As vagas para PCD costumam ser sempre as mais básicas, com salário mínimo e zero perspectiva de progressão na carreira. Apesar do Linkedin pintar um mundo perfeito de diversidade e inclusão que nós PCDs sabemos que é uma grande hipocrisia, a vida real está aí para mostrar a realidade dos fatos. As empresas e os recrutadores ainda não estão preparados para avaliar a PESSOA e continuam focando na DEFICIÊNCIA. Nada de novo no front…
Vou falar da minha experiência pessoal como PCD que passou dois anos fazendo processos seletivos e buscando vagas para PCD aqui no Brasil. Nos anos de 2020 e 2021, eu me candidatei a muitas vagas para PCDs. A via crúcis já começa bem no início: a maioria dos recrutadores que entraram em contato comigo se diziam “experts em diversidade e inclusão” mas nada sabiam sobre a deficiência auditiva e processos seletivos com acessibilidade para surdos oralizados. Uma recruiter chegou ao ponto de me pedir diversas “provas” da minha surdez além de um segundo laudo médico e novas audiometrias porque, segundo ela, estava muito difícil acreditar que eu era surda já que eu falava e não usava Libras. Outra recrutadora “especializada em PCDs” me disse, super sincera, que eu parecia “normal demais” e que a empresa preferia um surdo que “parecesse mais surdo”, ou seja, usasse Libras e não falasse.
A cereja do bolo foi um processo seletivo para Head de Diversidade e Inclusão de uma das maiores empresas de tecnologia do planeta. Após mais de 15 emails trocados com a recrutadora explicando que eu não queria intérprete de Libras mas sim LEGENDAS como recurso de acessibilidade, entro para a entrevista online com o gestor e descubro que as legendas ficavam…em outra tela! A entrevista era em inglês. Imagine a cena: o entrevistador falando numa tela e as legendas, cheias de erros e com um belo delay (eram feitas por reconhecimento de voz, não por um estenotipista) estavam em outra aba, ou seja, ou eu prestava atenção ao entrevistador e tentava ler os lábios dele em inglês, ou ficava na aba ao lado, rezando para que as péssimas legendas fizessem algum sentido! Não sei quem ficou mais constrangido. Enviei um feedback ao recrutador depois, mas…fiquei no vácuo.
Não posso deixar de comentar um caso inesquecível. Uma das maiores agência de publicidade do Brasil usou meu conteúdo e o Clube dos Surdos Que Ouvem (ao qual tiverem acesso mentindo que eram pessoas com deficiência auditiva) num trabalho para um dos maiores grupos de mídia do país. E não gostaram quando solicitei que tudo fosse retirado do ar porque NUNCA me pediram autorização para usar nada disso. Será que eles teriam coragem de usar o trabalho e invadir a comunidade digital de uma conhecida ativista do movimento negro ou do movimento LGBT? Sem chance! Mas tudo bem se for o trabalho de uma pessoa com deficiência afinal… PCD? Who cares? Essa é a REALIDADE do modus operandi do mercado de trabalho e do mercado publicitário no que diz respeito a pessoas com deficiência. A coisa dá uma melhorada se for um PCD que viralizou nas redes e contratou uma boa assessoria.
Ao longo desses dois anos, a falácia da diversidade e inclusão e a mentira do “nossas vagas são abertas a todas as pessoas” foi ficando cada vez mais nítida para mim. E ela ganha requintes de crueldade se você é uma pessoa com deficiência branca, com nível superior, heterossexual e – o pior de todos os rótulos – reabilitada pela medicina e pela tecnologia. Há raríssimos casos de PCDs que estão bem posicionadas no mercado de trabalho aqui no Brasil – posso contar os dedos as que eu conheço. Muitas pessoas sequer têm coragem de sair do armário da própria deficiência por medo do capacitismo do mundo corporativo que, ao contrário dos posts “diversos e inclusivos” da galera no Linkedin, continua mais vivo do que nunca. Não são poucas as empresas que gastam verdadeiras fortunas com recursos de acessibilidade datados que ajudam quase ninguém e consultorias de diversidade e inclusão que desconhecem a diversidade das deficiências. Isso só mostra que PCDs são um item da lista de ESG que precisa ser riscado sem grandes investimentos de tempo e energia por parte dos times e lideranças.
Algumas empresas merecem aplausos no quesito boas vagas para PCDs e processos seletivos acessíveis. Minhas melhores experiências foram com o Google. No final de 2021, tomei a decisão de focar no meu negócio e larguei mão dos processos seletivos.
PCDs em posição de liderança nas big techs: Conexões Sonoras Online
Em 2021, após mapear quem eram as pessoas com deficiência em posições de liderança nas maiores empresas de tecnologia do mundo, eu e o Dr. Luciano Moreira (meu marido e médico otorrino especialista em surdez) decidimos criar o Conexões Sonoras Online. Foi um evento que reuniu executivos C-Level de empresas como Google, Microsoft, Meta, Twitter e Organização Mundial de Saúde.
Algum tempo depois, tive a honra de entrevistar o Vint Cerf, que é considerado um dos “pais” da internet. Ele é uma pessoa com deficiência auditiva, usa aparelhos auditivos e sua esposa é uma surda que ouve com implante coclear. Vint também é VP e Chief Internet Evangelist do Google. Quem poderia imaginar que o VP do Google era PCD? Aposto que você desconhecia esse fato… Esses profissionais, que por acaso também são pessoas com deficiência, vêm abrindo portas importantes, construindo acessibilidade e ajudando a combater o capacitismo no mundo corporativo em todo o mundo. Ainda bem que eles existem!!
3 dicas de ouro sobre VAGAS para PCD
Convidei a recrutadora Daniella Conesa, recrutadora que já trabalhou em empresas como Apple, Netflix e Amaxon e hoje toca a Connecta Recruiting, para compartilhar conosco as suas melhores dicas sobre vagas para PCD. Ela é mãe de uma surda que ouve.
- Use palavras-chave no seu CV: “PCD, CID, deficiência” para que a inteligência artificial as reconheça
- Amplie a sua rede de contatos (networking)
- Mapeie as empresas que te interessam e conecte-se com elas
Mercado de trabalho e Pessoas com Deficiência
“A convite da querida Paula Pfeifer do Clube dos Surdos Que Ouvem – do qual faço parte indiretamente por causa da surdez da minha filha – venho hoje expor a minha perspectiva, como recrutadora, sobre boas práticas que pessoas com deficiência podem adotar ao participar de processos de recrutamento.
Em primeiro lugar, devemos lembrar que o mundo mudou, a tecnologia evoluiu e as relações de trabalho se modificaram. Consequentemente, na hora de procurar emprego, você precisa entender que existem duas prerrogativas dominantes no mercado hoje: a inteligência artificial (IA) e networking (sua rede de conexões).
Todos os sites de carreira e de vagas de emprego (pagos ou gratuitos) possuem algoritmos/mecanismos de busca e trabalham com palavras-chave. Consequentemente, se o seu currículo for supercompleto, do ponto de vista de informações sobre carreira, mas não tiver/informar palavras como: PCD, pessoa com deficiência, ou por exemplo, o seu CID (classificação internacional de doenças) — seu currículo vai passar batido.
Os times de recrutamento recebem centenas de aplicações diariamente e é a inteligência artificial quem os auxilia no filtro. Trata-se simplesmente de uma questão de tempo. Por isso, certifique-se de que você aparecerá na busca e suas chances de contato aumentarão.
Ampliar sua rede de contatos e de pessoas chave também conta muito. A lei de quotas se faz presente para garantir que a inclusão de pessoas com deficiência seja feita, e posso dizer, que vi muita coisa mudar desde que comecei a trabalhar com recrutamento. A pessoa com deficiência hoje, não é mais vista como alguém que vai suprir uma exigência da lei, e sim, como alguém que vai se juntar à uma comunidade ou grupo de afinidade e poderá com esse grupo lutar por oportunidades iguais e desenvolvimento.
Desse modo, conecte-se com pessoas! Pessoas de RH, de recrutamento e líderes em geral. Toda organização hoje, com mais de 100 colaboradores irá contratar em algum momento, uma pessoa com deficiência. Mapeie empresas, startups e conecte-se com elas. Em algum momento a oportunidade surgirá e o seu perfil/currículo precisar ser notado, seja por já ser parte da rede de conexões destas pessoas, ou por possuir as palavras-chave exatas para ser encontrado.
Boa sorte!”
CLUBE DOS SURDOS QUE OUVEM: junte-se a nós!
A sua jornada da surdez não precisa ser solitária e desinformada! Para que ela seja mais leve, simples e cheia de amigos, torne-se MEMBRO do Clube dos Surdos Que Ouvem. No Clube, você terá acesso às nossas comunidades digitais (grupos no Facebook e no Telegram), conteúdos exclusivos, descontos em produtos e acesso aos nossos cursos*.
São 21 mil usuários de aparelhos auditivos e implante coclear com os mais diferentes tipos e graus de surdez para você conversar e tirar suas dúvidas a respeito do universo da deficiência auditiva (direitos, aparelhos, médicos, fonos, implante, concursos, etc).
MOTIVOS para entrar para o Clube dos Surdos Que Ouvem:
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- Estar em contato direto com quem já passou pelo que você está passando (isso faz toda a diferença!)
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- Não cair em golpes (a internet está abarrotada de golpistas do zumbido, de aparelhos de surdez falsos e profissionais de saúde que não são especializados em perda auditiva!)
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OS ERROS QUE EU JÁ COMETI ao comprar aparelho auditivo
Eu já passei pela saga da compra de aparelhos auditivos várias vezes. Já fui convencida a me endividar para comprar um aparelho auditivo “discreto e invisível” que sequer atendia a minha surdez. Já fui enganada ao levar um aparelho auditivo para o conserto na loja onde o comprei: a fonoaudióloga disse que ele não servia mais para mim sem sequer verificá-lo ou fazer uma nova audiometria. Já quase caí no conto do vigário de gastar uma fortuna num aparelho auditivo para surdez profunda “top de linha”, cujos recursos eu jamais poderia aproveitar devido à gravidade da minha surdez. Já fui pressionada a comprar um aparelho auditivo porque supostamente a “promoção imperdível” duraria apenas até o dia seguinte. E também quase cometi a burrada de comprar um aparelho de surdez que já estava quase saindo de linha por causa de um desconto estratosférico.
Mas VOCÊ não precisa passar por isso.
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