Afinal, surdo pode entrar em fila preferencial? Convidei o advogado (e também surdo que ouve) Antônio Diogo de Salles, para nos explicar melhor sobre esta questão. A maioria de nós já passou por situações constrangedoras pelo fato da surdez ser a deficiência invisível.
Antes de mais nada, pelo fato da surdez ser uma deficiência invisível, se a sua surdez se enquadra nos critérios da lei brasileira para que você seja considerado uma pessoa com deficiência auditiva, então faça o seu RG de PCD. Ele é a sua única prova oficial da sua deficiência, que é o que lhe garante o direito, como surdo, de entrar na fila preferencial. No final do post estão as informações para você se tornar membro do CLUBE DOS SURDOS QUE OUVEM.
SURDO PODE ENTRAR NA FILA PREFERENCIAL?
“Nós, surdos, temos direito à preferência estabelecida em lei para os deficientes ou há razão para que as pessoas sem deficiência protestem por vindicarmos tal benefício? Em minha experiência de surdo pós lingual o que tenho sentido é que a maioria das pessoas aptas respeita as pessoas com deficiência apenas se esta estiver evidenciada. Ou seja, para a maioria só é deficiente a pessoa que possua limitações físicas de movimento e com dificuldades de visão quando o uso de equipamentos (não são apenas próteses) permite que se identifique a limitação.
Inaceitável este remate!
A melhor definição de deficiência que conheço está na segunda parte do artigo 1º da CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM EFICIÊNCIA.
Diz: “Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação om diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas”.
Logo, são deficientes também aqueles que não tenham evidenciada sua deficiência. À supressão das barreiras que podem obstruir a participação de todos os portadores de deficiência dá-se o nome de acessibilidade termo que, aliás, está bem em voga atualmente.
Acessibilidade, como se extrai do art. 9º da Convenção referida, é a possibilidade de viver de forma independente e participar plenamente de todos os aspectos da vida, tendo assegurado o acesso, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, ao meio físico, ao transporte, à informação e comunicação, inclusive aos sistemas e tecnologias da informação e comunicação, bem como a outros serviços e instalações abertos ao público ou de uso público, tanto na zona urbana como na rural, com a identificação e a eliminação de obstáculos e barreiras em edifícios, rodovias, meios de transporte e outras instalações internas e externas, inclusive escolas, residências, instalações médicas e local de trabalho e em informações, comunicações e outros serviços, nclusive serviços eletrônicos e serviços de emergência.
Confusão
Pois bem, em vários dos diplomas legais destinados a garantir a acessibilidade ou em cartazes indicando a existência desse benefício usa-se a expressão “preferência” e do entendimento desta vem muita confusão outorgando-se às pessoas sem deficiência o direito de cobrar quem esteja postulando a preferência e não exiba seu aleijão; como os surdos, por exemplo.
O móvel da cobrança é que as pessoas entendem que a preferência significa somente passar na frente dos outros e bem assim que o cartaz que indica o benefício, de regra, estampa somente o desenho do velho, da grávida e do portador de muletas.
Estão equivocados. Preferência se referindo deficiência não é isso e não será a iluminura que dirá quem são osbeneficiários. A preferência a que aludem as diversas leis é a demonstração de respeito e consideração a uma em relação a outras pessoas para nivelar o tratamento superando a desigualdade.
Aquinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam como disse Rui em sua “Oração aos Moços” ou auxiliar para superar as barreiras de modo a agir em condições de igualdade com os demais como vem do diploma internacional citado.
Preferência nas filas
Preferência, portanto, não é passar na frente ou ser atendido antes e sim ser atendido com presteza, educação, compreensão por alguém capacitado a tanto: que leia o que o mudo escreve, que fale claro e devagar para o surdo faça leitura labial, que colha a identificação do maneta, que se incline para o cadeirante oferecendo-lhe meios para escrever, ou que guie e oriente o cego.
A expressão preferência utilizada em tantos estabelecimentos resulta da acessibilidade ou, em outros termos, a materializa. É, portanto, de todos os deficientes. Logo, à pergunta inicial respondo: sim temos, todos os surdos, direito a essa preferência.”
CLUBE DOS SURDOS QUE OUVEM
A sua jornada da surdez não precisa ser solitária e desinformada! Para que ela seja mais leve, simples e cheia de amigos, torne-se MEMBRO do Clube dos Surdos Que Ouvem. No Clube, você terá acesso às nossas comunidades digitais (grupos no Facebook e no Telegram), conteúdos exclusivos, descontos em produtos e acesso aos nossos cursos*.
São 21 mil usuários de aparelhos auditivos e implante coclear com os mais diferentes tipos e graus de surdez para você conversar e tirar suas dúvidas a respeito do universo da deficiência auditiva (direitos, aparelhos, médicos, fonos, implante, concursos, etc).
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27 Comments
Direitos dos deficientes auditivos: tire todas as suas dúvidas
15/10/2021 at 16:06[…] FILA PREFERENCIAL […]
Daniela Candido
27/05/2019 at 09:21Oi Paula, eu também tenho deficiência auditiva, uso aparelho e sempre tive vergonha de usar a fila preferencial. Até porque a minha perda não é tão severa mas mesmo assim denho um pouco de dificuldades de ouvir mesmo com aparelhos. Realmente é meio constrangedor usar a fila sendo que não tenho nenhuma deficiência visível. Deus sabe o que vão pensar se me verem em uma fila preferencial.
Pryscilla Cricio
17/08/2020 at 18:13Olá Daniela,
Tudo bem?
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Abraços,
Equipe Surdos Que Ouvem
Paulo Guimaraes
24/01/2015 at 20:38No Brasil a cada 4 pessoa 1 tem alguma deficiência, ainda que seja um dedo a menos, como o nosso ex-presidente. Se todos pleitearem a fila preferencial por conta de alguma deficiência, provavelmente os que realmente precisam serão prejudicados. A preferência foi instituída para aquelas pessoas que não podem ficar em pé por muito tempo, seja em razão de ser idoso, pessoa com algum problema de locomoção, gestante e a pessoa com criança de colo (não criança no colo), pois crianças não têm paciência de ficar muito tempo esperando. Nem todos os benefícios para deficientes se aplicam a todos, como elevadores especiais para cadeirantes que não podem subir escadas, braile em avisos indicadores e em embalagens para os cegos, e no caso dos surdos, os telefones públicos com teclado. Tal recurso é algo prioritário aos surdos.
Daniel danju
21/05/2017 at 20:28Acredito que a melhor forma de atender uma pessoa surda ou deficiente auditivo por uma pessoa que sabe falar em sinais e libras para dar dignidade e compreensão conforme suas necessidades
Matheus
12/06/2021 at 02:16O surdo pode e deve ser atendido por uma que conheça LIBRAS isso é claro. No entanto, o ponto aqui da questão é que a deficiência auditiva não causa nenhum tipo de empecilho ao fica 25 minutos parado numa fila de banco, por exemplo. No final, ele ainda será atendido em LIBRAS igualmente. Um contra exemplo seria uma mulher requisitar tempo a mais numa prova de vestibular e usar como justificativa ser lactante, mas ela não é e só exigiu isso porque um dia no futuro ela decidiu que vai ser mãe e quer usa o benefício desde agora… qual a lógica??? Medidas criadas para atender deficientes ou aqueles que necessitam devem ser utilizadas pelos próprios grupos grupos que necessitam daquela medida. Então me diz também qual a lógica do surdo exigir usar um banheiro adaptado para um cadeirante? Ou os elevadores especiais? De novo, eu apoio 100% dessas medidas e práticas, mas só porque alguém é surdo não quer dizer que ele tem direito amplo e irrestrito a qualquer coisa no final ele é apenas humano igual o restante de nós
jonas Oliveira
31/10/2014 at 09:22ola. gostaria de sanar uma duvida. que pra um leigo como eu não ficou claro. sou usuario de protese auditiva. com perca bilateral. ai vem a minha duvida! tenho preferência em filas? tenho de ter algum documento em mãos? ou apenas a protesr ja o faz por si só?
Andreia
15/04/2013 at 10:46Até quem tem moderado a severo teria este direito? Vi que há isenção de impostos para compra de carro tb.
ada
06/10/2012 at 03:08eu queri saber se eu estiver com minha irma que tem deficiencia mental posso ir para fila de prioritario
muito agradeçida
Sérgio Ricardo
09/09/2012 at 22:10Interessante o texto. Achei oportuno também o comentário do Eduardo.
Diz o decreto 5296/2004:
“b) deficiência auditiva: perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz”
Pelo que entendo desse texto e me corrijam se eu estiver errado, todas as pessoas com deficiencia auditiva que não ouçam sons mais baixos que 41 decibél são enquadradas por essa lei, correto? Ou seja, se a audiometria tiver a sua linha abaixo do 40 db para os dois ouvidos, o Estado faz ai uma separação, através desse Decreto, entre os deficientes auditivos e surdos oralizados ou sinalizados!
😉
José Eduardo Thomé de Saboya Oliveira
30/08/2012 at 15:44Essa questão de só se respeitar a deficiência que “está na cara” é complicada. Uma vez, fui comprar ingressos para mim e para minha companheira. A vendedora telefonou para o chefe dela e falou a seguinte pérola:
“Tem uma moça aqui que PARECE SER deficiente física e um rapaz que DIZ QUE É deficiente visual, o que eu faço?”
Conforme a orientação do tal chefe, eu paguei inteira e ela pagou meia. Sem mais comentários……
Deni
01/08/2012 at 12:43Muito bom o texto, explicativo e esclarecedor. No entanto, eu sempre ressalto o bom senso, ou seja, se eu realmente vou encontrar dificuldades para me comunicar, caso contrário vou normalmente na comum.
No meu caso específico nunca usei a preferencial, nunca senti essa necessidade, mas sei também que muitos surdos precisam desse atendimento diferenciado.
Ah! e para aqueles que recebem olhar “torto” nessas horas, deem o sorrisão mais lindo do mundo e continuem na fila. 😉
Carminda A.M.Marçal
01/08/2012 at 00:39Muitas vezes, eu me coloco na fila das pessoas”deficientes”, propositalmente para poder explicar que temos sim direito a estar nessa fila.
Como def. auditivos, supomos no mínimo que quem atende deve estar preparado p/ as nossas possíveis dificuldades.
Parabéns pelo texto.
Abços
Carminda
Karen
31/07/2012 at 22:52Pessoal, eu sempre utilizo a fila preferencial sem problemas. Afinal, é meu direito, porque sou surda oralizada.
Se questionam, eu retruco,aí o povo fica emudece. É só falar com sabedoria e com educação.
Beijos a todos.
Luciana
31/07/2012 at 15:26Ótimo o texto, bem explicativo. O problema é que parece que nem os próprios detentores do direito do uso do atendimento preferencial (deficientes, idosos, gestantes) sabem o verdadeiro valor dele. Já presenciei em bancos várias vezes idosos pegando senha para fila preferencial e para fila normal, esperando qual chamasse primeiro pra ele ir. E assim provavelmente fazem os deficientes. Ou seja, parece que o que importa é ser atendido rápido. Que se dane o atendimento diferenciado e bom, desde que me atendam rápido.
Maria
31/07/2012 at 14:47Você tem muito talento para escrever os textos, parabéns!
Nesta semana eu fui na fila preferêncial de um supermercado, eu estava tentando entrar na fila com o carrinho e do nada um homem que estava “mancando” tentou entrar na minha frente, mas não deixei, fiz a barreira com o meu corpo e o carrinho. O moço estava fingindo que estava mancando, ele estava andando normal quando passou na fila do caixa do lado. As operadoras dos caixas sempre fazem pergunta do porquê eu estou na fila, aí tenho de falar que sou surda. E elas me tratam super bem, são bem compreensivas e também acham super legal o fato de eu me comunicar com elas por voz e leitura labial.
Maria
31/07/2012 at 14:51Ah sim, esqueci de dizer mais de outro caso envolvendo a fila especial.
Eu estava no outro supermercado, o Carrefour, na fila preferencial.
Eu estava aguardando na fila, no meu lugar, e do nada uma pessoa mais velha tenta furar na minha frente na fila e começou a me encarar. E eu falei: “estou na fila porque sou surda” e esta pessoa respondeu: “eu estou na fila porque sou idosa”.
Tem gente que é muito grossa e não entende das coisas.
Também teve outra situação constrangedora no mesmo supermercado, eu tava na fila, e do nada a operadora do caixa me olha de longe e gritou: “Você está grávida??”
Eu não escutei, nem notei que ela tava falando comigo. A minha mãe que escutou e explicou pro caixa: “ela é surda”. Sinceramente estes indivídos nunca pararam para pensar que existem pessoas como a gente…
Ines
31/07/2012 at 15:42É, surdo é igual ET, ninguem sabe se existe de verdade 😛
Matheus
12/06/2021 at 02:21idoso tem mais preferência que surdo na fila principalmente se o idoso não consegue ficar muito tempo em pé… vergonha de você. A fila preferencial como diz nome é ‘preferencial’ pessoas que precisam mais tem direito a cortar na frente você tendo deficiência ou não porque o caso de outra pessoa pode ser pior que o seu
Greize
31/07/2012 at 11:05Ótimo texto.Só vejo o sinal de preferência para surdos em cartazes fora do Brasil ,por que aqui não tem??
Eu faço uso das filas preferenciais, principalmente em bancos, porque em primeiro lugar eu não domino a leitura labial, e a maioria do atendimento é pelo vidro.Já tentei ir nas filas “normais”, e não conseguia ouvir nem ler os lábios, resultado, gritaria das pessoas atrás de mim nas filas.Isso mais de uma vez.O que me deixou nervosa e angustiada.
Depois li algo parecido com esse texto, e comecei a ir nas preferencias, e não tive mais problemas os atendentes falam mais devagar.E os outros quando me olham “torto”eu ignoro.E ponto.
Bjo
Fabiana
06/01/2021 at 21:31Boa noite Tenho deficiência auditiva tbm, nunca usei preferencial, sei bem como é difícil, não uso aparelho, não consigo adaptar, vc usa ?
Pedro Augusto Bentes
30/07/2012 at 22:03Excelente texto! Bem informativo. Realmente a fila do banco exclusiva para deficiente sempre foi mal informada e constrangedora. O pior é que na sinalizaçã não consta nenhuma identificação de portador de deficiência auditiva. Parabéns! Abs, Pedro.
Eduardo
30/07/2012 at 14:46De fato os deficientes surdos são, teoricamente e perante a lei, tão deficientes como qualquer outro deficiente. Mas existe algo, chamado bom senso, que muitas pessoas desconhecem. Esta discriminação positiva para idosos, gestantes, deficientes e pessoas com crianças de colo tem a ver exclusivamente com o esforço físico acrescido que estes grupos de pessoas têm que fazer para aceder aos vários serviços e que manifestamente não é o caso de quem é surdo. É este tipo de reindivicações absurdas que fazem com que a sociedade em geral não respeite como devia as pessoas portadoras de deficiência.
Isabella
01/08/2013 at 20:37mas não seria o caso do esforço extremo para sobreviver com todo o barulho ambiente?
Lak Lobato
30/07/2012 at 10:27Nossa, excelente texto. Posso copiar – com as devidas fontes – pra minha coluna do Acessibilidade Total?
Beijos
Antonio Diogo de Salles
02/08/2012 at 19:11Lak
Para mim será uma honra.
Fique a vontade.
Lak Lobato
05/08/2012 at 13:01Antônio,
eu que fico honrada de divulgar textos de outros surdos oralizados. Quanto mais de nós se manifestarem, mais a sociedade terá consciência de que não somos casos isolados, que não precisam ser levados em consideração.
No mais, o texto é maravilhoso! Obrigada por ele!!