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Implante Coclear

A adaptação ao Nucleus 6 da Cochlear

Uma coisa é fazer um implante coclear e ir direto para o Nucleus 6. Outra coisa é ser usuário do Nucleus 5 há algum tempo (no meu caso há 1 ano e 5 meses) e então fazer o upgrade. O que aconteceu comigo foi o seguinte: fiz o mapeamento do N6 e coloquei três programas, isso no meio de março. Programa 1 era o mesmo mapa que eu usava no N5, Programa 2 era anti-ruído e anti-vento e Programa 3, o Scan. O Scan é um pré-processamento do sinal automático. Isso quer dizer que o processador faz a leitura do ambiente e modifica a direcionalidade do microfone e os filtros dependendo do local em que o usuário está. Dessa forma, o ruído é diminuído e os sinais de fala são enfatizados. Existe um pré processamento diferente para situações de vento, de fala no ruído, de música, de silêncio, só de ruído, etc.

n6

Acontece que segui usando com o programa 1, pois os outros dois me davam a sensação de ouvir menos – na verdade, com menos intensidade, exatamente o que acontece muitas vezes quando trocamos de aparelho auditivo para outro mais sofisticado/moderno. Até que no início de abril me deu um estalo: ‘fiz o upgrade pela tecnologia de ponta e não estou fazendo uso dela’. Falei com minha fonoaudióloga, que me explicou que o período de adaptação que o cérebro precisa para pular do N5 pro N6 e aproveitá-lo como ele merece (e aproveitar tudo o que ele tem para oferecer) é de no mínimo 15 dias. Então, tomei a decisão de só usar o Programa 3, o Scan, durante duas semanas para ver o que acontecia. E, nesse período, fui anotando minhas impressões.

Dia 1: No início, senti que estava ouvindo menos do que antes. Alguns barulhos eu precisava virar para trás e checar sobre o que realmente se tratavam. Quando começou uma ventania no meu escritório, a primeira coisa que pensei foi: “Nossa, nunca ouvi o vento assim com um implante coclear“. A sensação foi a de estar ouvindo o vento como antigamente, quando eu ouvia com minha audição natural. Levei um baita susto!! A rua ficou muito mais silenciosa, o que até achei bom – em março, isso tinha me deixado com o pé atrás. Acho que quem fica muito tempo sem ouvir, quando volta a ouvir quer ouvir tudo, quer intensidade e volume, tudo junto e misturado. Em lugares como restaurantes precisei me concentrar na conversa da mesa ao lado para sacar alguma coisa. As coisas que preciso ouvir como campainha, telefone e interfone, ouvi sem dificuldade. Prestando atenção na minha voz, ela parece mais ‘refinada’.

Dia 3: Fui na terapeuta e pela primeira vez relaxei de verdade na consulta, pois dei o Mini Mic a ela. No consultório tem um ventilador de teto mega barulhento que me impedia de ouvir tudo o que ela dizia. Com o Mini Mic, problema resolvido. Depois falo sobre ele, que é o acessório wireless que veio junto com meu Nucleus 6.

Dia 4: Fui numa exposição no CCBB. Muita gente, muito barulho. Troquei pro P1 (meu mapa antigo) para comparar o que ouviria nele com o que estava ouvindo no Scan e fiquei bem feliz porque o Scan filtrava todo o barulho desagradável e me permitia conversar com as pessoas ouvindo suas vozes de um jeito claro e limpo. A sensação agora é de muito mais conforto e muito menos intensidade de barulho. Sinto que escuto as mesmas coisas que no P1 com o Scan, porém preciso prestar mais atenção pois elas chegam mais ‘baixas’.

Dia 6: Minha primeira impressão, em março, quando usei o Scan para falar ao telefone foi: “Não curti”. Agora, só consigo pensar no quanto estou gostando de falar ao telefone com ele. Ainda estou me acostumando com a TV, pois às vezes parece que o P1 me faz entender melhor a fala sem leitura labial na TV, mas aí mudo os programas e vejo que é só força do hábito, pois o Scan ‘fecha’ os barulhos ao redor e aumenta bem o volume da TV que eu ouço – mas não vou negar que com ele ainda preciso prestar mais atenção na telinha (não nas bocas, mas prestar atenção no que estou ouvindo). Fomos num barzinho super movimentado à noite, e o Luciano reclamou que não levei o Mini Mic comigo. Minha reação foi: “Mas com o Scan está tão confortável, não escuto barulho, só a tua voz e a das pessoas por perto“. Para comparar, coloquei no P1 e disse pra ele que não conseguiria ficar lá se tivesse apenas o P1 como opção para escutar – era barulho demais, ruído demais. Não sei como eu gostava disso antes!

Dia 7: Moro no décimo andar e daqui de cima estou escutando o barulho daquele ‘pi-pi-pi-pi‘ que as garagens fazem quando suas portas abrem para avisar que tem carro saindo. Inclusive daqui acho o barulho bem alto. A título de comparação, a primeira vez que usei o Scan estava na rua, uma garagem abriu, esse barulho começou, eu estava do lado e ouvi super baixinho – voltei para casa reclamando que isso tinha me causado um certo medo, já que sou bem avoada na rua. Quando saio na rua tenho feito comentários como “Como pude viver sem isso?”. Usei o Scan na piscina (na verdade, ofurô) e ouvir com ele e o Aqua+ é quase igual a ouvir sem usar a capa à prova d’água – comparei com o P1 e foi infinitamente melhor. A capa Aqua+ dá uma ‘esquisitada’ no som do IC, mas o Scan resolveu isso.

Dia 8: Fui num salão relativamente calmo mas não ouvi quando a manicure me chamou e nem quando a moça do cafezinho chamou. Em compensação, ouvi e entendi sem esforço a conversa de duas mulheres um pouco à minha frente, e ainda paguei o mico de me meter na conversa delas…

Dia 9: As ligações telefônicas usando o Scan me lembram a qualidade de áudio de um FaceTime de áudio. Muito, muito limpo e claro o som.

Dia 11: Não sinto a mínima falta de ficar ouvindo o barulho do ar condicionado alto como ouvia antes. Esse filtro de ruído do Scan é uma delícia. Aliás, por que eu gostava tanto de ruído mesmo?

Dia 13: Os latidos do meu cachorro não me irritam como antes. Quando a nossa diarista passa o aspirador, é muito engraçado, pois o Scan diminui o barulho dele a quase zero e consigo ouvir a minha voz falando e a dela sem grande esforço. Que ouvinte seria capaz disso?

Dia 15: Estou em casa, no décimo andar. Estava no Scan e quis comparar com o P1. Comecei a ouvir alguém passando vassoura no chão lá na rua. Tipo…pra quê ouvir isso? Comecei a ouvir o barulho insuportável do ar condicionado do vizinho. Não preciso ouvir isso também. Volto pro Scan, minha voz fica muito mais alta, esses barulhos detestáveis diminuem 90%. Acho que pela primeira vez, desde que voltei a ouvir através de um implante coclear, estou experimentando o que é ter conforto auditivo. Ouvir é maravilhoso, entender o que se ouve, nem se fala. Mas ouvir, entender e se livrar de ruídos inúteis é a oitava maravilha do mundo.

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Veredicto: que bom que o Scan existe!! O IC permite até quatro programas no controle remoto, mas a vida real nos apresenta uma infinidade de situações que apenas 4 programas não dão conta auditivamente falando. O uso do Scan, no meu caso, deu muito certo. Precisei de um empurrão inicial e de força de vontade, tal qual como acontece quando fazemos upgrade de aparelho auditivo, pois o amor não é imediato. O que eu sinto com ele após o período de adaptação é que não preciso me esforçar mais como antes e nem me forçar a achar algum conforto em certas situações chatas. O Scan pensa por mim o tempo todo e me faz ouvir do jeito certo seja ao lado de um aspirador, seja num bar barulhento ou no meio da rua com mil carros passando. O que o Scan faz por nós que não ouvimos naturalmente é o sonho de consumo de todo ouvinte: filtrar todos os ruídos chatos, desagradáveis, irritantes e que nos deixam zonzos e focar na voz humana. Definitivamente: EU AMO A TECNOLOGIA!

Se alguém perdeu, aqui está um vídeo testando o N6 no ruído…

About Author

Paula Pfeifer é uma surda que ouve com dois implantes cocleares. Ela é autora dos livros Crônicas da Surdez, Novas Crônicas da Surdez e Saia do Armário da Surdez e lidera a maior comunidade digital do Brasil de pessoas com perda auditiva que são usuárias de próteses auditivas.

15 Comments

  • […] é biimplantado. Até pouco tempo ele usava dois Freedom e agora conseguiu um upgrade para o Nucleus 6. Vou pedir a ele que conte nos comentários deste post como procedeu para conseguir o upgrade, pois […]

    Reply
  • Eliane Corrêa
    25/04/2017 at 19:47

    Meu enteado perdeu aos 18 anos, toda audição, devido a meningite, e na época conseguimos fazer uma cirurgia de implante coclear, porém o aparelho deu defeito e ao tentarmos comprar a peça, descobrimos que esse aparelho, está fora de linha (Fredom), e o que substituiu é absurdamente caro, Nucleus 5 ( 26.000,00), totalmente fora da realidade da nossa família.
    Ele está sem ouvir à 3 meses, e tememos que ele possa perder a memória auditiva
    Não sabemos mais o que fazer para que ele não perca a audição.
    Por favor, nos ajude, caso conheça algum fornecedor desse aparelho, que seja mais barato, ou que parcele no cheque
    Somos do Rio de janeiro
    Conto com a ajuda e orientação.

    Grata pela atenção,
    Eliane Corrêa

    Reply
    • Paula Pfeifer Moreira
      27/04/2017 at 10:19

      Eliane, procure a Politec do Rio de Janeiro! Fica na Barata Ribeiro. Acho que parcelam em ate 10x.

      Reply
  • Dalton
    08/07/2016 at 18:16

    Parabéns pelo Blog, muito interessante com informação e humor . Uso o IC a 5 anos e semana que vem farei a troca pelo N6 . Meu freedom está rachado, colado com super bonder, bateria durando 3 horas (durava 12 no A1), sem botão de controle, já caiu em lago, (acredite, grudou um mes depois na isca articial do meu sobrinho e funcionou novamente menos a bateria), enfim detonado totalmente…Então para mim caiu do céu essa troca Paula. Com certeza seu relato será muito útil na minha adaptação. Obrigado. Depois conto como foi. Ah sim, consegui a troca pelo plano de saúde graças a nova regulamentação da ANS. Um abraço !

    Reply
    • Lilian
      05/10/2016 at 21:22

      Oi Dalton,
      Tudo bem?
      Como foi o processo para esta troca?
      Gostaria de maiores informações.
      Obrigada

      Reply
    • Poliana
      02/06/2017 at 12:09

      Olá Bom dia! Sou mãe de uma implantada, ela tem 7 anos e implantou com 1 ano, ela usa o Freedom e está em situação precária como o seu…rsrs. Gostaria de saber como vc fez para conseguir a troca pelo plano de saúde, pois eles alegam que só fazem reparos e não troca do aparelho. Desde já agradeço!

      Reply
      • Paula Pfeifer Moreira
        02/06/2017 at 15:51

        Poliana, nao troquei pelo plano, eu mesma fiz o upgrade.
        E o segundo Ic foi já o N6
        beijos

        Reply
        • Cristiane
          26/08/2018 at 22:25

          Boa noite!!

          Gostaria de saber se fez a compra do aparelho novo no Brasil, minha mãe precisava de uma peça do Nucleus 5 que esta com problema (processador de fala) e nao acho no site da Politec, eles tambem nao tem loja fisica, estamos angustiados a procura, pois ela sem ouvir
          cris_pereira04@hotmail.com

          Reply
    • Tayanna
      29/08/2018 at 20:21

      Boa noite DAlton,

      Estou passando por um problema em casa com minha filha, ela posssui o IC no ouvido direito, usava o NUCleus 5, porem faz uns 3 meses que ele nao funciona mais, enviei para a POlitec e estao me cobrando 9 mil reais para consertar, como faço para conseguir esta troca??? Voce poderia me enviar um email? O plano tem carencia?? muito obrigada pela ajuda tayannamarques@hotmail.com

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  • Roberto Martins
    16/02/2016 at 11:42

    Bom dia, meu filho usa o nucleus 5 e agora em julho fará 5 anos de implante, ele tem 6 anos já é esta super bem e falando mega bem, porém eu queria saber se posso comprar o se tem informações sobre a compra do nucleus 6 na Austrália? Se eu poderia ir na própria fábrica comprar um outro aparelho para ele o se eles não vendem e tem essa restrição apenas para os distribuidores?
    Poderiam me colocar em algum grupo de implantados 85 997149286

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    • Horianna
      04/10/2017 at 10:35

      Olá tenho essa dúvida também, gostaria de saber se conseguiu comprar o n6 na própria fábrica?

      Reply
  • […] O Nucleus 6 foi uma dádiva na minha vida, me proporciona hoje momentos que jamais tive ao longo de 26 anos como deficiente auditivo. Ouvir minha voz, ouvir música ‘de verdade’ (com todos seus instrumentos e notas – não apenas um monte de sons sobrepostos e distorcidos), conseguir participar da conversa na mesa e começar a fazer novas amizades está fazendo parte deste processo, desta caminhada que permanecerá até depois dos dias atuais. Compete ao implantado tomar esta jornada para o bem ou para o mal, hoje escolho a primeira, sem dúvidas! Escolho ter planos, escolho a felicidade de saber que os Implantes Cocleares estão melhorando a cada dia mais, escolho ter esperança de conseguir comprar o Aqua+ para poder ouvir o som da água da piscina, de ser jogado na piscina pelos amigos sem me preocupar em molhar o AASI, de que o Bluetooh melhore ainda mais a qualidade das músicas, de finalmente dar a mim o respeito que perdi por todos estes anos. Neste sentido o upgrade do Freedom para o Nucleus6 foi fantástico!! […]

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  • O poder do Mini Mic
    26/08/2015 at 18:25

    […] Meu Nucleus 6 veio com o Mini Mic de acessório wireless, e eu me divirto com ele. Não pensei que viveria para ver uma evolução tecnológica dessas, e como usuária antiga de aparelhos auditivos, sei do que estou falando e lembro da época em que o máximo que eles faziam era amplificar mal e porcamente todos os sons. Hoje o Mini Mic faz pelos usuários coisas impensáveis, como neste vídeo abaixo (para ver o vídeo com legendas em português clique aqui) no qual eu estou a uma grande distância do meu interlocutor e ainda assim ouvindo o que ele diz como se estivesse sussurrando no meu ouvido. […]

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  • juliana
    18/04/2015 at 18:16

    adorei sua descrição !!! sobre a mudança dos aparelho relamento o N6 e
    vamos dizer a Ferrari do IC !!

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  • Janise
    16/04/2015 at 21:58

    Olá, Paulinha! Td bem? hoje em dia a tecnologia é o que dá mais prazer na vida. Tudo muito rápido e tentando ajudar o ser humano… Mas acredito que este aparelho deve ter um preço bem salgado, né? Já se encontra à venda no Brasil? Um bj.

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