Meu nome é Alice Mathiason Lewi, sou psicóloga, tenho 48 anos e perda auditiva progressiva em rampa, de moderada à profunda em agudos. A minha surdez se deve a uma mutação genética, sendo o meu o primeiro caso da família. Tenho dois filhos, de 18 e 20 anos que também tem perda auditiva.
Uso aparelhos auditivos há 20 anos. Sou leitora do Crônicas desde a época em que a Paula também usava aparelhos. Esse grupo (Grupo Crônicas da Surdez) me ajudou muito a lidar com as adversidades da surdez e a desenvolver a resiliência necessária para continuar seguindo em frente, me relacionando e trabalhando.
No meu trabalho no consultório é comum eu ser procurada por pacientes, inclusive sem surdez, que estão passando por momentos da vida em que os caminhos conhecidos não funcionam mais. A vida é dinâmica e está sempre nos propondo novos desafios.
Recentemente me dei conta de que poderia retribuir para o grupo, com o meu conhecimento, um pouco do que tenho recebido de vocês. Fiz uma palestra sobre Resiliência e Surdez para membros do Crônicas aqui de São Paulo. Compartilho um resumo do conteúdo com quem não pode vir.
Surdez e adversidade
A surdez pode ser entendida como uma adversidade, uma vez que se configura como uma dificuldade ou obstáculo que interfere na maneira como apreendemos e nos relacionamos com o mundo.
Resiliência
Resiliência é uma capacidade humana, inata e universal de superar as adversidades da vida e de ser por elas fortalecido. Não significa negar ou eliminar as dificuldades, uma vez que resiliência não é invulnerabilidade, ao contrário, a adversidade é condição para que possamos desenvolver a resiliência.
Não podemos evitar ou escolher as adversidades, mas podemos transformar a maneira como as enfrentamos. O enfrentamento é um processo ativo, de força e ação, que inclui um movimento de fazermos algo por nós mesmos. Tem como condição o vínculo com a vida e a busca da mudança e da renovação.
Esse processo inclui momentos de tristeza e desânimo, a dor precisa ser respeitada e acolhida. No entanto, não dá para ficar paralisado por ela, temos que seguir em frente. É um processo dinâmico, não é um estado definitivo, voltamos a nos desestabilizar e novamente nos reerguemos, numa eterna equação entre os desafios e os nossos recursos.
Frequentemente um período de crises é um período de descobertas, um momento em que não conseguimos manter o antigo modo de fazer as coisas e entramos numa curva acentuada de aprendizado. Às vezes é preciso uma crise para iniciar o crescimento.
Quando o caminho traçado anteriormente não funciona mais, o resiliente retoma a caminhada e traça um novo caminho, continua em frente mesmo que não consiga visualizar aonde vai chegar. A pedra no caminho também é uma oportunidade de transformação.
Resiliência implica em ressignificar e reavaliar a nossa jornada. Ao nos revermos e nos apropriarmos da nossa história, incluímos as nossas falhas e imperfeições na busca de um sentido e um propósito de vida.
Os fatores que favorecem o desenvolvimento da resiliência são: compreensão, tolerância, auto reflexão, flexibilidade, confiança, adaptabilidade, otimismo, bom humor, criatividade e estabelecimento de vínculos saudáveis e de pertencimento.
Esse grupo nos oferece esse importante lugar de pertencimento, aqui estamos entre iguais, não nos sentimos sozinhos. Vemos todos os dias histórias inspiradoras de pessoas que deram a volta por cima. Surdos como nós, que aprenderam com as dificuldades a se reinventar e descobrir novos projetos e propósitos. Precisamos ter coragem, atitude e esperança de que cada um de nós, apesar da surdez, pode continuar a sua caminhada, descobrindo as sementes preciosas que muitas vezes se encontram dentro dos espinhos.
1 Comment
Maria Luiza
08/02/2019 at 10:01Indico o Centro Auditivo Audiofonocenter
Muito satisfeita com os aparelhos! Muitos bons!! Mas uma vez, obrigada por tudo!