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Crônicas da Surdez

5 Maneiras de Apoiar Ativistas e Criadores com Deficiência

Os ativistas e criadores de conteúdo que são pessoas com deficiência se dedicam a promover a conscientização necessária para que as mudanças culturais aconteçam.

É um trabalho incansável…e super cansativo! Precisamos MUITO de aliados!

As pessoas se sentem desconfortáveis de falar sobre deficiências em geral. Esse assunto assusta, afasta e deixa as pessoas nervosas por puro e simples desconhecimento.

Já perdi as contas de quantas vezes notei que meu interlocutor estava constrangido, com medo de dizer algo ‘errado’ na minha frente. E isso é uma bobagem. Somos todos humanos e temos que estar abertos aos assuntos e temas que ainda não dominamos.

FALANDO EM NÚMEROS

Em março, a OMS lançou o Relatório Mundial da Audição, que informa que hoje 1 em cada 4 pessoas possui algum grau de surdez no mundo. Significa que, só com deficiência auditiva, temos 1,5 bilhão de pessoas. Fora todas as outras deficiências.

E mais: as PCDs são a maior minoria do planeta! Mas o marketing de outros movimentos engaja e emociona muito mais, não é mesmo? Que tal nos ajudar a mudar isso?

Sinto falta de apoio de várias formas, e acredito que inúmeros ativistas e creators PCDs, idem. Por isso, compartilho aqui maneiras de apoiar o nosso trabalho.

1: COBRE ACESSIBILIDADE

A acessibilidade é uma responsabilidade coletiva. Sempre digo que é uma péssima ideia você não se envolver na construção das mudanças que o mundo precisa, porque um dia você (ou alguém que você ama) pode precisar delas.

Em todos os ambientes que você frequenta, analise a presença e a falta de acessibilidade. Entenda que ela não é sinônimo exclusivo de rampa de acesso, longe disso.

Por exemplo: em todas as escolas temos alunos com algum grau de perda auditiva. Quando a mãe de um deles pede por acessibilidade digital (legendas) nas aulas online, em geral, não tem sucesso. Imagine se TODAS as mães participassem dessa cobrança juntas! Em um dia, o problema estaria resolvido.

Quando você se cala ou não ergue a voz quando tem oportunidade perante a falta de acessibilidade, está sendo conivente com o problema. Acessibilidade dá acesso a quem não consegue sozinho (seja por não caminhar, não ouvir, não falar) e não é um luxo.

Mês passado, dei uma palestra para a AmCham do Rio de Janeiro. O público-alvo eram executivos de RH de inúmeras companhias. Não havia nenhuma pessoa cega ou com baixa visão naquele dia mas, mesmo assim, iniciei a minha fala fazendo minha audiodescrição. As pessoas com deficiência não precisam estar presentes para que você relembre boas práticas de acessibilidade e inclusão. Todos saíram sensibilizados e, com certeza, mais atentos.

Sei que tenho fama de “a chata das legendas” porque pontuo a falta de acessibilidade digital o tempo todo. Me orgulho disso porque sei dos inúmeros caminhos que já abri apenas por deixar um comentário no Linkedin, Instagram ou Facebook. Você não precisa – e nem deve – ser agressivo na cobrança, apenas assertivo. Me dói quando vejo executivos se gabando de campanhas de publicidade que custaram zilhões e não têm legendas, que são uma coisa tão básica e necessária. Aí, deixo a minha opinião. Costuma funcionar bem! Experimente fazer o mesmo.

2: COMPARTILHE LINKS DO NOSSO TRABALHO

Quando você compartilha links, vídeos e fotos de criadores e ativistas PCDs, você está dando visibilidade e alcance para o trabalho dessas pessoas. Raríssimos PCDs conseguem essa visibilidade e se tornam mainstream. E temos pessoas incríveis fazendo um trabalho de altíssimo impacto social – em geral, sequer ganhando algum dinheiro com isso.

Lembre-se: somos historicamente invisibilizados e silenciados em todas as esferas da sociedade.

Mesmo em 2021, esse ainda é o padrão. Seja um aliado do movimento PCD ajudando a aumentar o alcance da nossa mensagem. Curta, comente, compartilhe. Só assim vamos mais longe.

3:TENHA CUIDADO COM A VEROCIDADE DO QUE COMPARTILHA SOBRE PCDs

Um bom exemplo disso é quando as pessoas começam a compartilhar compulsivamente links pedindo apoio algum projeto de lei que quer obrigar TODAS as pessoas com surdez a terem Libras como primeira língua.

Por desconhecimento do assunto, a galera sai compartilhando com a alegação de “empatia”. Mal sabem que estão prejudicando milhões de pessoas enquanto pensam estar apenas ajudando…

Como assim? Nenhuma pessoa surda “tem que” nada e Libras não é a “primeira língua” de toda pessoa surda. Existe uma diversidade gigantesca na surdez. E em qualquer outra deficiência.

É preciso ter um mínimo de responsabilidade ao compartilhar coisas que podem ser fake news sobre deficiências. Compartilhe quando a fonte são pessoas cujo trabalho tem credibilidade.

Cuidado ao compartilhar conteúdos de teor capacitista, como posts caça-cliques do tipo: “Veja este exemplo de superação, um anjo enviado dos céus”, “Se esse cadeirante consegue, você também!”, “Você não tem nenhum problema, veja essa pessoa que mesmo com tudo isso, consegue fazer tal coisa!“.

Somos pessoas. Não somos anjos, heróis, exemplos de superação e nem estamos aqui para inspirar aqueles que não têm deficiência nenhuma. É uma questão básica de ampliar o olhar e respeitar o próximo.

Na dúvida, fica a dica: tente imaginar a mesma coisa num contexto que envolva pessoas negras ou trans. Se sentir que é ofensivo, saiba que também o é para pessoas com deficiência. Exemplo: “Veja este negro que apesar de ser negro conseguiu um emprego!“. Absurdo, não? E por que uma chamada como “Veja esse surdo que apesar de ser surdo trabalha” passa batido? Pois é!

4: CONECTE PESSOAS

Se você tem capacidade de abrir alguma porta para ativistas e criadores PCDs, não deixe de fazer isso. Se já é difícil chegar nas pessoas “certas” não tendo deficiência alguma, imagine tendo.

Faz pouco tempo que nosso trabalho passou a ser valorizado e reconhecido, mas ainda recebemos convites do tipo “venha contar sua historinha de superação para motivar o time da nossa corporação multimilionária grátis?.

Pois é! Triste, mas acontece muito. Por isso, não deixe de conectar pessoas quando você sabe que, fazendo isso, alguma mágica pode acontecer.

Se você trabalha em lugares onde a representatividade de PCDs quase não existe, use as oportunidades que estiverem ao seu alcance para mudar as coisas. Você vai ver que a maioria das pessoas e empresas nem para um minuto para refletir sobre como ser mais inclusiva. É como se diversidade e inclusão se resumisse apenas a questões raciais, de gênero e orientação sexual.

Ao conectar pessoas, você abre mentes e expande possibilidades.

5: SEJA ACESSÍVEL

Assim como cobramos acessibilidade, também precisamos ser acessíveis. E é fácil ser acessível. Basta querer e gastar uns minutos a mais do seu dia.

Todas as redes sociais permitem fazer descrição das imagens para leitores de tela. Com um app chamado CapCut, você adiciona legendas automáticas de altíssima qualidade aos seus stories e vídeos. Infelizmente, ainda não existe uma tecnologia que permita fazer o mesmo com janela de Libras, mas acredito que em breve irá existir.

A acessibilidade tem, sim, um custo, e não podemos ignorar isso. Mas a tecnologia vem avançando exponencial e rapidamente. Ela é a maior aliada das pessoas com deficiência hoje. Use-a!

GOSTOU DESSE CONTEÚDO?

Que tal começar já a pôr em prática uma das dicas e se tornar nosso aliado? Quase 2 bilhões de pessoas precisam, e agradecem! 🙂

Grupo SURDOS QUE OUVEM

Você se sente sozinho? Solitário? Não tem com quem conversar sobre a sua surdez? Gostaria de tirar mil dúvidas sobre os seus aparelhos auditivos? Gostaria de conversar com pessoas que já usam implante coclear há bastante tempo? Precisa de indicação de otorrino especializado em surdez e fonoaudiólogo de confiança?

Somos 22.000 pessoas com algum grau de deficiência auditiva no Grupo SURDOS QUE OUVEM. Para ganhar acesso a ele, basta se tornar Apoiador Mensal do Crônicas da Surdez a partir de R$5.







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LIVROS CRÔNICAS DA SURDEZ

Neste link você encontra os seguintes livros:

  1. Crônicas da Surdez: Aparelhos Auditivos
  2. Crônicas da Surdez: Implante Coclear
  3. Saia do Armário da Surdez

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About Author

Paula Pfeifer é uma surda que ouve com dois implantes cocleares. Ela é autora dos livros Crônicas da Surdez, Novas Crônicas da Surdez e Saia do Armário da Surdez e lidera a maior comunidade digital do Brasil de pessoas com perda auditiva que são usuárias de próteses auditivas.

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