Meu nome é Rosa dos Santos e sou mãe de uma filha surda. Ela se chama Rebeca Carolina, hoje com 15 anos e tem surdez severa bilateral.
Aos seis meses pensava que o desenvolvimento cognitivo de minha filha não estivesse dentro da normalidade. Foi aí que procurei um neurologista. Com alguns exames clínicos e ultrassonografia do crânio normais, o médico mandou que eu fosse para casa. Depois de mais seis meses procurei novamente outro neurologista… saí do consultório ouvindo do médico: “Vai embora que isso é coisa da sua cabeça, a sua filha é normal!”
Intuição de mãe
Alguma coisa me dizia que minha pequena Rebeca tinha algo diferente.
Alguma coisa distante, mas eu não sabia o que era. Rebeca foi uma filha desejada por mim e meu esposo. Alguns poucos meses depois de nossa ida aos dois neurologistas, resolvi leva-la a um otorrinolaringologista. Alguma luz surgiu dizendo que eu deveria procurar um otorrino. E desta vez tive certeza que Deus estava me orientando a leva-la ao médico certo. A família dizia que minha filha ouvia, mas eu tinha dúvida se ela ouvia ou não. Eram muitos pontos de interrogação.
A pediatra dizia que devia no momento somente observar, suspeitando de autismo. Alguns exames foram feitos: BERA e impedânciometria. Senti alívio por ter descoberto e uma insegurança em relação a como proceder e criar a minha pequena!
Como lidar com um bebê surdo? Como deixar os planos sonhados para um bebê ouvinte? Veio a culpa!
Fugi dos amigos. Fiquei em luto! Minha filhinha tinha morrido. Naquele dia nasceria uma outra criança que eu nunca tinha esperado e sonhado. Nasceria a Rebeca Carolina surda. Meu Deus! Eu exclamei! Nunca tinha visto falar sobre oralização. Nunca tinha lido nada a cerca de um bebê surdo.
Vieram as próteses auditivas e junto das próteses uma fonoaudióloga competente. Minha “salvadora” Maria Dirce, que teve a paciência de nos ensinar a lidar com a surdez e vir a ensiná-la a falar. Foram anos de exaustão! Os dias não foram fáceis. Mas a minha força de vontade era grande para poder ouvir a minha única filha chamar “mamãe”. Duas sessões na semana, e todos os dias em casa realizava comigo (sou professora).
Eu aprendi a lidar com a surdez da minha filha
A fonoaudióloga me auxiliava. Eu lia muito a respeito. Eu tinha sede de aprender a oralizar a minha filha! Meu esposo era calado em meio às circunstâncias. Eu sofria!
Mas sabia que chegaria um dia que a família seria completa. As lutas poderiam virar bonança. Sabia que mesmo calado meu esposo intercedia por mim. Aos três/quatro anos contamos com a ajuda singular de uma professora na educação infantil, Kamilla Segurado, que se tornou uma pessoa importante também no processo de oralização da nossa filha. Aos sete anos ela foi alfabetizada por uma professora/fono, Daniela Monteiro. Eu vi as mãos de Deus atuando em tudo, sabia que ele olhava com carinho para Rebeca.
Minha filha fala e lê normalmente. Usa aparelhos auditivos e nunca teve vergonha deles. Hoje sei que a luta pela oralização foi de grande valia. Ela reconhece que foi muitíssimo bom! Ela constantemente me agradece por tê-la levado a ouvir sons e a falar. Isso não tem preço. Em 2018, a Rebeca se prepara para ingressar no ensino médio junto com os seus AASI’s e FM!”
“Meu nome é Rebeca Carolina, tenho 15 anos, sou surda bilateral neurosensorial de grau severo e uso AASI’s desde muito pequenininha. Com o uso das próteses auditivas eu me sinto normal, segura como se tivesse ouvidos ouvintes. Eu sei que o aparelho auditivo não faz com que eu escute 100% mas me sinto bem. Faço tudo que um ouvinte faz, até escutar música no meu aparelho FM.
Na escola preciso prestar bastante atenção, sentar na frente e olhar bem para o professor mas com o aparelho FM, isso facilita bastante. Como surda oralizada reconheço que tenho minhas possibilidades de aprendizado. As dúvidas vêm, mas procuro meios de superar todos os dias.
A fala para mim é um esforço físico, lutei todos os dias e me esforcei juntamente com a tia Dirce, minha fono e minha mãe, e aprendi a falar. Devia ser muito difícil mesmo! Mas eu sempre gostei do tratamento. Eu cooperei!
Em 2017, na escola onde fiz o nono ano eles desafiaram aos alunos a escrever e apresentar um trabalho de conclusão de curso. O meu tema foi: “SURDEZ: OUVIR NÃO É TÃO FÁCIL”.
Me senti segura ao falar sobre isso, eu estava falando sobre mim e os conceitos lidos sobre surdez. Falei sobre algo que as pessoas pouco escutam. Falei sobre as lutas e como o surdo é incrível.
A minha palestrinha durou 30 minutos. O Crônicas da Surdez me ajudou muito. Eu sempre leio. E com certeza nos próximos anos vai me ajudar ainda mais a entender os avanços relacionados à surdez. “
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1 Comment
DARCY LARANGEIRA
15/01/2018 at 19:37Devemos sempre salientar a diferença entre escutar “to hear” e ouvir ” to listen” , um exemplo é o carro com anunciando produtos, muitos escutam e o procuram ou não. Outra coisa é falarmos aos políticos lá de Brasilia, não é? Os caras não ouvem, e esse é o pior surdo, aquele que não quer escutar e se escutar não ouve.
As novas tecnologias cairam como uma luva para as pessoas surdas. Pois tudo que se buscava era um canal de comunicação que trouxesse autonomia, liberdade e atendesse em tudo que se refere à comunicação. Ai temos os computadors, os celulares e várias metodologias que podem sim, levar conhecimento e melhoria na condição de ampliar o conhecimento buscado pela pessoa surda.
Grato por esta oportunidade, espero que meus comentários ajudem, trabalho no treinamento de profissionais surdos que se dedicam a trabalhar em indústria, onde as oportunidades são muito amplas e até o dia que começamos a trabalhar nessa área não tinha conhecimento dos problemas enfrentados pelos empregados de pessoas surdas, também os problemas de relacionamento dos empregados para com as equipes operacionais e os lideres de equipes.
Graças a essa oportunidade, já podemos sentir que portas se abrem e quanto mais pudermos trocar ideias e conhecimento melhor será para o jogo do ganha x ganha.