Menu
Crônicas da Surdez / Acessibilidade

Acessibilidade para surdos oralizados nas faculdades e cursinhos preparatórios para concursos

ACESSIBILIDADE

Sou membro da Comunidade dos Surdos Oralizados no Facebook. Trocamos muitas idéias por lá, e resolvi perguntar para o pessoal o que seria acessibilidade para nós na faculdade e em cursinhos preparatórios para concursos. Quando se trata de surdos sinalizados, é relativamente simples, pois o pedido principal é um intérprete de língua de sinais, coisa que, no nosso caso, não tem serventia alguma. Dêem uma olhada nas respostas que o pessoal deu para a minha indagação.

 

  • Professores com a luz acesa na sala, pois não dá pra fazer leitura labial no escuro. Eles apagam quando tem datashow, e também costumam passar filmes ou documentários dublados;
  • Sistema FM disponibilizado pela instituição.;
  • Falar olhando para a turma. Quando fiz faculdade, muitos professores tinham o hábito de dar aula de costas, escrevendo no quadro;
  • Material audiovisual SEMPRE LEGENDADO. Professor falar sempre voltado para os alunos. Sistema de sonorização especial “aro magnético – hearing loop”. Distribuição de resumos das aulas com bibliografia para que os alunos possam complementar a informação em casa. E lutar por aulas com legendagem por estenotipia presencial como a Diéfani Favareto Piovezan relatou no blog dela, recurso que é oferecido em universidades dos EUA;
  • A maior importância é o PROFESSOR. O aluno, a aluna têm que estar de frente ou próximo dele. Há momentos em que ele pede para copiar no caderno, ou seja, fala e faz os alunos copiarem no caderno. Melhor ficar ao lado do colega ouvinte e copiar…na maioria das vezes, o professor tem de ficar em frente dos alunos. Quanto às palestras, não assisto, pois não dá para eu entender. Fica fácil com aquele sistema de estenotipia. Quanto a fazer trabalho em equipe, é preciso dar cooperação e combinar que cada um fará a sua parte (na época, fiz sozinha alguns trabalhos de grupo);
  • Se a faculdade/Universidade oferecesse estenotipia seria perfeito;
  • Professores sem bigode;
  • O meu maior problema na faculdade foi quando os professores insistiam em ditar a matéria. Mesmo falando em particular para cada um deles sobre a dificuldade de um surdo oralizado copiar matéria ditada (não dá para fazer leitura labial e escrever ao mesmo tempo, né?), nunca isso era respeitado.

 

Não entro numa sala de aula há muito tempo. Mas lembro de como era cansativo ter que ficar perseguindo as bocas dos professores com os olhos. Voltava para casa vesga! No meu tempo a única ‘acessibilidade’ era chamar os professores num cantinho reservadamente e implorar: “oi, lembra que eu existo e preciso enxergar a sua boca para acompanhar a aula, por favor?”

Não deixem de ler o post completo no Igualmente Diferentes sobre a transcrição de aulas nos Estados Unidos. Embora esse serviço seja inexistente por aqui, ele existe, e seria sensacional contar com esse recurso. Não vejo mistério algum, apenas falta de conhecimento e de vontade das instituições de ensino. Mas o que me deixa fula são esses cursinhos preparatórios para concursos, que agora têm quase somente videoaulas, e todas elas SEM LEGENDA. Como é que pode uma coisa dessas??

About Author

Paula Pfeifer é uma surda que ouve com dois implantes cocleares. Ela é autora dos livros Crônicas da Surdez, Novas Crônicas da Surdez e Saia do Armário da Surdez e lidera a maior comunidade digital do Brasil de pessoas com perda auditiva que são usuárias de próteses auditivas.

8 Comments

  • Alana
    15/02/2016 at 16:50

    Infelizmente, só sendo autodidata mesmo, o livro escolar acaba sendo melhor professor que o próprio professor… Mas ás vezes na hora da prova a matéria tinha sido dada em aula, aí já era a questão. Quando fui estudar na escola pública em que minha mãe era professora, um professor aparou a barba e bigode, que deixava relativamente grande e passou o ano todo em que fui sua aluna com a barba mais rente para que pudesse ler claramente seus lábios. Já na faculdade pública, apesar de ter entrado como cotista, não tive apoio nenhum fora a bolsa, cheguei a conversar com professores, organizações, o próprio setor de bolsistas e nem um intérprete consegui. Depois de quatro anos nessa enrolação, larguei a faculdade e entrei na particular com bolsa integral, já pedindo intérprete e só agora, no meu último período não sinto necessidade, pois as aulas são práticas, mas com a ajuda deles, meu rendimento foi absurdo. Eram intérpretes de Libras, mas comigo repassavam o que os professores diziam de costas ou as respostas dos alunos atrás de mim para perguntas dos professores (aulas dinâmicas são um pesadelo pra gente, né) e nos lembravam de prazos de trabalhos e provas.

    Reply
    • Tive uma ideia… quem sabe pode ajudar muita gente… Alguém já testou?

      Já vi, pela internet afora, pelo menos uns 2 casos nos quais a pessoa tinha deficiência auditiva parcial e assistia as aulas gravando-as em áudio, para depois poder ouvir com mais calma em casa, no volume que lhes fosse mais adequado,podendo ”voltar” a gravação no momento em que quisessem, e transcrevendo as ideias principais.

      Em casos de perda auditiva mais profunda, será que a sugestão acima, associada a um desses softwares que convertem automaticamente áudio em texto (muito frequentemente utilizado por jornalistas ao transcreverem entrevistas longas, por exemplo), poderia dar melhores resultados? Fica a ideia!!!

      Gostaria de saber se a galera com deficiência auditiva já utilizou esse tipo de recurso, e se gostaram! =D

      Reply
  • Karen
    07/05/2013 at 00:15

    Professores sem bigode..(risos). Lembro que tive um professor, na faculdade, que tinha um bigode, quando ele soube da minha deficiência auditiva, ele me perguntou se não era melhor ele raspar o bigode dele (rs..). Como eu conseguia ler os lábios deles, respondi-lhe que não havia necessidade.
    Mesmo se houvesse, eu teria tido a ele que necessitaria raspar o bigode para eu poder acompanhar as aulas.
    bjs

    Reply
  • Sarah Raquel
    10/03/2013 at 06:47

    Uma coisa que quero compartilhar
    Na faculdade, tive um professor ” Takão” que usava aquele bigodão inseparavel, mas como ele é simpático, carismático. Conversei com ele muito constragida, olha queria pedir um grande favorzinho, para eu compreender as suas aulas, precisaria ver o seu lábio superior para fazer o uso da leitura labial. Ele aparava o bigode no ponto que pudesse ver o lábio superior. E pronto, quando terminou de lecionar para mim. Voltou aquele bigodão tampando o lábio superior. Mas tem muitos outros não se dispõem a acessibilidade por diversos fatores, coloca imcompatibilidade pelo lado pessoal,etc. Assim, como eu diz na frente para um professor que não compreendia nada o que ele dizia, e explicando também, sabe o que aconteceu antipatia, e parecia que queria sempre me ferrar.São muitas situações, citei então pelo menos estas duas.
    Então não costuma ver a acessibilidade com um direito ou necessidade.

    Reply
  • Gina Yara de Sousa Pereira
    05/03/2013 at 09:40

    Sou mãe de uma garota de i11anos e já sentimos as dificuldades que virão pela frente! Ela estuda em escola publica em Brasília, pois por aqui a inclusão é melhor nas escolas publicas, e nessa escola há uma professora de alunos especiais que orienta os professores de sala o tempo todo, mas minha filha não tem mais direito a turma reduzida pois a Secretaria de Educação indicou escola especial com turmas bilingues, o que não aceitei pois ela não sabre LIBRAS. Nessa escola onde ela está, é muito acolhida e cercada de atenção , porem sei que fora de lá, as coisas não são assim. Interessei-me pela comunidade de surdos oralizados no fb. O nome é esse mesmo?

    Reply
    • Lucas
      21/09/2014 at 17:52

      Poxa, os surdos que não sabem Libras podem estudar na escola especial! Sabe por quê? Ela vai aprender Libras com ajuda de colegas surdos e comunicar mais fácil.

      Reply
  • Gê Santos
    05/03/2013 at 09:27

    Estou penando em um curso superior EAD, 01 vez por semana presença obrigatória, dou de frente para um telão sem legenda. Imagina o meu sofrimento, tive até crise de chora a semana passada, e uma vontade tremenda de desistir do curso, a faculdade disse que estão tomando as dividas providencia para se adequar a essa realidade, lidar com pessoas surdos oralizados. Muito difícil, tremendo descaso. O BRASIL precisa acordar e o que realmente acontece conosco , descaso puro. Se para ter legenda tem que ter Lei então os nossos legisladores já deveriam ter visto o nosso clamar e que faça a Lei.

    Reply
  • Greize
    04/03/2013 at 18:35

    Minha irmã fez uma prova para ANAC, muito concorrida, pois é para o Brasil todo.Ela começou lendo as apostilas depois ia para o Youtube assistir as aulas.Me disse, nossa esses vídeos me ajudaram demais, pois mesmo você lendo as apostilas , em aula o professor sempre dá dicas que não tem nos livros.Minha irmã ouve muito bem,e passou no que eu fiquei muito feliz.Mas cá estou eu na apostila para concurso, já que dos milhares de vídeos nenhum tem LEGENDA!
    As coisas citadas acima, só se o Ministério da Educação agir, e sobre Legendas só se virar lei.

    Reply

Leave a Reply

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.