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Entrevistas

Entrevista com David Smith: atleta olímpico surdo da seleção americana de vôlei

Durante as Olimpíadas, entrei em contato com o David Smith – atleta olímpico da seleção americana de vôlei masculino que é usuário de aparelhos auditivos – e perguntei se ele topava conceder uma entrevista ao Crônicas da Surdez.
O David me pediu um tempinho até que as coisas acalmassem e a vida voltasse ao normal. Abri meu email hoje e me deparei com as respostas às perguntas que enviei a ele, e as compartilho aqui com vocês. A tradução é minha.

Como os seus pais descobriram a sua surdez? Como eles optaram pela reabilitação auditiva para você?

Nasci com deficiência auditiva e comecei a usar aparelhos auditivos aos 3 anos de idade. Meus pais e os médicos que me acompanhavam decidiram que o melhor caminho para o grau de perda auditiva que eu tinha era ver como eu me adaptaria a um aparelho auditivo. Aprendi a fazer leitura labial e fiz fonoterapia para ajudar com a minha linguagem quando eu estava na escola.

Conte-nos sobre os seus tempos de escola. Você foi para uma escola de surdos ou frequentou a escola comum? Quais foram os desafios deste período?

Cresci frequentando escolas comuns. Com pequenas adaptações e a ajuda dos professores, eu era capaz de ter uma experiência relativamente similar à dos meus colegas. Eu tinha que dar duro para conseguir as informações que eu precisava e, caso não conseguisse, estudava sozinho em casa para compensar. Meus pais foram muito ativos em assegurar que eu não ficasse para trás, mas acabei me tornando capaz de cuidar da minha própria jornada acadêmica.

Você já esteve no armário da surdez? Já tentou esconder seus aparelhos auditivos por vergonha?

Ainda tenho momentos em que me sinto tímido por causa da minha surdez. Quando conheço pessoas novas, não quero que isso seja a primeira coisa que elas saibam sobre mim. À medida que fui crescendo, precisei aprender a ficar confortável com a minha surdez.  Meus pais fizeram um ótimo trabalho compreendendo que não era sempre fácil ter uma perda auditiva, e eles também me ajudaram a entender que a surdez fazia parte de mim e que qualquer coisa que eu faça na vida, terei que fazer sendo uma pessoa com deficiência auditiva. Isso não significa que eu não possa fazer as coisas, mas sim que tenho que aceitar quem eu sou e encontrar o meu lugar no mundo. Isso se mostrou especialmente verdade nos esportes.

Conte-nos sobre os desafios de ser um jogador profissional de vôlei usando aparelhos auditivos.

Sou apaixonado por esportes desde pequeno. A pergunta nunca foi “serei atleta?”, mas sim como perseguir esse sonho sendo uma pessoa surda num mundo ouvinte. Me sinto muito mais confortável quando sou capaz de ouvir um pouco, então, uso meus aparelhos auditivos sempre que possível. O maior obstáculo é lidar com o suor. Já tentei de tudo para proteger meus aparelhos auditivos da corrosão causada pelo suor, mas nada funcionou. Ainda bem que hoje em dia os aparelhos auditivos são bem mais resistentes à água.

Todos usam máscaras agora. Qual foi o impacto disso na sua vida?

Argh, odeio as máscaras, hahaha! Lembro de quando entendi que o uso de máscaras era uma das melhores soluções na luta contra o COVID. Meu primeiro pensamento foi de como seria difícil me comunicar no futuro. Faço o que posso, mas geralmente, numa situação de comunicação com alguém que usa máscara, explico que preciso ler lábios e pergunto se a pessoa se sente confortável de abaixar a máscara para que eu possa fazer isso.

Você usa Língua de Sinais?

Eu conheço a ASL (língua de sinais americana). Estou fora de forma por falta de prática porque quase nunca me comunico assim, mas consigo virar em uma conversa básica.

O implante coclear é uma possibilidade para você?

Já tive algumas conversas sobre implante coclear mas, neste momento, eu e meu fonoaudiólogo acreditamos que usar aparelho auditivo é a melhor solução para mim e para a minha vida.

Você tem amigos que também usam aparelho auditivo?

Tive alguns amigos que também tinha deficiência auditiva com os quais eu cresci, mas seguimos rumos diferentes na vida e perdemos o contato. No meu círculo íntimo e entre as pessoas com as quais convivo no dia a dia, sou o único usuário de aparelhos auditivos.

Qual é o seu melhor conselho para crianças com deficiência auditiva?

Um conselho que recebi dos meus pais permanece comigo ao longo da vida: “Você é o único que pode te impedir de fazer as coisas que você quer fazer!“. Não permita que a sua perda auditiva se torne uma desculpa para não perseguir as suas paixões. Vá em frente, aprenda, adapte-se e dê um jeito!

Qual é o seu melhor conselho para pais de crianças com deficiência auditiva?

Acho que a melhor coisa que meus pais fizeram por mim enquanto criança surda foi serem meus advocates (essa palavra é de difícil tradução para o português, mas tem a ver com empoderar a criança com informação sobre a sua condição, ferramentas e autoestima). Deixe seus filhos tentarem fazer coisas que eles gostam. Você não quer segurar a mão do seu filho o tempo todo, então, crie um espaço no qual ele se sinta confortável o suficiente para tentar algo ‘arriscado’ sabendo que pode falhar em segurança.

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Você se sente sozinho? Solitário? Não tem com quem conversar sobre a sua surdez? Gostaria de tirar mil dúvidas sobre os seus aparelhos auditivos? Gostaria de conversar com pessoas que já usam implante coclear há bastante tempo? Precisa de indicação de otorrino especializado em surdez e fonoaudiólogo de confiança?

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About Author

Paula Pfeifer é uma surda que ouve com dois implantes cocleares. Ela é autora dos livros Crônicas da Surdez, Novas Crônicas da Surdez e Saia do Armário da Surdez e lidera a maior comunidade digital do Brasil de pessoas com perda auditiva que são usuárias de próteses auditivas.

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