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Implante Coclear

IMPLANTE COCLEAR e Esportes: só quem usa entende…

O implante coclear foi uma revolução na minha vida e eu devo tudo a ela. Voltar a ouvir foi maravilhoso!! Hoje quero falar sobre implante coclear e esportes porque fala-se pouco disso, e é um assunto que interessa a todos os implantados.

IMPLANTE COCLEAR E ESPORTES

Sabe o que me irrita sobre usar implante coclear? A hora do esporte. É na hora do esporte que eu sinto o implante, porque ele fica suado, escorregadio, cai da orelha e me devolve pro silêncio. Eu lembro que ele existe, e não quero lembrar que ele existe. Na real, quero mais é esquecer. Só me interessa lembrar que sou surda quando a pilha acaba ou quando vou dormir e tenho que remover os ouvidos biônicos. No resto do tempo, estou interessada em focar em coisas que não envolvam a surdez.

Confissão vergonhosa de uma surda que ouve: eu sinto uma INVEJA monumental de quem tem a audição natural intocada quando estou praticando exercícios físicos.

Quando saio para caminhar quero ouvir podcasts. Mas quem é que disse que o streaming funciona quando você está em movimento? Já tentei de tudo, sem sucesso. Comprei bermuda com bolso, suporte pro braço, caminhei de pochete e até de mochila. Nada funciona, porque o sinal cai se o celular e os ICs não estiverem na posição perfeita de alinhamento e inércia. A única solução é pôr o celular no top, no meio dos peitos. Agora, me diz: quem quer caminhar 8km com um celular suado nessa região do corpo? Eu, não.

Quando tento fazer exercícios no chão, é sair da vertical e entrar na horizontal para o implante coclear cair e você parar de ouvir. Irritação pouca é bobagem. Abdominal e implante coclear definitivamente não combinam. Fica parecendo até que os ICs são duas entidades que se recusam a praticar exercícios físicos.

E a natação? Ou você se dispõe a colocar aquele trambolhão da capa à prova d’água atrás da orelha e quase nem se mexer enquanto está na água, ou nada feito. E o pequeno detalhe: o som do implante coclear quando está dentro daquela capa é medonho.

Esportes que envolvam risco de pancada na região da cabeça, acho que não preciso nem comentar, né? Não que eu já tenha sentido vontade.

E a tensão de estar expondo dois aparelhos caríssimos desnecessariamente ao suor e umidade? Me dá um nervoso inexplicável. Me sinto a mais irresponsável e vidaloka das criaturas. Suor é corrosivo, bicho. “Ah, mas joga no desumidificador”. De novo: cadê a coragem? Confesso que eu perco. Deus me livre de ser acusada de mau uso e ficar sem ouvir. Já fui malhar zilhões de vezes com um implante só, e passo o tempo todo secando ele com uma toalhinha. TOC define.

Fiz dois meses de aula de tênis para reaprender a jogar. Dez minutos depois do início da aula eu já não sabia mais se focava em segurar a raquete ou pôr o implante coclear no lugar. Chatíssimo. Desconfortável. Extremamente irritante. E não rola ficar sem ouvir numa hora dessas.

Quem me acompanha sabe que foco no lado positivo de tudo o que envolve a surdez porque, se não fizer isso, você pira e vira e uma criatura ressentida. Ninguém quer estar perto de criaturas amarguradas que só reclamam, é questão de sobrevivência. Mas na hora dos esportes, eu solto cobras e lagartos sem nenhuma culpa.

Queria praticar esportes como alguém que ouve sem ajuda, sem lembrar que tenho orelhas, sem me preocupar em estragar as próteses, sem ficar tensa do início ao fim e sem desejar estar fazendo outra coisa.

Hoje me inscrevi numa academia nova e, enquanto subia 1000 lances de escada para bater a meta do dia, começou o suador. Eu estava ouvindo um podcast para passar o tempo. Percebi que tinha esquecido de levar uma toalha. A pingação e o cabelo embebido de substâncias corrosivas me obrigaram a passar 1h excomungando a surdez como eu não fazia há anos.

Que coisa. Implante coclear e exercícios físicos (inclua sexo na lista e se irrite ainda mais) não dão match. Quem disser o contrário ou está mentindo, ou tira os ICs e fica sem ouvir na hora do vamosver, seja ele qual for.

Vezenquando, eu surto. E vocês?

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About Author

Paula Pfeifer é uma surda que ouve com dois implantes cocleares. Ela é autora dos livros Crônicas da Surdez, Novas Crônicas da Surdez e Saia do Armário da Surdez e lidera a maior comunidade digital do Brasil de pessoas com perda auditiva que são usuárias de próteses auditivas.

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