Como são as noites com uma filha surda
Fonte: Loles Sancho
‘As noites com uma filha surda são diferentes, complicadas às vezes e divertidas em outras. Quando Aitana ainda era pequena e não falava, queria dormir com sete ou oito chupetas porque percebeu que esse era o método que usava para nos chamar. Ao jogar as chupetas no chão ou contra a porta do armário, o barulho nos acordava e íamos ver o que ela queria. Agora, com sete anos, já fala e pode nos chamar com sua voz, mas ela não se escuta pois seus implantes estão no desumidificador e as baterias sendo recarregadas.
O jeito como nos chama agora, como eu dizia, é com sua própria voz, mas ela não se ouve. O que faz para confirmar estar chamando a pessoa certa é dizer: “Vem aqui mamãe, com M“. Afinal, quando você não se escuta, é complicado saber se pronunciou mamãe ou papai.
Algumas vezes ela diz: “Vem mamãe Loles, chamei a Loles!“, ou “Vem Javier, papai com P de papai!” Eu e Javier ficamos encantados de ver Aitana, sozinha e por conta própria, adquirir suas próprias estratégias para superar os obstáculos enfrentados por causa da surdez. Até aqui é quase divertido, mas o problema começa quando demoramos para responder aos seus chamados, pois é quando ela começa a dar uns gritos enormes no meio da noite: “Mamãaaaaaeeeee com M, veeeeeeeem!“. E mesmo que eu responda que já estou indo, não adianta nada porque ela não pode me ouvir.
O que fazemos nestes casos?
- Saímos correndo do quarto para chegar o mais rápido possível e não acordar os vizinhos;
- Acendemos uma luz para que ela veja que acordamos e que vamos responder ao seu chamado;
- Batemos no chão com os pés para que a vibração chegue ao quarto dela e assim ela perceba que acordamos
Quando chegamos no quarto é que a coisa complica. Algumas vezes ela quer nos contar algo e espera a nossa resposta. Sempre acendemos a luz do quarto para que possa nos ver e fazer leitura labial, mas às vezes é difícil para ela entender o que dizemos. Nestes momentos, pegamos papel e lápis, o melhor recurso que temos à mão na mesinha de noite para podermos nos comunicar. Às vezes ela pede para colocar os implantes para poder escutar e aí complica, pois eles estão no desumidificador no meio da noite e não é fácil remontá-los em 1 minuto. Bendita hora em que minha filha aprendeu a ler porque, desde então, temos um ótimo recurso para nos comunicar com ela no meio da noite.’

 
		 
			 
			 
			 
			 
			 
			
Que bacana ler isso. Eu que sou surda, fiquei admirada como ela vence os obstáculos. Mães e Pais sempre com com suas preocupações e todo amor possível 😀