Na semana passada tive o privilégio de dar a palestra da Aula Inaugural da Liga de Audiologia da Universidade Federal de Santa Maria. Gente, que sensacional!! Primeiro, porque sou ‘filha’ da UFSM, onde me formei em Ciências Sociais em 2003. Segundo, porque foi a primeira vez que falei para uma platéria formada exclusivamente por estudantes de Fonoaudiologia. Quem me acompanha no Facebook viu que o convite era para falar durante trinta minutos, mas acabei falando durante duas horas inteiras – e acho que só parei porque já estava bem tarde e todo mundo precisava pegar o ônibus pra voltar pra casa. 🙂
Acho que o diálogo dos futuros fonoaudiólogos com alguém que não escuta, que perdeu a audição, que usa aparelhos auditivos, que sabe o que é a perda de um sentido e a posterior adaptação a esta nova condição de vida, é MUITO válido. Os professores ensinam a teoria, mas deve ser bem interessante ouvir de quem vive a teoria no dia-a-dia como as coisas realmente são, como nos sentimos, como é cansativo e às vezes estressante a adaptação de um novo aparelho auditivo, enfim, mil coisas.
No início até fiquei meio encabulada, mas depois da primeira leva de gargalhadas das gurias, me soltei de vez. Me soltei tanto que nem percebi que haviam alguns estudantes de fono do sexo masculino na platéia, só fui me dar por conta depois de contar o ‘causo’ Velha da Praça da Alegria feelings de uma ida a um médico que me disse “tira o sutiã e a calcinha”, hahahaha! Foi de chorar de rir, literalmente.
Com a Prof. Dra. Eliara Baggio e a Prof. Dra. Michele Vargas Garcia, idealizadoras e responsáveis pela Liga de Audiologia. A Eliara conheci em Maceió, num Encontro Internacional de Audiologia, e a Michele muito me ajudou na adaptação dos meus AASI quando trabalhou na Siemens. Essa dupla é incrível!
E às queridas alunas (e alunos!) que me assistiram, o meu muito obrigada pela presença e pelo carinho. Espero que levem a sério aquilo que comentei: a acessibilidade para surdos oralizados na UFSM está nas mãos de vocês! Descubram quem são os estudantes e os professores da nossa universidade que estão apanhando na sala de aula por causa da deficiência auditiva, ajudem-os, desmistifiquem o tema. Não é possível que em pleno ano de 2013 uma universidade ainda ache que acessibilidade para quem não escuta é (única e exclusivamente) igual a intérprete de Libras – aliás, o estudante que precisar de intérprete consegue facilmente, o estudante surdo oralizado que precisa de acessibilidade fica jogado às traças. Que isso, gente! Vamos mudar essa realidade. A UFSM está cheia de alunos e professores que não escutam e precisam de ajuda. Eu bem sei o que sofri nos meus tempos de estudante!
PS: Fiquei sabendo que aqui em Santa Maria uma surda sinalizada processou a UNIFRA e venceu a ação, de danos morais, pois a instituição de ensino não lhe forneceu acessibilidade, na forma de intérprete de Libras. Eu diria a todos os surdos oralizados que estão comendo o pão que o diabo amassou nas aulas porque a sua universidade não dá a mínima para as suas necessidades de acessibilidade, que façam o mesmo. Como disse na palestra, infelizmente, como as pessoas acham que estão nos fazendo um FAVOR, às vezes somente barraco e Justiça resolvem. Quem quiser ler sobre a ação, clique aqui. A gente tem obrigação de se fazer ser ouvido. Existe alguém que sofra mais numa sala de aula do que o aluno que não ouve e não entende o que está sendo dito pelo professor e pelos colegas? Não!
3 Comments
Evanilda Machado Paulo
04/04/2015 at 21:20tenho perda auditiva por sindrome de menieri
foi feito cirurgia par descomprimir a cloclea e ja uso aparelho no esquerdo pelo mesmo motivo gostaria de saber mais sobre o assunto
Carmela
13/06/2013 at 14:59A UFSM nem sabe o que é o sistemas de cotas dela,só oferece pq é obrigação. o aluno que se vire la dentro depois ouvindo ou não!! #prontofalei!!
João Marcos Adede y Castro
04/06/2013 at 11:13Prezada Professora: Obrigado pelo comentário sobre a ação movida por meu escritório. Estamos sempre aprendendo. Abraços. João Marcos Adede y Castro