Meu nome é Alessandra e sou mãe de três surdos que ouvem. A surdez surgiu na nossa família de forma inesperada e, por isso, quero compartilhar a nossa história com vocês.
Eu me casei cedo, com 18 anos, e nosso maior sonho era ter uma grande família. No segundo ano de casamento dei à luz a Isabella. Todos os exames feitos pelo pediatra estavam bons, inclusive o Teste da Orelhinha.
Três anos e meio depois tive a Beatriz, outro pinguinho de gente. Fomos para casa e todos os exames dela estavam ok também. Mais três anos e meio se passaram e nasceu Miguel para completar nossa família.
A desconfiança da surdez
Me lembro bem que a Isabella era a primeira a escutar a campainha e correr para atender a porta. Ela estava sempre cantando e brincando, e desenvolvia-se como qualquer criança da idade dela.
Porém, por volta dos 4 anos, de um dia para o outro, literalmente, Isabella parou de escutar.
Chamávamos e ela não respondia, assistia à TV no último volume. Isso logo nos acendeu um alerta. Marcamos consulta com um otorrino de imediato. Ele disse que era só um catarro e logo melhoraria, mas estava enganado.
O diagnóstico da surdez
Alguns otorrinos diferentes, muitas audiometrias e idas à fonoaudióloga depois, veio o diagnóstico da surdez. Meu mundo caiu: a sensação que tive era de que um buraco havia se aberto na minha frente.
Apanhamos um pouco para descobrir os caminhos para conseguir os aparelhos auditivos pelo SUS pois não tínhamos os R$8.000 pedidos por uma clínica particular.
Levamos ao todo uns 3 meses, entre cadastro, médicos, exames, até conseguir os AASI. Na época ela até podia escolher a cor, escolheu roxo. Ela se adaptou super bem.
Mais um caso de surdez na família
Por volta dos 4 anos da Beatriz, o inacreditável aconteceu: ela também perdeu a audição.
Mais uma vez senti aquele buraco se abrir logo à minha frente, não não conseguíamos acreditar. Começava novamente nossa jornada de médicos, exames, audiometrias e fila do SUS.
Na época demorou 1 mês apenas para conseguir os aparelhos auditivos pelo SUS. Infelizmente não deu para escolher a cor, mas Beatriz estava feliz por se parecer com a irmã mais velha.
O terceiro filho surdo
Adivinhem o que aconteceu com o Miguel por volta dos 4 anos? Bingo! Parou de ouvir também.
Mais um corre-corre com médicos e exames, porém, desta vez já sabíamos qual direção seguir.
As fases do luto pela surdez
Assim como o luto, passamos por todas as fases: negação e isolamento, raiva, barganha, depressão e por fim, aceitação.
Todas as perdas foram difíceis para nós. Vivemos um mix de sentimentos, mas, como pais, não podíamos entregar os pontos ou nos dar por vencidos.
Mãe de surdos que ouvem
A adaptação do Miguel foi muito difícil, o trabalho que a Isabella e a Beatriz não deram, ele deu. Isso nos mostra como cada ser humano é único.
Por mais de 10 anos corri para todos os lados possíveis para ajudar meus filhos. Fiz o possível e o impossível para dar qualidade de vida a eles e acabei esquecendo de mim.
Na minha segunda gestação percebi que estava com zumbido. Passei no otorrino, ele me receitou medicamento (uma vitamina), não adiantou e acabei deixando de lado. Aprendi a conviver com meu zumbido, afinal, estava tão ocupada com as crianças.
Anos depois fiz uma audiometria e para minha surpresa, eu também tenho perda auditiva.
Uma família de surdos que ouvem
Nós quatro temos perda auditiva bilateral, neurossensorial, de grau moderado/severo. Eu ainda estou na batalha para conseguir meus aparelhos auditivos pelo SUS e vou até o fim.
Hoje em dia, ajudamos aqueles que nos procuram pedindo orientações, tiramos dúvidas e ficamos felizes em ajudar essas pessoas a percorrer esse caminho tão difícil que é aceitar e conseguir os aparelhos auditivos. Mas essa estrada, se sinalizada, fica bem mais fácil.
Sou grata ao marido que Deus me deu, que é um parceirão nessa luta toda e aos três filhos que temos, nossa grande família é linda e feliz!
Crônicas da Surdez + Surdos Que Ouvem
Paula Pfeifer e seu Blog Crônicas da Surdez fazem parte de nossa história. Ela, sua assessoria, cada membro do blog, todos vocês nos ajudaram a levantar quando não tínhamos mais forças. Cada história contada, cada post informativo, nos ajudaram a ser o que somos hoje e somos eternamente gratos por tudo!
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