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Meu nome é Roberto Neves. Tenho 61 anos e moro em Niterói, no estado do Rio de Janeiro. Tive uma sequência de perdas: aos onze anos de idade me tornei gago; aos vinte e poucos anos descobri que ouvia muito pouco pelo ouvido direito; aos trinta e poucos, soube que sofria de lúpus eritematoso (felizmente até hoje restrito à pele da cabeça e do rosto); finalmente, aos quarenta e dois recebi o diagnóstico de transtorno bipolar, passando a me medicar com lítio, um estabilizador de humor.

Aos trinta e cinco anos, voltei para a faculdade e percebi que não conseguiria concluir o curso ouvindo tão mal. Assim, comecei a usar aparelhos auditivos. Senti vergonha de ser visto com aparelhos auditivos apenas na primeira vez em que os usei. Esse sentimento foi rapidamente substituído pela alegria de perceber sons dos quais nem lembrava mais. Não tive grande dificuldade para me adaptar aos aparelhos auditivos. Creio que minha vontade de ouvir, especialmente música e a voz dos meus filhos, ajudou muito nesse processo. Por outro lado, até hoje demando muito das fonaudiólogas que regulam meus aparelhos, somente sossegando quando realmente ouço de modo agradável.

Sempre gostei muito de música, e, apesar da dificuldade auditiva, ingressei num coral nos últimos anos do século passado. Participo até hoje, com menor ou maior dificuldade, mas sempre com muito prazer. Cantar em coral proporciona a sensação de que somos maiores do que somos, de que somos o todo, de que nossa voz é gigante. Mais recentemente, comecei a fazer aulas de violão. Meu progresso é lento, mas tenho igualmente prazer em cantar e me acompanhar.

Trabalhei trinta e quatro anos e sete meses no BNDES, em que ingressei por concurso público (para nível básico, em 1984, e nível superior, em 2004). No segundo concurso, concorri como PCD, mas minha pontuação foi boa e eu teria sido aprovado na minha carreira mesmo sem concorrer como PCD.

Frequentando grupos de apoio a pessoas com gagueira e pessoas com deficiência auditiva, na internet, constatei a infelicidade que atinge muitos de seus integrantes. Alguns (especialmente os gagos) falavam em suicídio. Encontrei muitos relatos que revelavam vergonha de usar aparelhos auditivos ou grande sofrimento ao gaguejar. Conheço os dois sentimentos: a perda auditiva conduz ao isolamento. Causa muita angústia estar no meio de outras pessoas e não entender o que dizem. Já a gagueira causa vergonha e sentimento de inferioridade. Muitas vezes deixei de falar por medo de gaguejar. Outras vezes ousei falar, gaguejei e tive uma frustração imensa.

Hoje, creio que esses sentimentos derivam da falta de aceitação da realidade. A terapia cognitiva comportamental enfatiza que aceitar a realidade como ela é reduz nosso sofrimento. De forma semelhante, o estoicismo e o budismo, duas escolas de pensamento que possuem pontos em comum, estabelecem que viver no presente sem nos apegarmos ou desenvolvermos aversão é fundamental para sermos felizes.

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About Author

Paula Pfeifer é uma surda que ouve com dois implantes cocleares. Ela é autora dos livros Crônicas da Surdez, Novas Crônicas da Surdez e Saia do Armário da Surdez e lidera a maior comunidade digital do Brasil de pessoas com perda auditiva que são usuárias de próteses auditivas.

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