Talvez você pense que Yoga e Meditação não são para você. Fechar os olhos te dá palpitações. Quem sabe já até tentou uma vez, mas nunca mais se esqueceu daquela aula traumatizante nada zen. É…eu sei como é isso. Meu nome é Leandro Pereira, sou surdo neurossensorial bilateral com zumbido e sei exatamente como você se sentiu.
Esses desafios, fizeram eu criar um método adaptado para pessoas com surdez oralizadas chamado SURDOYOGA™.E sabe por qual razão? Porque o Yoga/Meditação salvaram a minha vida. E eu quero te contar como isso aconteceu.
Nasci em 1978 (não espalha, hein!) e sou filho de pais separados. Me lembro de ir junto com meu irmão mais novo, acompanhar muitas vezes minha mãe nas noites, que ligando de um orelhão (telefone público), cobrava o atraso da pensão alimentícia do meu pai. Naquela época eu não entendia muito bem, apenas sentia muito a ausência dele em nossas vidas e via o tamanho do esforço de uma mãe professora com dupla jornada para sustentar os filhos. Muitas vezes, ela deixava de comer para que pudéssemos nos alimentar.
Meu pai foi muito ausente. Isso criou um rancor grande no meu peito até que um dia, decidido, disse:
“ – Mãe, não precisa mais ligar mais para o pai, eu arranjei um emprego”.
Eu tinha só 14 anos e todo o dinheiro que recebia ia para minha mãe. Era pouco, mas o suficiente para acabar com as noites indo ao orelhão pedir dinheiro da pensão. Um alívio para todos nós. Um alívio para mim. Aos 16 anos, tive meu primeiro emprego registrado. Entre fazer um hambúrguer e outro, limpar uma mesa aqui e ali, comecei a estudar inglês de forma autodidata e depois frequentei umas duas escolinhas de bairro que o dinheiro dava para pagar. Mas foi o suficiente para que em alguns anos, conseguisse um emprego como agente de atendimento a passageiros no aeroporto de Guarulhos.
Foi a primeira vez que vesti uma gravata na vida. Eu me lembro bem disso, porque anos antes, guardei um recorte de jornal que ensinava a dar um nó em gravata. Pensei comigo: “Um dia vou precisar!” Minha mãe se espantou em descobrir que eu já sabia dar nó em gravata. Engraçado como algumas situações em que um pai ensinaria seu filho, eu aprendia observando.
Me lembro de uma cena do filme dos anos 90 chamado “Máquina Mortífera”, onde o pai (Danny Glover) ensinou o filho a se barbear. A cena era assim…O pai chega por trás do filho que está em frente ao espelho do banheiro se barbeando, pega o barbeador da sua mão começa a passar no rosto do filho dizendo:
“ – Filho, você deve passar a navalha na direção do fio da barba para não se machucar.”
E foi assim que aprendi a me barbear. Talvez essa minha característica observadora, tenha me ajudado a fazer leitura orofacial sem que eu percebesse “disfarçando” a minha perda auditiva por alguns anos.
O trabalho na companhia aérea
Foi com o trabalho em companhia aérea que eu consegui me formar em Design, conhecer lugares lindos no mundo e finalmente aprender inglês. Tudo por causa daquelas revistinhas de música do Bon Jovi, uns livros velhos e muita persistência.
Sou uma pessoa com surdez pós-linguala. A perda auditiva chegou na minha vida já adulto. Em 2017, deitado na cama para dormir, de repente, começo a ouvir um zumbido nos dois ouvidos: “Piiiiiiiiiii”. O zumbido era agonizante dia e noite, o que me levou ao médico otorrino para saber o que eu tinha.
O diagnóstico de surdez
Feito os exames, fui diagnosticado com uma surdez neurossensorial bilateral moderada e progressiva com perda bem nas frequências da fala. Os médicos dizem que é um gráfico incomum, mas nenhum deles souberam dizer a causa, que provavelmente tenha sido por alguma virose ou por doença autoimune.
A surdez já estava ali há alguns anos, mas eu ia disfarçando com leitura labial que eu nem sabia que fazia! Fui descobrir isso anos depois, na pandemia. Foi o zumbido que me colocou de frente com o inevitável. O diagnóstico de surdez chegou como uma bomba nuclear e junto dele, as recomendações de uso de aparelhos auditivos, psicoterapia – com provável indicação de psiquiatria por já ter leves sintomas de depressão – e também praticar algum esporte.
Foi o momento mais difícil da minha vida. Estava vivendo um casamento onde duas pessoas estavam infelizes com uma filha de 2 anos, eu ficando cada vez mais doente, lidando uma ansiedade crônica e enfrentando o capacitismo de não querer encarar a surdez. Eu estava literalmente no fundo do poço.
Voltando para casa, com a cabeça a mil, pedi a Deus que me desse alguma resposta para lidar com aquela situação, pois eu não sabia o que fazer. Chegando em casa, minha filha me recebe animada para mostrar o que havia aprendido na escola. Era uma postura de Yoga. Encostada na parede ela faz a postura da árvore (Vrksasana) e diz do jeitinho dela:
“ – Eu me amo! Eu amo todos vocês! Eu amo o universo! Gratidão!!!”
Yoga e surdez
Essa foi a resposta da vida para o que eu havia pedido minutos antes voltando pra casa. Confesso que resisti um pouco em fazer a aula de Yoga, mas o medico recomendou exercício físico. Nas primeiras aulas era muito difícil entender – eu ainda não usava aparelhos auditivos – mas eu ficava bem na frente dos professores e ia levando do jeito que dava. Apesar dos desafios, fui sentindo que aquilo estava me ajudando a lidar com a surdez e o zumbido.
A cada aula sentia meu corpo menos tenso e minha respiração mais tranquila. Apesar das dificuldades para entender, com persistência, era incrível a sensação de bem estar que sentia ao final de cada aula. Comecei a perceber que este estado de espírito começava a influenciar minha vida fora da aula também, deixando minha mente mais focada e calma para lidar com as questões da vida.
Voltei a fazer terapia e junto com as práticas de yoga percebia que minha ansiedade ia diminuindo cada vez mais. Fui deixando o capacitismo de lado e me olhando com acolhimento, amor e compreensão. Comecei então a usar aparelhos auditivos e saindo do armário da surdez. O Yoga e a meditação foram como seu eu pegasse um enorme espelho virado para os outros – que muitas vezes nem se importavam comigo – e virasse para mim, para que eu me reconhecer, aceitar e acolher sem bloquear o amor a mim mesmo….sem fugir.
Me tornei uma pessoa menos reativa. Vivendo e agindo com mais clareza da minha responsabilidade em tudo o que falo e faço. A transformação interna trouxe a coragem – apesar da dor e do luto – de deixar um casamento em que estávamos infelizes. Foi um momento difícil, mas a forma inevitável de tentarmos recomeçar a vida pelo direito de sermos felizes e eu um melhor pai para a minha filha. Mas ainda faltava eu lidar com algo importante na minha vida: meu pai. Após muitos anos sem contato, decidi ir reencontrar com o ele.
Foi uma parte muito difícil pra mim, ir até a casa dele e dizer olhando nos seus olhos as coisas que estavam no peito, as dúvidas que eu tinha e a falta que senti. Mas foi uma conversa sem mágoas e rancor, pois eu sabia que isso não cabia ali. Em um sentimento de profunda paz, fui me reconectar a ele com a consciência da impermanência e de não existe um certo ou errado. Apenas somos o que podemos ser no momento.
Naquele dia me permiti um abraço que há anos precisava dar. E também precisava receber. Um abraço longo, silencioso, necessário e libertador. Nossas lágrimas enquanto dizíamos “eu te amo” foram uma ponte para a cura de dores antigas que só o autoconhecimento possibilita acessar.
A ida para a Índia
Fui para a Índia e aprofundei meus conhecimentos que já estava buscando no Brasil para ser um professor de Yoga/Meditação. Passei dias isolado da civilização para me encontrar e aprender. Hoje, continuo surdo e com zumbido, mas a minha relação com isso tem uma nova perspectiva, sem ansiedade, permitindo uma vida mais leve , feliz – com seus altos e baixo, claro – e com a atenção plena pela vida.
O projeto SURDOYOGA™
O projeto SURDOYOGA™ nasceu da minha vontade de compartilhar todo esse conhecimento ancestral para pessoas com surdez, mas sem que tenham que passar pelos desafios que a perda auditiva e a falta de acessibilidade nos causa. São aulas online ou presenciais, totalmente adaptadas e testadas com centenas de alunos, utilizando legendas em tempo real – e quando disponível também com tradução em Libras.
Além das legendas, há um método que permite contagem de permanência nas posturas por meio de respirações, possibilitando até mesmo fechar os olhos sem sentir aquela angústia de não acompanhar. Meu foco são as pessoas com surdez oralizadas, pois são as mais esquecidas em questão de acessibilidade.
Mesmo que você já tenha conhecido Yoga, não há nada parecido com a experiência de uma aula SURDOYOGA™, que traz com muita empatia, os benefícios desta prática feita pensada para pessoas com surdez, como você e eu.
Atualmente, encontrei o amor outra vez – por mim mesmo e por uma adorável pessoa – e dedico a vida a fazer o Yoga/Meditação acessíveis para nós surdos, com a ajudinha em participações especiais da Helena, minha filha…meu raio de sol que o papai ama tanto!
Eu tenho certeza que a caminhada com o Yoga/Meditação acessíveis podem transformar a sua vida também. Conheça mais sobre o SURDOYOGA™, através do site ou pelo Instagram.
Em nosso canal do YouTube você também pode conhecer mais sobre Yoga acessível para pessoas com surdez.
Com carinho,
Leandro Pereira.
CONVITE ESPECIAL: aulas de yoga com acessibilidade
O Leandro fará algumas aulas exclusivas – e gratuitas – para os membros do Clube dos Surdos Que Ouvem. A primeira aula acontecerá no dia 29 de abril e as informações estarão no mural do Apoia.se. Não perca!! Quem participar das aulas também receberá um CUPOM DE DESCONTO EXCLUSIVO para se tornar aluno das aulas online do SURDOYOGA™.
CLUBE DOS SURDOS QUE OUVEM: junte-se a nós!
A sua jornada da surdez não precisa ser solitária e desinformada! Para que ela seja mais leve, simples e cheia de amigos, torne-se MEMBRO do Clube dos Surdos Que Ouvem. No Clube, você terá acesso às nossas comunidades digitais (grupos no Facebook e no Telegram), conteúdos exclusivos, descontos em produtos e acesso aos nossos cursos*.
São 21 mil usuários de aparelhos auditivos e implante coclear com os mais diferentes tipos e graus de surdez para você conversar e tirar suas dúvidas a respeito do universo da deficiência auditiva (direitos, aparelhos, médicos, fonos, implante, concursos, etc).
MOTIVOS para entrar para o Clube dos Surdos Que Ouvem:
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OS ERROS QUE EU JÁ COMETI ao comprar aparelho auditivo
Eu já passei pela saga da compra de aparelhos auditivos várias vezes. Já fui convencida a me endividar para comprar um aparelho auditivo “discreto e invisível” que sequer atendia a minha surdez. Já fui enganada ao levar um aparelho auditivo para o conserto na loja onde o comprei: a fonoaudióloga disse que ele não servia mais para mim sem sequer verificá-lo ou fazer uma nova audiometria. Já quase caí no conto do vigário de gastar uma fortuna num aparelho auditivo para surdez profunda “top de linha”, cujos recursos eu jamais poderia aproveitar devido à gravidade da minha surdez. Já fui pressionada a comprar um aparelho auditivo porque supostamente a “promoção imperdível” duraria apenas até o dia seguinte. E também quase cometi a burrada de comprar um aparelho de surdez que já estava quase saindo de linha por causa de um desconto estratosférico.
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