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Crônicas da Surdez / Viajante Biônica

Sou SURDA e amo viajar: viajante biônica SURDA QUE OUVE

Sou uma surda que ouve e amo viajar num grau que é até difícil colocar em palavras. A última viagem que fiz foi em novembro de 2022, para Genebra na Suíça, numa reunião dos membros do Fórum Mundial da Audição da Organização Mundial de Saúde. Como relembrar é viver, trouxe esse post de 2016 de volta à vida.

No final, organizei alguns posts da série Viajante Biônica aqui do site, mas ainda falta organizar muitos deles para que todos apareçam nessa categoria. Se você estiver com paciência de pesquisar na lupa, vai encontrar inúmeros relatos de viagem antigos.

Sou uma SURDA que ouve e ama viajar

Cada viagem para fora do país me traz sentimentos e descobertas diferentes, e acho que isso está um pouco ligado à sensações do passado que ficaram gravadas em mim.

Até 2013, ao mesmo tempo em que amava viajar, também me sentia muito ansiosa antes e durante uma viagem em função das situações complicadas que precisava enfrentar por causa da deficiência auditiva.

Hoje, fico ansiosa esperando entender as coisas, as pessoas e sabendo que vou me virar bem em qualquer situação. Não sentir mais medo faz toda a diferença na minha vida.

Nova Iorque, 2016

Fui a NY de 29/11 a 5/12 e levei comigo um caderninho para anotar o que fosse acontecendo que estivesse relacionado à audição. Assim que cheguei ao Aeroporto do Galeão, me sentei numa chaise longue e fiquei ouvindo e entendendo os anúncios dos alto-falantes! A acústica da parte nova desse aeroporto está muito, muito boa!

No vôo, descobri um jeito novo de usar o MiniMic. Mas só o cabo de áudio me salva em voos longos – ele não detona as pilhas/baterias dos implantes e não me deixa na mão quando acaba a sua bateria porque ele não tem bateria, rá! Adoro! UPDATE: uma pena que a Cochlear tenha removido o cabo de áudio dos seus implantes cocleares mais novos, porque isso obriga os usuários a terem acessórios de conectividade que, além de caros, nos deixam na mão em voos longos.

Inclusive também usei do seguinte modo: IC direito conectado no MiniMic e MiniMic na lapela do Luciano, que estava no banco ao lado porém virado de frente pra mim, e cabo de áudio no IC esquerdo, ouvindo um filme espanhol sem legendas e entendendo. Se o cérebro não pifou dessa vez, não pifa mais… Luciano foi ao banheiro, que era mais lá na frente, e ficou falando gracinhas no MiniMic – achou que o sinal ia cair ao entrar no banheiro e seguiu falando. Quando voltou, repeti tudo o que ele disse e comecei a rir e ele: “Você estava me ouvindo????” Heehehehe!

O cérebro não conhece limites

Meu cérebro entende melhor e mais rápido filmes em espanhol sem legendas – como explicar isso se a minha exposição ao espanhol falado foi tão pouca se comparada ao inglês? Confesso que não entendo, até porque eles falam muito mais rápido.

Me meti a assistir o filme Absolutely Fabulous (daquele seriado britânico antigo com duas amigas alcóolatras muito doidas), áudio em português e legendas em inglês com cabo de áudio + MiniMic do outro lado.

Meu  cérebro ficou tipo MANDA MAISSSSS. Fiquei impressionada com a rapidez com que ele se acostumou e gostou dessa situação auditiva inédita. O cérebro humano não conhece limites, por isso quem tem deficiência auditiva não deve parar nunca de estimulá-lo das mais diferentes maneiras.

O vôo foi noturno, pela manhã, assim que abri o olho o comissário começou a falar comigo. Soltei um: “I’m sorry sir, I need to wear my hearing aids first!“, e ele disse “No problem!”.

Liguei os implantes e, mais tarde, ele voltou para me perguntar se eu tinha gostado do omelete e tive um momento Velha da Praça da Alegria, pois ouvi errado, entendi que ele tinha perguntado se eu queria leite. Espero que tenha sido o sono e a pá virada de ouvir/entender em três línguas (português, inglês e espanhol).

A ajuda do marido…

Meu marido está numa fase nova no que diz respeito à minha audição biônica. Agora, ele me força a me virar! Acho isso ótimo, pois inúmeras vezes já me fiz de louca e deixei que ele respondesse ou perguntasse as coisas por mim quando viajamos juntos. Dessa vez senti que ele me jogou pros tubarões! E isso é ótimo, porque me obriga a dar conta do recado. Obrigada, my love!

Ao chegar na imigração americana, fomos separados, Lu foi pra fila responder perguntas (ele adora dizer que eu serei barrada, hahaha) e passei direto. Só que eu estava no esquema MiniMic no IC direito ligado na lapela dele + IC esquerdo pegando o ambiente. Resultado: nos afastamos demais, o sinal caiu, fiquei só com o IC esquerdo que é mais baixo e a oficial chinesa que viu meu passaporte levou uns três HÃN da minha parte. Acontece…

Aprendendo a relaxar

Nessa viagem, aprendi a relaxar quando não entendo algo de primeira.

Perfeição não existe quando falamos de deficiência auditiva, seja ela do grau que for, e não adianta se estressar com isso. Houve uma situação na qual fui sozinha a um café e pedi um capuccino, o atendente me perguntou algo muito rápido e pedi pra repetir.

Foi então que lembrei de mim em Londres, em 2006, sozinha, sem usar aparelhos auditivos por teimosia, num McDonalds. O funcionário precisou fazer mímima para que eu entendesse a frase “Eat in or take away?” e eu saí da loja me sentindo um lixo por não ter ouvido e entendido – por um lado foi bom porque aquele foi um turning point pra levar a sério a minha necessidade de usar AASI’s. Ainda bem que a gente cresce e amadurece!

Ainda me surpreendo por estar caminhando na rua e ouvir/entender conversas ou pequenas frases isoladas das pessoas em inglês. Para quem achava, aos 31 anos, que jamais voltaria a ouvir uma frase em inglês na vida, é tipo ganhar na Mega Sena acumulada de Reveillon! |ZW

Relembrar é viver: leiam este post de 2011 sobre minhas experiências de viagem naquela época.

POSTS VIAJANTE BIÔNICA

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OS ERROS QUE EU JÁ COMETI ao comprar aparelho auditivo

Eu já passei pela saga da compra de aparelhos auditivos várias vezes. Já fui convencida a me endividar para comprar um aparelho auditivo “discreto e invisível” que sequer atendia a minha surdez. Já fui enganada ao levar um aparelho auditivo para o conserto na loja onde o comprei: a fonoaudióloga disse que ele não servia mais para mim sem sequer verificá-lo ou fazer uma nova audiometria. Já quase caí no conto do vigário de gastar uma fortuna num aparelho auditivo para surdez profunda “top de linha”, cujos recursos eu jamais poderia aproveitar devido à gravidade da minha surdez. Já fui pressionada a comprar um aparelho auditivo porque supostamente a “promoção imperdível” duraria apenas até o dia seguinte. E também quase cometi a burrada de comprar um aparelho de surdez que já estava quase saindo de linha por causa de um desconto estratosférico.

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About Author

Paula Pfeifer é uma surda que ouve com dois implantes cocleares. Ela é autora dos livros Crônicas da Surdez, Novas Crônicas da Surdez e Saia do Armário da Surdez e lidera a maior comunidade digital do Brasil de pessoas com perda auditiva que são usuárias de próteses auditivas.

4 Comments

  • Simone
    18/12/2016 at 13:16

    Paula, como estão AGORA os aeroportos brasileiros em relação aos cidadãos brasileiros surdos?

    Reply
  • MILENA LIRA FREIRE
    13/12/2016 at 14:46

    Olá Paula, com certeza irei usar isso com meus pacientes. Infelizmente, ainda temos alguns bem resistentes ao uso, mas não irei desistir. Feliz demais por esse seu relato que precisa ser amplamente divulgado.

    Reply
  • Gabriela Coriolano
    11/12/2016 at 22:46

    Paula, com este seu post você me incentivou a investir mais no treinamento. Muito obrigada!

    Reply

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