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A surdez não tratada é muito perigosa em um casamento. Ela leva a uma série de desgastes diários e repetitivos, causados pela teimosia do cônjuge que finge que não tem uma perda auditiva. Ou, pior, causados pelo marido ou esposa que já recebeu um diagnóstico de surdez mas preferiu voltar para casa e agir como se nada estava acontecendo.

Quando alguém me escreve reclamando ‘ meu marido não escuta ‘ isso sempre vem acompanhado de uma série de indícios de que a surdez está ali. TV ligada no último volume sempre, não ouvir campainhas e interfones, ter dificuldade para entender o que os outros dizem em ambientes mais barulhentos, pedir para você repetir várias vezes o que disse e não escutar quando é chamado. Verdade seja dita: raras foram as vezes em que um marido me escreveu reclamando que a mulher não escuta. Os maridos que não admitem que precisam ir a um médico otorrino verificar a audição são maioria esmagadora por aqui…

Vamos começar pelo básico. A surdez tem graus: leve, moderado, severo e profundo. Surdo não é só quem não ouve nada, e, quando você tem algum grau de surdez e não busca reabilitação auditiva, isso afeta o seu cérebro de muitas maneiras negativas (inclusive acelerando o aparecimento de declínio cognitivo e demências).

Os NÚMEROS da surdez no Brasil e no mundo

Segundo o IBGE, há 2,3 milhões de pessoas com algum grau de surdez no Brasil em 2022. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 1,5 bilhão de pessoas têm algum grau de deficiência auditiva (surdez) hoje no mundo. O Relatório Mundial da Audição, lançado dia 3 de março de 2021 – e disponível aqui – trouxe dados oficiais e atualizados sobre a população global com perda auditiva.

A surdez é uma condição que afeta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo. Quando não tratada, fica difícil ignorar o impacto significativo que ela passa a ter na sua vida diária. A comunicação é a base de qualquer relacionamento, e a surdez não tratada dificulta demais a comunicação entre os cônjuges. Por exemplo, uma pessoa com surdez não tratada não ouve seu cônjuge pedindo ajuda ou pedindo para realizar uma tarefa chata em casa. Isso pode gerar frustração e ressentimento no cônjuge que ficou sem resposta. E por aí vai…

MEU MARIDO NÃO ESCUTA

Aqui estão principais impactos negativos da surdez não tratada em um casamento:

  1. Dificuldade na comunicação diária entre o casal, o que pode levar a mal-entendidos, conflitos e ressentimento
  2. Sentimentos de frustração, isolamento e solidão, tanto para o parceiro surdo quanto para o parceiro ouvinte
  3. Aumento do estresse e da ansiedade devido às dificuldades de comunicação, o que pode afetar negativamente a saúde mental de ambos os parceiros
  4. Falta de conexão emocional devido à incapacidade de compartilhar experiências e emoções de forma eficaz
  5. Redução da intimidade sexual devido à incapacidade de se comunicar adequadamente sobre desejos e necessidades
  6. Perda de conexão social com amigos e familiares, uma vez que o parceiro surdo pode se sentir isolado em eventos sociais
  7. Aumento do risco de acidentes, especialmente se o parceiro surdo não conseguir ouvir avisos de perigo
  8. Problemas financeiros, já que o parceiro surdo pode ter dificuldade em encontrar e manter um emprego devido à surdez não tratada
  9. Piora da saúde geral, já que a falta de tratamento adequado para a surdez pode levar a outras complicações de saúde, como depressão, ansiedade e o aparecimento de demências.

QUAL O IMPACTO DA SURDEZ NO SEU CASAMENTO?

A surdez pode impactar o seu casamento e a sua família como um todo de muitas formas. Isso vale tanto para o cônjuge surdo quanto para o cônjuge ouvinte. Afinal, usar um aparelho auditivo não cura a surdez e nem fazer com que as dificuldades desapareçam num passe de mágica. Pelo contrário: a adaptação aos aparelhos auditivos leva tempo e precisa do apoio da família para acontecer mais rápido.

Embora eu tenha batido muito na tecla do casamento, tudo o que está escrito neste post tem a ver com as relações familiares em geral – especialmente das pessoas que moram na mesma casa. TODA  a família é impactada pela surdez de um membro da família, em maior ou menor grau, seja ela tratada ou não.

A perda auditiva balança as coisas dentro de casa. Você já parou para pensar como a comunicação oral é rápida e dinâmica? Basta um “hãn” para quebrar o fluxo das coisas. É por isso que quando um grau de surdez é adicionado à equação acaba desequilibrando a dinâmica familiar e também a do casal.

Mas calma! Temos que acolher todo mundo nesse rolê. Não é porque você é surdo que isso te isenta de se comportar como um adulto no seio da família e não é porque você é ouvinte que tem o direito de ser grosseiro em relação à deficiência alheia. Muita calma nessa hora. Que tal a gente começar praticar a escuta empática e a comunicação não violenta? Elas são transformadoras.

A surdez não tratada requer superar o desafio do início da reabilitação auditiva. Quando o cônjuge surdo para a tratar a surdez, é hora daquele que ouve aprender um monte de coisas, alinhar expectativas e ajustar comportamentos. É trabalho diário pra todo mundo.

Pedi aos membros do Clube dos Surdos Que Ouvem para que compartilhassem suas experiências…

Tuti

Aqui ficam bravos quando peço pra repetir, tanto marido como filhos. É tudo muito complicado, eu escuto mais ou menos, tem que falar virado pra mim, mas quando vejo que se irritam eu faço de conta que entendi.

Marta

Meu esposo tem bastante paciência. Quando fala comigo e não entendo, falo que não entendi. Ele pede pra aumentar o fone que as vezes está baixo. Levamos de boa. As vezes ele fala bem alto para que eu possa entender direito. As vezes não entendo as pessoas falando. Ele ouve e me fala o que falaram e respondo as pessoas. O único problema é que as vezes ele se irrita por falar algo e eu não entender e falar outra coisa – ele fala que não foi isso que ele falou, e entendo a irritação nesse momento.  Uma coisa muito legal que ele fez uma vez foi comprar uma televisão nova para o quarto e configurar ela com legendas. Ele disse que é omelhor pra mim, pois se eu não entender alguma coisa já leio em baixo.

Daphne

Tem as coisas chatas e as coisas muito bacanas. Não vê nada que não tenha legendas, tudo que faz pensa na possibilidade de eu poder acompanhar junto. Algumas coisas me incomodam mas não é algo que necessariamente é ruim. Eu não gosto de avisar a todas as pessoas que tenho deficiência auditiva, não falo de ficar no “armário da surdez”, mas sim de estranhos. Exemplo: Estou em um caixa para compra rápida, quase não há diálogo. Não vejo a necessidade de alertar. A pessoa vai e alerta, acho que deve ser uma decisão minha. Caso eu precise dialogar com a pessoa, eu aviso caso contrário, não. Isso é até por uma questão de celeridade e privacidade. Uma coisa que me mata com qualquer pessoa é a falta de paciência. Repetir é chato mas é chato para os dois lados: para quem quer escutar é cansativo o tentar ouvir e para quem fala o repetir. Só que não tenho escolha, tenho que ser paciente para ouvir e já a outra pessoa se não possuir a deficiência deveria ter a generosidade de prosseguir com paciência.Por esse motivo fui extremamente insistente com o meu marido antes de iniciarmos o namoro. Falei das dificuldades, fui muito clara sobre tudo, da questão da paciência e sobretudo frisei que simplesmente não admitia um: “deixa para lá”. Acredito que para uma pessoa com surdez é o cúmulo da ignorância. Uma pessoa com deficiência se esforçando para escutar a pessoa e ela em um gesto de indiferença, desiste. É uma coisa que me dói muito.

Aline

As vezes meu marido esquece que sou surda ? mas logo lembro ele, e falo: não esquece que você casou com uma pessoa surda, não fique querendo falar comigo quando estamos em cômodos diferentes e fale de frente para mim. Mas ele é super paciente e compreensivo.

Nara

Um estresse diário, meu filho e marido esquecem que sou surda, falam de costas, falam andando e tenho que ficar pedindo pra repetir. Não aprendem! Mas não é de maldade, são desligados mesmo. As vezes eu que desligo total, deixo pra lá e vamos seguindo.

Samy

Meu marido tem mais paciência com a minha surdez até que eu mesma. Ele fica sempre do lado certo que é o que eu escuto. Nunca fica bravo de repetir várias vezes.

Michele

Meu marido em 90% é muito amoroso e paciente como estou na surdez profunda não consigo ouvir mais nada ele conta o dia dele para mim por watssap e fala de frente devagar ou deixa mensagem em papel. Às vezes o estresse e cansaço do dia a dia ele acaba falando deixa pra lá quando eu não entendo ou deixa de conversar mas eu compreendo, somente fico triste porque antes a gente batia altos papos e agora está difícil

Laura

Aqui é uma luta. Meu companheiro insiste em todo santo dia falar com a boca cheia, ou de longe, ou de costas pra mim. Da uma canseira…

Fernanda

Às vezes a chateação é porque meu marido fala andando e de costas pra mim. Eu não entendo, peço pra repetir e ele suspira. Isso me mata.

Fernando

Relacionamentos devem ser baseados em cumplicidade, amor e respeito. Depois de 18 anos casado, me tornei surdo após uma internação de Covid em UTI por 90 dias. Desde então, a comunicação no relacionamento mudou (óbvio). Entretanto minha esposa é extremamente acolhedora, compreensiva e faz de tudo para que nossa comunicação seja boa, assim como minhas filhas. É claro que há de vez em quando o esquecimento e se fala de costas ou muito baixo, mas é natural. A chave está em conversar sobre o que incomoda, o que é melhor e alinhar as expectativas. Ser sincero consigo mesmo e com seu parceiro é fundamental. Conversem! E aceitem as diferenças! A convivência normaliza as diferença

Fran

Talvez a maneira que meu marido trata minha surdez seja a parte mais bonita do meu casamento… Meu marido sempre explica para pessoas que eu não escuto. Ele me ajuda em reuniões, quando finjo que escuto algo, ele me passa por mensagem discretamente o que foi dito. E também nos acompanha (eu e minha filha) nos hospitais.

Silvana

Por 19 anos fui casada, ele até era paciente com relação a isso, outras vezes não. Após dois anos do nosso divórcio, ele colocou suas próteses auditivas também. Sua perda auditiva foi muito intensa, e sentiu na pele a situação do constrangimento que é não conseguir ouvir. Mas meu ex-marido tinha atitudes diferentes das minhas, falava que tinha problema e pronto. Faleceu esse ano e viveu intensamente.

Luana

Pra mim é muito ruim pra conversar, estou quase me separando. Sempre sai discussão pois eu não entendo o que está sendo falado e, quando peço pra repetir, ele perde a paciência comigo e fala que nem o aparelho está me ajudando muito. Lugares barulhento são horríveis.

Gil

Aqui é um treinamento diário, meu marido esquece o tempo todo que sou surda e fala comigo estando de costas pra mim, e eu incansavelmente peço repita mais de frente pra mim, aí eu vou entender. Mais tem dias que simplesmente finjo que escutei e entendi.

Ale

Creio que nenhum relacionamento seja 100% perfeito, eu sou surda, meu marido cego, usa grau altíssimo (usa lente e óculos), então brinco que somos: cegos, surdos e loucos… (Como no filme). Às vezes perdemos a cabeça um com o outro, pois também não é fácil lembrar toda vez, o importante é sempre falar das suas necessidades e “ouvir” as necessidades do parceiro e assim, vamos nos respeitando e juntos superando as nossas dificuldades, torcemos pelas nossas conquistas.

Dalva

Nunca tive dificuldade de comunicação com meu marido, que já faleceu. Ele tinha boa dicção e uma boa entonação na voz, tanto que foi preciso alguém de fora do nosso convívio para perguntar se eu tinha “problemas de audição “. Mas bastava eu querer ir a algum lugar, tipo show, festa ou qualquer evento ele já rebatia “vai fazer o que lá se tu não escuta?” Isso me destruía e acho que, mesmo depois de tantos anos, ainda tenho sequela psicológica por causa disso.

Silvane

Um dia meu marido gritou comigo na frente de um vendedor. Larguei mercadoria e fui chorando para o carro. Quando ele entrou, gritei com ele e disse: “NUNCA MAIS FAZ ISTO COMIGO!”.  Melhorou uns 90% desde então.

Helena

Na minha casa é tudo muito difícil. Como em muitos lugares, eu acredito. Sempre escuto, do marido ou da filha, “Está sem aparelho?”; “Este aparelho está com defeito…”. Ou o que acontece com frequência: falam alguma coisa, não entendo, peço para repetir e só dizem: “Nada, nada….não falei nada.”

Roberto

Minha ex-namorada, apesar de muito amorosa, costumava falar comigo de costas para mim. Eu avisava que não entendia e ela se exasperava. Coisinhas que causam pequenos desgastes.

Sebastião

Fortaleceu nossa união. Fiquei surdo, total, após 30 anos de casados, aos 58 anos de idade. Quando minha esposa fala comigo tenho sua voz gravada na memória, é como se a estivesse ouvindo. Perdi a audição do ouvido direito com 7 anos e desde então a dificuldade de entender ,quando falavam deste lado ,ensinou-me a girar a cabeça para que o ouvido esquerdo pudesse ouvir, e , ao mesmo tempo eu fixava o olhar na boca de quem falava. Assim pratiquei leitura labial durante 5 décadas, sem perceber. Só descobri que lia os lábios quando perdi audição do esquerdo, ficando surdo total. Conversamos muito e ela aprendeu a falar sem emitir som (podemos falar em público sem que outros saibam o teor do nosso diálogo). Quando a surdez era unilateral, minha esposa ficava do lado surdo para avisar que pessoas ,que estavam deste lado, falavam comigo, evitando constrangimentos.

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About Author

Paula Pfeifer é uma surda que ouve com dois implantes cocleares. Ela é autora dos livros Crônicas da Surdez, Novas Crônicas da Surdez e Saia do Armário da Surdez e lidera a maior comunidade digital do Brasil de pessoas com perda auditiva que são usuárias de próteses auditivas.

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