As maiores DORES da PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA

19/10/2024

A surdez traz desafios significativos para aqueles que convivem com ela. Ser uma pessoa com deficiência auditiva te obriga a encarar muitas dores emocionais e as dificuldades práticas na vida diária. A surdez afeta a nossa vida cotidiana de inúmeras maneiras negativas, e é muito bom quando podemos falar abertamente sobre isso com outras pessoas que enfrentam as mesmas coisas que nós todos os dias.

As DORES da Pessoa com Deficiência Auditiva

A Dor Emocional:

A surdez pode causar sentimentos de isolamento e solidão. A incapacidade de ouvir claramente os sons ao seu redor nos deixar desconectados do mundo e das pessoas ao nosso redor. É difícil acompanhar conversas, compreender músicas e vozes, aproveitar os sons da natureza. Essa falta de acesso ao mundo sonoro pode gerar tristeza, frustração e até mesmo depressão.

Dificuldades de Comunicação:

Uma pessoa com deficiência auditiva também enfrenta desafios na comunicação. Conversas cotidianas se tornam um esforço, com os pedidos de repetições constantes e o esforço auditivo extremo. Ouvir em ambientes barulhentos é particularmente difícil. Conversas em grupo são extenuantes. Essas dificuldades de comunicação podem levar à ansiedade, baixa autoestima e uma sensação de não ser compreendido.

Impacto nas Relações:

A surdez pode causar tensões nas relações pessoais. Amigos e familiares muitas vezes precisam se ajustar e aprender a se comunicar de maneira diferente. A falta de compreensão sobre a surdez traz frustrações e conflitos nos nossos relacionamentos íntimos. É essencial que as pessoas ao nosso redor sejam empáticas, pacientes e procurem meios de comunicação efetivos para manter os relacionamentos fortes. Mas não esqueça: a comunicação e os relacionamentos são vias de mão dupla. Falo muito no Instagram que não temos licença poética para desistir de usar as próteses auditivas em casa porque isso passa a pior mensagem possível para aqueles que amamos.

Desafios no Ambiente de Trabalho:

A perda auditiva também pode afetar o desempenho profissional. Reuniões, telefonemas e interações no local de trabalho viram obstáculos significativos. É crucial que os empregadores forneçam suporte e adaptações adequadas, como legendas em reuniões ou sistemas de amplificação sonora, para garantir a inclusão da pessoa com deficiência auditiva.

Relatos de pessoas com DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Perguntei aos membros do Clube dos Surdos Que Ouvem sobre as maiores dores que a surdez traz para as suas vidas. Eis algumas das respostas que recebi:

Felicia:

Dói não absorver a informação em tempo real. Queria rir de algo engraçado no mesmo momento em que todos ouvem e riem, entender o som sem auxílio algum.

Lorena:

Antes de eu me tratar era a ansiedade e depressão.

Paula:

O preconceito, capacitismo, as piadas de mau gosto, falta se acessibilidade em órgãos públicos e outros.

Valéria:

Ouço o som mas não entendo o que as pessoas dizem e isso me deixa bastante triste. O barulho interminável no meu ouvido, cada dia um zumbido diferente. A falta de empatia e a falta de preparação das pessoas para lidar com a gente.

Carmem:

Querer ouvir, e não conseguir ouvir. Os ruídos atrapalham muito, mesmo com aparelhos, fazendo ajustes direto. A frase “deixa pra lá” dói também.

Tania:

Pra mim é não ter ajuda pra adquirir um aparelho bom, e quando alguém doa o aparelho se for do SUS não pode ser regulado para você.

Aniele:

O quemais me deixa frustrada é a falta de mim mesmo, ser quem eu era antes, uma pessoa alegre que gostava de conversar brincar e dar risada. Hoje sou uma pessoa isolada evito puxar conversa com medo de não conseguir participar, não participo das conversar em grupo pois não consigo compreender assim como os demais, muitas vezes ser excluída e ignorada, é o que mais dói.

Eliane:

A surdez fez meu cérebro funcionar na lenta, as vezes engato uma marcha três. Isso tudo é muito dificil, no trabalho e na convivência com a família. Frequentemente as pessoas olham e acho que gostariam de perguntar se tenho alguma debilidade. Entendo, é difícil para as pessoas que me conheceram quando eu não era surda mas agora estou do outro lado. Sou professora em uma escola de surdos e viver essa realidade me acalma. Vejo que a surdez é muito individual, é uma busca silenciosa. Muita, muita calma, paciência. As vezes paro e espero acontecer.

Roberta:

Medo. Eu me isolo por não entender as conversas

Fábio:

É o medo de ficar sem meu implante coclear. Ele estragar, ter que comprar peças para reposição, mandar para a assistência. É tudo muito caro.

Dalva:

Isolamento (profissional, social, familiar).

Silvane:

Pra mim é quando não consigo entender as falas quando faço acompanhamento com alguém doente na família. Fico muito nervosa, triste e preocupada.

Para ler os outros 100 depoimentos, entre para o Clube dos Surdos Que Ouvem.

Concluindo…

Ser uma pessoa com deficiência auditiva significa aprender a manejar desafios complexos enquanto você acolhe dores emocionais difíceis. A surdez nos obriga a repensar nossa perspectiva, a descobrir nossa força interior e a encontrar maneiras novas de me conectar com o mundo e de se adaptar a essa nova condição. Apesar de tudo, é importante lembrar que você não está sozinho. A tecnologia de aparelhos auditivos e implantes cocleares permite que muitas pessoas tenham uma melhor qualidade de vida e se conectem novamente ao mundo sonoro. Além disso, o apoio emocional de amigos que também são pessoas com deficiência auditiva, familiares e grupos de suporte pode ser fundamental para ajudar no processo de adaptação e aceitação.

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OS ERROS QUE EU JÁ COMETI ao comprar aparelho auditivo

Eu já passei pela saga da compra de aparelhos auditivos várias vezes. Já fui convencida a me endividar para comprar um aparelho auditivo “discreto e invisível” que sequer atendia a minha surdez. Já fui enganada ao levar um aparelho auditivo para o conserto na loja onde o comprei: a fonoaudióloga disse que ele não servia mais para mim sem sequer verificá-lo ou fazer uma nova audiometria. Já quase caí no conto do vigário de gastar uma fortuna num aparelho auditivo para surdez profunda “top de linha”, cujos recursos eu jamais poderia aproveitar devido à gravidade da minha surdez. Já fui pressionada a comprar um aparelho auditivo porque supostamente a “promoção imperdível” duraria apenas até o dia seguinte. E também quase cometi a burrada de comprar um aparelho de surdez que já estava quase saindo de linha por causa de um desconto estratosférico.

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Uma publicação compartilhada por Luciano Moreira (@drlucianootorrino)

About Author

Paula Pfeifer Moreira

Paula Pfeifer é uma surda que ouve com dois implantes cocleares. Ela é autora dos livros Crônicas da Surdez, Novas Crônicas da Surdez e Saia do Armário da Surdez e lidera a maior comunidade digital do Brasil de pessoas com perda auditiva que são usuárias de próteses auditivas.