouvir vocês agora!
Levando isso tudo em consideração, se você conhece algum hotel brasileiro acessível a surdos oralizados, POR FAVOR, me fale. E se você já passou por bons e maus perrengues em hotéis, no Brasil ou no mundo, em função da deficiência auditiva, relate nos comentários. É por uma boa causa!
2 Comments
Thiago
23/06/2017 at 11:04Ainda sofremos desse problema, infelizmente… Como a Cristiane falou, precisamos ser mais ativos quanto a isso! E é engraçado que os poucos empresários hoteleiros que investiram na acessibilidade garantem hoje um excelente retorno econômico, superior aos que NÃO investem nisso. E olhando para esse cenário, eu me pergunto porque a grande maioria dos hotéis não correram atrás disso. Isso é preconceito social e falta de visão. Eles devem achar que isso é GASTO, sendo que na verdade é um INVESTIMENTO.
Cristiane
23/06/2017 at 08:06Talvez eles não sabem da nossa dificuldade! Em todos hotéis tem formulário para avaliar o hotel, eu acho que eu nunca sugeri melhoras na acessibilidade para deficientes auditivos! Acredita que nem eu pensei que eu tinha direito!! Agora lendo o seu post vejo como preciso ser mais ativa! Obrigada por tudo, eu adoro você! Beijos